Depois de um primeiro semestre fraco, o mercado de ensino a distância deve, neste vestibular de meio de ano, apresentar mais um ciclo negativo, com as faculdades tendo que escolher entre conceder descontos nas mensalidades para matricular novos alunos ou manter preços e perder volume, repetindo o que aconteceu nos primeiros seis meses (ver arte).
“O mercado está ruim. O ciclo de captura [de calouros] As coisas não vão bem, tanto no ensino a distância como no presencial. Esperamos um pouco pior no EAD (ensino a distância). As pessoas estão sem dinheiro”, disse Eduardo Parente, presidente da Yduqs, dona da Estácio.
Um grupo de 19 faculdades de pequeno e médio porte de São Paulo, Paraná, Ceará, Minas Gerais e Paraíba deu descontos e viu sua nova base de alunos crescer 11% em EAD e semipresencial, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Educação Apoiadores Superior (Abmes) e Educa Insights. “O aluno não tem bolso. Cresceram as faculdades que optaram por oferecer descontos, bolsas e condições mais agressivas”, disse Daniel Infante, sócio da Educa Insights.
Esperamos um ciclo de matrículas ruim. As pessoas estão sem dinheiro”
—Eduardo Parente
A modalidade de ensino com aulas 100% online teve um boom após a pandemia, e tem sido o esteio do setor de ensino superior – junto com a medicina – desde a crise do Fies, programa de financiamento estudantil do governo. Em 2022, dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC), já havia 4,1 milhões de alunos matriculados em cursos a distância e 3,2 milhões em cursos presenciais, no mercado privado.
Chama a atenção a queda no volume de novos alunos e no ticket médio, pois o mercado de ensino superior acompanha historicamente os indicadores de emprego e renda, que melhoraram no primeiro semestre.
No primeiro semestre, a taxa de emprego formal cresceu 26%, totalizando 1,3 milhão de novos empregos. Desses empregos, cerca de 75% eram ocupados por pessoas cadastradas no CadÚnico, ou seja, pessoas de baixa renda – a mesma da maioria dos estudantes que procuram cursos a distância -, segundo dados do Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged). ), do Ministério do Trabalho.
O varejo restrito (bens essenciais) acumulou alta de 5,2% nos primeiros seis meses, na comparação anual, mas entre junho e maio de 2024, houve queda de 1%, segundo o IBGE.
Apesar da melhoria destes indicadores, a inflação tem tido um impacto maior na população mais pobre, o que pode reflectir-se na queda da procura. Mas essa não é a única razão. Existe uma combinação de factores macroeconómicos e sectoriais.
Vinícius Figueiredo, analista do Itaú BBA, destaca que uma possibilidade é que o mercado de ensino a distância com cursos 100% online tenha atingido seu limite, após três anos de forte crescimento acelerado pela pandemia, quando os alunos migraram para o modelo remoto. “Não é possível crescer no mesmo nível dos períodos anteriores. Talvez este mercado tenha atingido o seu tamanho limite”, disse Figueiredo. “Mas também é preocupante porque, sem novos alunos, o faturamento das empresas do setor não cresce”, acrescentou o analista do Itaú BBA.
Desde o ano passado, houve uma expansão nos cursos híbridos (aqueles que misturam conteúdos online e presenciais). E, agora em 2024, as faculdades voltaram a registrar crescimento, ainda que pequeno, na graduação presencial, após anos de declínio. “No entanto, são movimentos que por si só não explicam a queda da EAD 100%”, destacou o analista do Itaú BBA.
Outra possibilidade que começa a ser discutida no setor é a migração do dinheiro das mensalidades para as apostas online. Segundo pesquisa da Strategy&, da PWC, 54% dos apostadores têm entre 18 e 30 anos e 35% têm entre 31 e 40 anos. Além disso, 85% dos apostadores são das classes C, D e E – públicos muito semelhantes aos dos cursos EAD, cuja mensalidade média é de R$ 250.
Não há dados sobre o impacto das apostas online no mercado educacional, mas essas ainda são percepções de gestores universitários que buscam entender os motivos da queda na procura de matrículas neste ano.
Nesse cenário, Yduqs acredita que não vale a pena investir maiores cifras de marketing com políticas de descontos para atrair estudantes neste ano. A empresa desacelerou o investimento em publicidade no segundo semestre e só vai retomá-lo em 2025. No primeiro semestre, a empresa promoveu políticas de descontos, mas o retorno não ficou no nível esperado.
Outras faculdades, principalmente as menores, aceleraram os descontos para atrair mais alunos ao final do processo seletivo. Nos cursos a distância, os alunos podem se matricular com atraso porque o currículo é modular. Roberto Valério, presidente da Cogna, afirma ter percebido um ambiente competitivo mais acirrado.
A grande desvantagem de atrair uma massa maior de calouros atraídos pelos descontos é que a maioria desiste quando começa a ser cobrada a mensalidade integral, gerando aumento nas taxas de inadimplência e de provisão.
A mensalidade média dos cursos EAD existentes no mercado, no primeiro semestre, foi de R$ 210, uma redução de 14% em relação a 2023, segundo pesquisa da Hoper, consultoria especializada em educação.
O desempenho deste ano ocorre paralelamente a uma regulamentação mais rígida em torno da EAD. Em junho, o ministro do MEC, Camilo Santana, suspendeu a abertura de novos cursos, vagas e polos EAD até março de 2025, alegando baixa qualidade. O setor, por sua vez, afirma que, dos 5.500 municípios do Brasil, apenas 600 têm cursos presenciais e 2.500 têm ambos, e que uma redução na oferta deixará muitas cidades sem opção de ensino superior.
As licenciaturas e licenciaturas online passam a ser obrigadas a ter 50% do conteúdo ministrado presencialmente.
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