As bizarras receitas criadas por IA e adotadas por chefs pelo mundo | Inteligência Artificial

“Existem tantas culturas aqui”, diz Arutyunyan.

“Índios, paquistaneses, filipinos, árabes, europeus.”

E a resposta do ChatGPT foi um sabor de pizza composto por shawarma de frango (árabe), queijo paneer grelhado (indiano), ervas Za’atar (tempero do Oriente Médio) e molho de tahine.

Os clientes da Dodo Pizza aparentemente não se cansam do novo sabor.

“Como chef, eu nunca misturaria esses ingredientes em uma pizza, mas mesmo assim a mistura de sabores ficou surpreendentemente boa”, diz Arutyunyan.

No entanto, outras pizzas criadas por inteligência artificial não entraram no cardápio – por exemplo, morango e macarrão, e mirtilo e cereal matinal.

Nos EUA, Venecia Willis conduziu um experimento semelhante de inteligência artificial no Velvet Taco em Dallas, onde é diretora de culinária.

Ela estava “muito curiosa” sobre a tecnologia, então deixou o ChatGPT livre para criar um de seus tacos da semana.

Nos prompts (comandos) enviados à inteligência artificial, Willis dizia: “use, tipo, oito ingredientes, e eu só poderia selecionar uma tortilha e uma proteína”.

Os resultados de algumas receitas não pareceram nada agradáveis.

“Houve algumas combinações estranhas e pensei: não tenho certeza se curry vermelho, tofu de coco e abacaxi ficarão deliciosos juntos”, diz Willis.

Mas ela fez três das receitas que pareciam mais promissoras – e finalmente escolheu um taco de camarão e bife para ser vendido ao público. 22 mil foram vendidos em uma semana.

“Acho que a IA é uma ótima ferramenta para usar quando você está com bloqueio de escritor, para fazer seu cérebro funcionar novamente – ‘Essa combinação pode realmente funcionar, vamos tentar.’ A IA pode sugerir algo que talvez eu não tivesse pensado.”

Mas Willis acrescenta que ela “não se deixaria levar completamente pela inteligência artificial”.

“Tem que haver um elemento humano para validar as receitas.”

Mas nem todo mundo no mundo alimentar gosta da ideia de inteligência artificial. O criador de coquetéis Julian de Feral, com sede em Londres, diz que evita essa tecnologia porque “parece muito contra-intuitivo”, e suas escolhas carecem de bom senso.

Os chatbots de IA “não são mágicos”, alerta Emily Bender, professora de linguística na Universidade de Washington, em Seattle, EUA. Ela lembra que aprenderam com o que leram online.

“Se você conseguir fazer com que o ChatGPT gere algo que pareça receita, então há receitas na internet.”

Ela acrescenta que a inteligência artificial poderia ter tirado a receita do blog de culinária de alguém, diminuindo assim o número de leitores e a capacidade de ganhar a vida com assinaturas ou receitas de publicidade.

Mas Bender admite que, no futuro, uma IA mais sofisticada poderá ser útil na criação de receitas.

Ela diz que a tecnologia poderia ser solicitada a “categorizar os ingredientes como doces ou azedos, e assim por diante”, encontrar aqueles que a internet diz que deveriam ser saborosos juntos e, então, criar infinitas receitas detalhadas.

“No entanto, é necessário ter uma questão de pesquisa bem definida [para fazer à IA] para obter esse tipo de benefício”, acrescenta.

Ainda assim, a cadeia de supermercados britânica Waitrose está a utilizar inteligência artificial para identificar tendências alimentares crescentes nas redes sociais.

Atualmente, eles incluem: “smash burgers” – hambúrgueres crocantes feitos “esmagando” a carne moída em uma frigideira superaquecida – e “croookies” – um croissant recheado com massa de biscoito e gotas de chocolate.

“Temos visto hambúrgueres esmagadores sendo tendência em todas as redes sociais”, explica Lizzie Haywood, gerente de inovação da Waitrose.

“Agora, a abertura de três ou quatro restaurantes dedicados a hambúrgueres no Reino Unido coincidiu com o lançamento de nossos hambúrgueres.”

Quanto aos bandidos, ela diz que a inteligência artificial percebeu que as menções a eles “saltaram de 80 para 90% em relação ao ano passado nas redes sociais”.

“E conseguimos lançá-los em lojas de teste em três meses.”

Em Singapura, o expatriado italiano Stefano Cantù criou um aplicativo com tecnologia de IA que pode sugerir receitas em resposta aos ingredientes que você relata ter na geladeira e nos armários da cozinha. Em uma alusão ao aplicativo desenvolvido pelo ChatGPT, ele o chamou de “ChefGPT”.

“Sou italiano, então é claro que cozinho”, diz Cantù, que trabalha numa empresa de software. Ele diz que teve a ideia “um fim de semana”, depois de pedir inspiração para receitas ao ChatGPT.

O aplicativo também conta com filtros para permitir que o usuário especifique os utensílios que possui na cozinha — ou se está com pressa ou não é um bom cozinheiro. A inteligência artificial cria então uma receita e uma foto do prato.

Cantù diz que atingiu 30.000 usuários uma semana e meia após o lançamento no ano passado. Mas recebeu “uma conta muito grande da OpenAI”, a empresa por trás do ChatGPT.

Ele continua pagando à OpenAI uma taxa regular pelo uso da tecnologia — e explica que esse é um procedimento padrão quando uma startup como a dele constrói seu aplicativo com base na tecnologia de outra empresa.

Cantù diz que continua tentando encontrar “o equilíbrio certo entre publicidade e assinaturas, e o nível certo de uso para oferecer aos usuários gratuitos”. E como pode “monetizar usuários gratuitos sem vender seus dados”.

De volta a Dubai, Spartak Arutyunyan, da Dodo Pizza, diz que a inteligência artificial deveria ser vista mais como algo divertido de usar, em vez de algo em que você basearia todo o seu menu.

No entanto, a Dodo Pizza agora permite que os clientes em Dubai que façam pedidos por meio do aplicativo experimentem inteligência artificial para criar sabores de pizza incomuns. E a empresa afirma que pretende estender esse recurso para suas demais filiais ao redor do mundo.