Apesar da recente queda do dólar e do alívio nos preços do petróleo Brent na sexta-feira (5), os preços dos combustíveis da Petrobras no mercado interno continuam desconectados da paridade de importação, segundo analistas ouvidos pelo Valor. A estatal não altera os preços da gasolina e do diesel desde o final de 2023.
Nos cálculos da StoneX, a gasolina da Petrobras está 19,8%, ou R$ 0,56 por litro, abaixo do preço de paridade de importação (PPI), e o diesel está 10,5%, ou R$ 0,37 por litro. “Considerando estritamente os números de defasagem, é bastante razoável esperar um aumento de preços por parte da empresa”, afirma o analista da consultoria Thiago Vetter.
“No início de julho, os preços do complexo energético estão em alta. Contratos de diesel e gasolina na Nymex [bolsa de commodities de Nova York] têm aumentos de 7,1% e 5,5% respectivamente. Isto, somado a uma taxa de câmbio que tem registado aumentos contínuos nos meses de junho e julho, tem um impacto muito substancial nos preços de paridade de importação de combustíveis”, disse Vetter.
Na sexta-feira (5), o dólar no mercado à vista fechou em queda de 0,46%, cotado a R$ 5,46. Depois de muita volatilidade, a moeda americana acumulou queda de 2,27% na semana passada. Do início de junho até o dia 5, a taxa de câmbio acumulou, porém, alta de 4,87%. O Brent caiu 1,01% na sexta-feira, para US$ 86,54. Mas desde o início de junho houve um aumento acumulado de 5,67%. A taxa de câmbio e o barril de petróleo são os fatores que mais influenciam a formação dos preços dos combustíveis.
É bastante razoável esperar um movimento ascendente nos preços da empresa”
— Thiago Vetter
Para a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o rombo da Petrobras ainda pode aumentar caso a alta dos preços do petróleo continue. “Os preços da Petrobras estão congelados em 2024, sem reajuste, apesar da alta volatilidade dos preços e das taxas de câmbio”, disse Sergio Araújo, presidente da Abicom. Nos cálculos da associação, a gasolina da Petrobras está 18% abaixo do PPI, ou R$ 0,61 por litro, e o diesel, 15%, ou R$ 0,62.
No dia 1º de julho, a Petrobras anunciou aumento de 3,2% no querosene de aviação (QAV), ou R$ 0,12 por litro. Para Araújo, isso seria um indício de que a gasolina e o diesel também precisam de aumentos. A estatal costuma anunciar alterações no QAV no primeiro dia de cada mês. Para o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a gasolina da Petrobras tem defasagem de 26,05%, ou R$ 0,995 por litro, em relação à referência internacional. Nos cálculos do CBIE, o diesel tem defasagem de 11,90%, ou R$ 0,475 por litro. Nos cálculos do Itaú BBA, a gasolina da Petrobras está 18% abaixo do PPI, e o diesel, 17%.
A Petrobras informou que desde maio de 2023 adota uma estratégia comercial que incorpora as melhores condições de produção e logística para definir os preços de venda de gasolina e diesel às distribuidoras: “Isso nos permite praticar preços competitivos em relação a outras alternativas de abastecimento e mitigar a volatilidade do mercado internacional , proporcionando períodos de estabilidade de preços aos nossos clientes. Fazemos isso em equilíbrio com os mercados nacionais e internacionais e operando nossos ativos de forma segura, otimizada e rentável. Esta prática é especialmente importante em tempos de elevada volatilidade, como o que vivemos agora. Dessa forma, a empresa continua observando os fundamentos do mercado e, por questões competitivas, não consegue antecipar suas decisões”, afirmou a empresa.
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