A decisão de hoje é o último episódio de um conflito entre o STF e o bilionário Elon Musk.
Os confrontos começaram pouco depois de 8 de janeiro de 2023, quando uma multidão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiu o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF em protesto contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Depois disso, o STF intensificou as investigações sobre a disseminação de conteúdos falsos e o possível financiamento de grupos que ameaçam a democracia brasileira.
O ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações que investigam a disseminação de notícias falsas, milícias digitais e atos golpistas, determinou o bloqueio de diversos perfis em redes sociais gerenciadas por usuários acusados de atentar contra a democracia brasileira e o processo eleitoral.
As ordens do ministro foram criticadas por apoiadores de Bolsonaro e outros ativistas de direita, que alegaram que as medidas violavam o direito à liberdade de expressão.
Por outro lado, Moraes contou com o apoio dos demais ministros do STF, que enfatizaram que a liberdade de expressão não deve ser confundida com permissão para desrespeitar leis ou promover ideais antidemocráticos.
Como dono da rede social X, Elon Musk, que tem ligações com grupos de direita em todo o mundo, acusou o ministro brasileiro de censura. A plataforma não retirou os perfis, desrespeitando as decisões do STF.
Confira os três principais motivos usados por Moraes para justificar a suspensão do X no Brasil.
Incentivo a discursos extremistas
O primeiro motivo foi Musk e o suposto incentivo da plataforma a discursos extremistas.
O Ministro afirmou que a plataforma estava a ser utilizada para “incentivar a publicação de discursos extremistas, odiosos e antidemocráticos”. […] com perigo real, inclusive, de influenciar negativamente o eleitorado em 2024”.
Esta prática, segundo a decisão, poderia desequilibrar o resultado eleitoral através de campanhas de desinformação, favorecendo grupos populistas extremistas e comprometendo a integridade do processo democrático.
Em trecho de sua decisão, Moraes afirma que mesmo após X ter sido intimado durante as investigações, Elon Musk continuou a promover discursos antidemocráticos e de ódio contra a Corte. Segundo o juiz, Musk confunde liberdade de expressão com liberdade de agressão.
“Mais uma vez, Elon Musk confunde liberdade de expressão com liberdade de agressão, confunde deliberadamente a censura com uma proibição constitucional ao discurso de ódio e à incitação a atos antidemocráticos”, refere o despacho assinado pelo juiz.
O segundo motivo da decisão foi a suposta prática de obstrução à justiça levada a cabo pela plataforma e por Musk. Obstrução à justiça ocorre quando alguém ou empresa age deliberadamente para dificultar investigações ou o cumprimento de decisões judiciais.
Segundo a decisão assinada por Moraes, as investigações teriam revelado que a rede “X” estava utilizando “mecanismos ilegais” para obstruir as investigações realizadas pela Justiça brasileira contra pessoas investigadas no inquérito que apura a existência de milícias digitais.
Musk e “X” supostamente obstruíram as investigações ao se recusarem a bloquear perfis de pessoas sob investigação.
“A flagrante conduta de obstrução à Justiça brasileira, a incitação ao crime, a ameaça pública de desobediência às ordens judiciais e a futura falta de cooperação da plataforma são fatos que desrespeitam a soberania do Brasil e reforçam a ligação da exploração criminosa intencional das redes sociais “, aponta a decisão.
Falta de representante legal
O terceiro motivo da decisão foi a falta de representante legal da empresa “X” no Brasil, algo obrigatório pelo Código Civil Brasileiro.
A legislação determina que qualquer empresa estrangeira que atue no Brasil deverá manter representantes legais no país.
Segundo a decisão, a falta de representante legal adequado dificultou a aplicação das decisões do STF.
Moraes afirma ainda que a decisão de não ter representantes legais no país pode ter feito parte da estratégia de Musk para evitar que “X” fosse responsabilizado ou tivesse que cumprir ordens do judiciário brasileiro.
“A conduta ilegal foi reiterada na presente investigação, deixando claro que o X Brasil descumpriu diversas ordens judiciais, bem como a intenção intencional de se eximir da responsabilidade pelo cumprimento das ordens judiciais expedidas, com o desaparecimento de seus representantes .”
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