Na visão da ALR, após o sucesso do Real na estabilização da inflação crónica, o país foi sequestrado por uma visão limitada, que teria feito sentido nos primeiros anos do plano, mas que hoje constitui uma “camisa de força” para o desenvolvimento do país. Em suas palavras, “enquanto a austeridade exige corte de despesas e aumento da carga tributária para viabilizar o superávit primário, a política monetária é livre para aumentar as taxas de juros e impor um alto custo fiscal ao país”.
Ainda segundo o diagnóstico de Lara Resende, se por um lado os conservadores de mercado se apegam à necessidade de gerar superávits primários e manter taxas de juros elevadas para controlar a inflação, por outro lado, a esquerda está perdida numa “receita anacrónica de bem-estar e na sua incapacidade de enfrentar os velhos vícios do patrimonialismo e do corporativismo”.
À direita e à esquerda, portanto, o país seria sequestrado por uma falta de imaginação que nos mantém atolados numa combinação de mediocridade, baixo crescimento e desigualdade de rendimentos.
Para escapar à armadilha que nos aprisiona quer ao fiscalismo quer ao patrimonialismo, Lara Resende propõe um roteiro de quatro medidas para “escapar à ditadura da falta de imaginação e recolocar o país no caminho do verdadeiro desenvolvimento”.
De acordo com a proposta da ALR, o primeiro passo seria reformar a governação do Estado para controlar o patrimonialismo e o corporativismo que capturam o orçamento público. Então, seria necessário “regulação inteligente” da economiacom um Estado forte que garanta instituições que possibilitem a produtividade.
A terceira dimensão do programa de Lara Resende seria a adoção de uma plano plurianual de investimento público e privado, com objetivos de longo prazo e monitoramento permanente de custos e retornos. Finalmente, o As políticas monetárias e fiscais devem ser coordenadas através de um pequeno conselho de especialistas com conhecimentos reconhecidos.
A discussão proposta por André Lara Resende é louvável e não só reconheço o mérito dos seus propósitos como compartilho cada um dos pilares do seu plano. Nosso desafio, como sociedade, é definir como colocá-los de pé novamente.
Buscando ampliar esta discussão essencial para o presente e o futuro do país, começarei pelo final.
O desejo de maior coordenação entre as políticas fiscal e monetária está presente em todas as análises do cenário macroeconômico do país, desde os boletins da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda até as atas do Copom.
Ter um conselho de notáveis para dar orientações que coloquem os dois principais instrumentos de política económica na mesma escala é uma boa ideia. Dar materialidade a esse desejo, porém, exige mais trabalho.
O primeiro passo é definir os critérios e a forma de aprovação dos integrantes deste grupo. Afinal, vivemos num país onde presidentes da República conseguem nomear ministros para o Supremo com base em atributos como ser terrivelmente evangélico ou ter sido seu advogado pessoal, sempre com a anuência bovina do Senado Federal, que deveria avaliar com rigor as exigências de “conhecimento notório” e “reputação ilibada”, mas ele nunca o faz.
Uma vez definidos os requisitos para a escolha deste conselho de coordenação económica, importa esclarecer as suas atribuições e competências. Seu papel seria apenas consultivo ou estabeleceria também metas, prioridades, medidas a serem seguidas pelo Ministro da Fazenda e pelo Presidente do Banco Central? Suas recomendações seriam meramente indicativas ou obrigatórias? E se as suas sugestões não forem aceitas, ou se os seus objetivos não forem alcançados, quais serão as consequências para os envolvidos, a começar pelos próprios membros do conselho e também pelos responsáveis pelas políticas fiscal e monetária? São questões abertas ao debate.
Em relação à proposta de ALR de construção de um plano de investimentos públicos e privados, o Brasil tem ampla experiência no lançamento de instrumentos de planejamento de longo prazo cujo principal resultado, na maioria dos casos, costuma ser apenas motivar o lançamento de um novo plano devido ao fracasso do atual um. A começar pelo PPA, a mais fictícia das nossas peças orçamentárias, somos pródigos em traçar planos com prazos variados para cada uma das principais áreas de atuação do Estado, com resultados ruins.
O primeiro Plano Nacional de Resíduos Sólidos, aprovado pelo Congresso em 2010, estabeleceu prazo de quatro anos para eliminação dos aterros. Segundo reportagem do repórter Murilo Camarotto no Valor desta segunda, dez anos depois de expirado o prazo, e após inúmeras prorrogações (a última expirou na semana passada), a população brasileira ainda convive com três mil aterros contaminando o solo, a água e a qualidade dos vida de milhões de pessoas.
O último Plano Nacional de Educação, em vigor entre 2014 e 2024, chegou ao fim cumprindo apenas três dos 38 indicadores que compunham as suas 20 metas, segundo acompanhamento da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, organização da sociedade civil.
Não é por falta de planos nacionais que o Brasil não avança, portanto. Em termos de planeamento a longo prazo, precisamos de aprender com os nossos erros, descobrindo porque é que falhamos sempre tristemente na realização daquilo que nos propusemos a fazer.
