O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, tem cidadania espanhola e foi alvo de um mandado de busca da Interpol Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas Reprodução O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, foi preso nesta sexta-feira em Madri pela polícia espanhola. Ele foi alvo da Operação Divulgação, da Polícia Federal, e tinha mandado de prisão expedido pela Justiça brasileira desde quinta-feira. Segundo o Ministério Público Federal, o executivo acompanhou e participou de fraudes no balanço da empresa “desde o seu planejamento até a divulgação dos resultados”. Atualmente, ele presta depoimento à PF espanhola. Gutierrez e outros 14 executivos da Americanas foram alvo nesta quinta-feira de uma operação que buscava mais provas e indícios de um esquema que ocultava um rombo estimado em R$ 25 bilhões nos balanços da varejista. A investigação revelou crimes como manipulação de mercado, uso de informações privilegiadas, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenados, os ex-executivos da empresa poderão pegar até 26 anos de prisão. A operação se baseou em e-mails e mensagens apreendidos pela Polícia Federal e nos depoimentos dos ex-executivos Marcelo Nunes e Flávia Carneiro, que desvendaram o modus operandi da fraude. A prisão de Gutierrez foi comunicada esta manhã à Polícia Federal. Como Gutierrez tem cidadania espanhola e está no país desde o ano passado, seu nome foi incluído na red difusão, lista de fugitivos internacionais da Interpol. Ainda não está definido se ele será enviado ao Brasil ou se ficará preso na Espanha, já que o país não extradita seus cidadãos. Além do ex-CEO, também é considerada foragida a ex-presidente da B2W, Anna Saicali, que viajou para Portugal no dia 15 e tem mandado de prisão expedido. Ela não tem cidadania portuguesa e está no país com visto de trabalho, segundo fontes. Saicali estava na Americanas desde 2013, onde atuou como diretora de 2013 a 2018, e presidiu a B2W, braço de varejo digital do grupo, entre 2018 e 2021. Também foi CEO da AME, plataforma fintech da Americanas, de 2021 a 2023. investigadores, Gutierrez tomou medidas para tentar se proteger de uma possível investigação do esquema e só recebeu versões fraudulentas do orçamento em pen drives entregues em suas mãos. As mensagens mostram que executivos da Americanas discutiam via WhatsApp e e-mail a inclusão de números falsos nos balanços da empresa para produzir lucros que não existiam – e para diferenciar dados reais de inventados criaram apelidos, como mostramos na quinta-feira. O conjunto de planilhas e cálculos que sustentavam as diferentes versões do balanço patrimonial foi denominado “kits de fechamento”. Foi através deles que Gutierrez acompanhou a evolução das mudanças. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre fraudes contábeis na Americanas também revelaram que as informações sobre a mudança no comando da empresa provocaram uma pressa de Gutierrez e outros 10 executivos para se desfazerem das ações da empresa antes que o esquema fosse descoberto. de inserir números falsos para disfarçar resultados financeiros. Conforme noticiou O GLOBO, entre agosto de 2022 e janeiro de 2023, onze executivos venderam R$ 258 milhões em ações da Americanas, o que configura crime de uso de informação privilegiada (“insider trading”), segundo o Ministério Público Federal (MPF). Só Gutierrez vendeu R$ 158,5 milhões em ações desde o momento em que soube que seria substituído no cargo de CEO, em julho de 2022, até janeiro de 2023, quando a empresa revelou ao mercado a descoberta do rombo contábil de R$ 20 bilhões. A pena prevista é de 1 a 5 anos de reclusão, além de multa de até 3 vezes o valor do lucro obtido na transação criminosa. A pena também pode ser aumentada em ⅓ se quem cometeu o crime utilizou “informação relevante de que tem conhecimento e que deve ser mantida em sigilo”. Em nota divulgada após a operação da PF de quinta-feira, a defesa do ex-CEO Miguel Gutierrez informou que ele não teve acesso aos arquivos e “portanto não tem o que comentar”. Reitera “que nunca participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que tem colaborado com as autoridades, prestando os esclarecimentos necessários nos fóruns competentes”.
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