O crescimento do mercado de apostas através de plataformas digitais, conhecidas como apostas, tem sido notícia frequente na imprensa. Pesquisa da empresa de mídia digital Comscore aponta um salto de 281% no número de apostadores, usuários únicos, entre 2019 e 2023, o que colocaria o Brasil em terceiro lugar no mundo em consumo de jogos de azar.
A dimensão do vício, como sempre, é a mais preocupante quando se trata de jogos. Um exemplo recente foi a história de uma enfermeira de 23 anos, do interior de São Paulo, que fugiu de casa por acumular dívidas, e provavelmente para evitar vergonha.
Na mesma matéria publicada no jornal Estado de São Paulo, uma família, cujo hábito de jogar é compartilhado por todos, declara que tem enfrentado ganhos, perdas e até casos de fraudes e, mesmo assim, afirma que continuará jogando. Afirmam que apostam pequenas quantias e são “jogadores conscientes”. Aqui está um parêntese: nunca vi viciados em álcool admitirem que se entregam com frequência.
Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) com apostadores traz um panorama preocupante, 63% deles tiveram seus rendimentos comprometidos pelas apostas. Os resultados indicam que as apostas têm comprometido o consumo, por exemplo: 23% deixaram de comprar roupas, 19% deixaram de fazer compras em supermercados, 14% abriram mão de produtos de higiene e beleza e 11% sacrificaram cuidados de saúde e medicamentos.
O vício em apostas é um transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o assunto ganha mais visibilidade com a velocidade com que se espalha pela internet e pelas redes sociais.
Em sua sétima edição, o Raio X do Investidor, produzido pela Anbima, apresenta foco nos consumidores apostados no contexto de investimentos.
Segundo o Investor X-Ray, 22 milhões de brasileiros fizeram pelo menos uma aposta em apostas em 2023, o que representa cerca de 14% da população. Para se ter uma ideia desse número, quando comparado aos investimentos, há 3,5 mais apostadores que investidores em fundos de investimento e 7 vezes mais que em ações.
Entre os principais motivos apontados para apostar, destacam-se os itens “Chance de ganhar dinheiro rápido em momentos de necessidade” e “Chance de ganhar muito dinheiro”, 40% e 39%, respectivamente, típicos em jogos de loteria . A disparidade entre as pontuações obtidas nas classes D/E (44%) e A (31%) indica que o jogo é muitas vezes visto como a “única saída”. Em nenhum outro item sobre motivação foi encontrada uma lacuna tão elevada.
Uma constatação interessante da pesquisa é que 22% dos apostadores consideram isso uma forma de investimento financeiro. Ou seja, dois em cada dez apostadores assumem que estão investindo na hora de apostar, o que representa algo em torno de 2,8% da população, percentual que elevaria as apostas a uma alternativa de investimento entre títulos privados (5%) e Tesouro Direto (dois %).
Fazendo aqui uma distinção clara entre o vício, que é uma doença, e quem joga como forma de tentar resolver as suas emergências e urgências financeiras, não critico este último. Todo mundo sabe onde o calo aperta, nunca estive nessa situação e é sempre muito mais fácil falar do que fazer.
Por outro lado, é preocupante imaginar que hoje há mais apostadores no Brasil que pensam que estão investindo do que investidores, na verdade, em ações ou no Tesouro Direto. A enorme lacuna na educação financeira que temos no país é evidente.
No entanto, começo a imaginar que podemos estar a viver com outra situação absurda, nomeadamente, quantas pessoas estão a investir os seus recursos em ações, fundos de cobertura, criptomoedas e outros ativos de risco na esperança de obter ganhos elevados e rápidos pensando que estão investir?
Olhar o investimento apenas em termos de retorno é um erro. Na perspectiva do investidor, o investimento deve ser visto como uma jornada para construir activos que permitam uma vida tranquila e digna, de acordo com um padrão de vida projectado.
É importante preservar o dinheiro da erosão da inflação, obter um retorno maior é bom para o crescimento do capital, mas retornos muito maiores podem resultar em perdas que podem comprometer a própria construção daquele ativo, necessário para garantir a nossa tranquilidade.
O investimento é como uma balança, onde existe uma escala de retorno e de risco. O problema é que a gente só vê a placa de retorno e não percebe que quando ela está cheia, muito pesada, a placa de risco fica lá em cima, muito alta.
Os investimentos não podem ser vistos como transações de compra de produtos financeiros, ou pior, como apostas. Deve ser orientado para objetivos e visto de forma abrangente, desde a casa onde moramos, passando pela educação e, claro, pelos ativos financeiros que garantirão a renda futura e a tranquilidade para enfrentar os infortúnios de hoje.
Nada contra apostar ou investir em ativos com supostas expectativas de ganhos elevados e de curto prazo, mas se falamos de investimentos é preciso incluir o risco de perda de capital e objetivos na conversa.
Hudson Bessa Economista e sócio da Escola de Negócios HB
hudson@hbescoladenegocios.com
www.hbescoladenegocios.com
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