Aqui lanço alguns desafios para os leitores refletirem; perguntas que devem ser respondidas antes de traçarmos mais um plano de investimento digno no Brasil. Como resolver o problema da quebra da continuidade das ações com mudanças de governo? Como integrar melhor as ações dos governos federal, estaduais e municipais? Entre o desejo e a ação, quais os melhores caminhos a seguir? Que técnicas de avaliação de impacto utilizaremos para definir prioridades e para onde queremos ir? Como podemos criar regras de responsabilização dos gestores responsáveis por cada ação governamental? Que instrumentos de governação são necessários para evitar a apropriação indevida de recursos e o abandono de obras no caminho? Como integrar as dimensões ambientais e sociais no planejamento e execução dos investimentos?
Igualmente desafiadora é a proposta de Lara Resende de desenhar uma “regulação eficiente” para os diversos setores da economia brasileira. A última tentativa de reforçar o papel regulador do Estado, competência prevista na nossa Constituição, foi a criação de agências reguladoras. Inicialmente pensado para ter autonomia funcional, orçamentária e técnica para regular a prestação privada de serviços públicos nas áreas de infraestrutura, o projeto das agências nunca foi totalmente implementado.
Temos vários problemas que impedem o Estado de cumprir satisfatoriamente a sua missão de regular setores como telecomunicações, energia, transportes, saneamento básico, planos de saúde e medicamentos, entre outras áreas vitais como o sistema financeiro e os mercados de valores mobiliários. Em graus variados, há muita interferência política nos órgãos reguladores, além dos interesses dos grandes grupos econômicos que capturam as suas decisões.
Se quisermos avançar para um Estado regulador eficiente, como propõe a ALR, precisamos repensar o processo de indicação para os conselhos de agências e órgãos como Cade, CVM e Banco Central e buscar mecanismos para resolver o problema das portas giratórias (em que representantes do mercado tornam-se diretores de órgãos reguladores, para depois retornarem ao mercado ainda mais valorizado), além de adotar códigos de ética para minimizar o risco de influência dos tomadores de decisão pelas empresas reguladas. Também ajudaria muito a formação de técnicos desses órgãos para desenvolver métodos sérios e eficazes de avaliação regulatória que apoiem a aprovação de regulamentos, melhorar o sistema de transparência e também desenvolver formas de dar voz e voz não apenas às empresas interessadas, mas também às aqueles que estão diretamente envolvidos. afetados por suas práticas – neste caso, os consumidores. Imagino que esses temas sejam um bom começo para a discussão sobre avanços institucionais e regulatórios.
Por último, André Lara Resende aponta aquilo que são, na minha opinião, as raízes da ineficiência que mina a competitividade da nossa economia e da desigualdade que nos assola enquanto sociedade: o corporativismo e o patrimonialismo.
Ao longo de nossa história, o Estado brasileiro especializou-se em ser uma máquina criadora e mantida de privilégios, atuando ativamente por meio de benefícios fiscais, subsídios fiscais e creditícios, proteções comerciais, reservas de mercado, salários acima do teto e a conquista de fatias generosas e distorcidas do orçamento. políticas públicas.
Proteger o orçamento público, o sistema fiscal, a regulação económica e os bolsos dos consumidores da predação por parte de empresas, grupos sociais e categorias profissionais é a tarefa mais urgente – e mais complicada.
Como proteger a sociedade das práticas patrimoniais se nossos parlamentares e governantes estão sempre dispostos a considerar, na legislação e nas decisões do Poder Executivo, as demandas dos empresários e executivos que financiarão, legal e ilicitamente, sua reeleição? Como exigir o cumprimento dos preceitos republicanos estabelecidos na Constituição e na legislação, se o Judiciário está sempre aberto a distorcer a interpretação dessas normas em favor deste ou daquele grupo social ou econômico, em acordos celebrados entre as quatro paredes de um escritório ou em uma festa? no exterior, longe dos holofotes da imprensa?
Como evitar decisões governamentais que transferem bilhões de reais dos contribuintes ou consumidores para grupos específicos se o lobby nem sequer é regulamentado no Brasil; se há tão pouca transparência nas agendas das autoridades? Como garantir que as políticas públicas sejam desenhadas de forma imparcial, se o debate na sociedade é proibido por decisões autoritárias ou decisões monocráticas que se sobrepõem à discussão? Ou se os incentivos fiscais ou regulatórios são concebidos sem avaliação prévia dos seus impactos fiscais e económicos?
O combate ao patrimonialismo é muito difícil no Brasil, principalmente porque as próprias instituições criadas para zelar pela nossa República são distorcidas internamente, seja pelo corporativismo de associações representativas de algumas carreiras da elite do funcionalismo, seja por lideranças que, em nome de um suposto “ consensualismo”, transformaram órgãos públicos dos Três Poderes em verdadeiras mesas de negócios.
André Lara Resende propôs um caminho para resgatar a nossa imaginação e buscar soluções para nos libertarmos da armadilha da mediocridade.
Contamos com pessoas muito qualificadas, entre nossos líderes empresariais, nas equipes de excelência do serviço público e na academia brasileira, com ideias brilhantes para propor soluções para muitos dos desafios propostos neste dossiê.
É hora de nos perguntarmos quem está disposto a deixar de lado seus próprios privilégios e preferências partidárias e imaginar um Brasil mais próspero, inclusivo e sustentável.
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