Na minha classificação pessoal de importância, a física fica atrás apenas da matemática e da química e, portanto, seria natural que eu me interessasse pela leitura de livros sobre a história da física. Na minha biblioteca pessoal há um que se destaca, é “El Libro de la Physics” (1), no qual o autor apresenta as duzentas e cinquenta maiores conquistas da história desta ciência.
Dessas conquistas, usarei uma de 2008, quando pesquisadores da Rice University, no Texas, e do Rensselaer Polytechnic Institute, em Nova York, estudaram e construíram uma espécie de invólucro feito de nanotubos de carbono, que refletiria apenas 0,045% de todo o luz branca. . Em outras palavras, a cor preta refletida pela camada seria a mais negra descoberta na história (2).
Tendo este conceito como pano de fundo, questiono o quanto uma crise – originada por um “cisne negro (3)” – pode, de forma análoga ao conceito acima, absorver luz, ou seja, dos nossos recursos económicos e dos nossos recursos físicos e mentais. Em suma, questiono até que ponto um cisne pode ser negro.
Vivemos tempos complicados. Todos os dias somos confrontados com novidades que estão longe de ser agradáveis em termos de comportamento, cultura, clima e condições económicas. Há quatro anos fomos pegos (todos nós!) de surpresa por um vírus que fez com que todos os PROs (profissionais, projetos e projeções) de qualquer área simplesmente se desmanchassem. Sem hesitar, podemos dizer que, a todos os níveis, os agentes económicos ficaram surpreendidos e careceram de um poder de reacção adequado no curto prazo. Pergunto-me quão estupefatos ainda podemos estar com os acontecimentos que estão por vir, como novas doenças, alterações climáticas, guerras, etc.
No que diz respeito à minha ignorância sobre assuntos como doenças infecciosas, clima e relações internacionais, de tudo o que li, não há até agora nenhuma certeza na minha consciência sobre o nosso futuro e tudo em que consigo pensar agora é na palavra volatilidade.
Com isso quero dizer que sou pessimista? Não! Prefiro dizer que sou realista, realista no sentido de ver que deveríamos buscar o conceito de “volta ao básico”. Em outras palavrasé hora e hora de procurar aquela velha receita de bolo de finanças pessoais, que é, de certa forma, válida também para empresas e principalmente no Brasil, para micro e pequenos empreendedores.
A receita a que me refiro, apesar de simples, é desconhecida por grande parte da população. Temos um país com uma taxa de poupança em torno de 15%, que é praticamente metade da de outros países emergentes, como a Rússia e a Índia, e um terço da taxa da China. Com isso, fica latente a nossa incapacidade, seja do governo, das empresas ou das famílias, de conseguir: 1) realizar um planejamento financeiro eficiente; 2) equilibrar as contas, tendo equalizado minimamente os fluxos de caixa positivos e negativos e, portanto; 3) conseguir constituir uma reserva de emergência para depois; 4) ter capacidade de investimento. É importante dizer que embora os ingredientes desta receita sejam conhecidos, nós, como homo sapiens e não como homo economicus, insistimos em não executá-la.
Meu realismo é imposto pela incerteza. Como se costuma dizer, “canja de galinha nunca fez mal a ninguém”. O problema é que para saborear a canja primeiro preciso saber a que horas quero comê-la, planejar o preparo, comprar os insumos e, para isso, preciso fazer uma lista, ir ao mercado e ter dinheiro (ou crédito) para pagar. De qualquer forma, preciso planejar. Mas, afinal, de que adianta planejar se tudo é tão incerto e as coisas podem não – e provavelmente não irão – correr como o esperado? Agora, como sempre digo, planejar é útil exatamente quando não dá certo. É mais fácil ter um plano B.
O grau de diferença entre o plano B e o plano A depende de quão branco ou preto é o “cisne” do vírus. Como eu disse, não sabemos – e quem diz que sabe com certeza está, na minha humilde opinião, assumindo um risco proporcional ao tom de cinza em que acabamos.
Há mais de 20 anos escrevi um e-mail dizendo a alguém que nada no mundo ou na vida é feito apenas de preto ou branco, mas sim de tons de cinza. As circunstâncias atuais corroboram este dogma. Tenhamos consciência de que teremos um futuro diferente do presente, um futuro no qual tenho fé que o mundo será melhor, que seremos melhores, não como cientistas, profissionais, famílias, etc., mas simplesmente como seres humanos.
Sem dúvida voltaremos a ver a luz, mas saibamos que, ao nos depararmos com a luz, teremos que aprender a lidar com o mundo a ser então refletido, um mundo em que saibamos lidar não só com comprimentos de onda acima de 1000 ou abaixo de 200 nanômetros, mas na infinidade de tons na mistura do que é branco ou preto e, para isso, precisamos ter planos, não A ou B, mas talvez para todo o alfabeto.
(1) De autoria de Clifford Pickover, Ed. Librero, 2012.
(2) Para quem não se lembra das aulas do ensino médio, todo material produzido por seres humanos reflete pelo menos uma fração da luz branca, e isso significa que mesmo os materiais pretos que vemos não são perfeitamente pretos.
(3) expressão utilizada para se referir a acontecimentos completamente imprevisíveis, mas que têm elevado impacto nos mercados.
Hugo Daniel Azevêdo é consultor de investimentos e sócio da MFS Capital
e-mail: hd@mfscapital.com.br
juros emprestimo bancario
simular emprestimo pessoal itau
emprestimo aposentado itau
quem recebe bpc pode fazer financiamento
empréstimo caixa simulador
quanto tempo demora para cair empréstimo fgts banco pan
empréstimo consignado do banco do brasil