A Polícia Federal investiga o juiz Ivo de Almeida, da 1ª Câmara de Direito Penal do Tribunal de Justiça de São Paulo, e dois advogados por suspeita de negociarem compra e venda de decisões judiciais. A investigação mostrou que o posto de lavagem fica a 300 metros do escritório de Ivo. Ivo de Almeida durante sua posse como juiz em 2013 Divulgação/TJSP Um posto de gasolina na Rua Conselheiro Furtado, bairro da Liberdade, centro de São Paulo, foi utilizado para lavagem de dinheiro proveniente dos valores obtidos com a venda de decisões judiciais ao juiz Ivo de Almeida, aponta investigação da Polícia Federal. O juiz Ivo, dois advogados de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e pelo menos outras quatro pessoas que atuam em áreas diversas foram alvos de mandados de busca e apreensão da “Operação Churrascada” da Polícia Federal na última quinta-feira (20). Segundo a investigação, Ivo é suspeito de vender sentenças judiciais em processos sob sua supervisão e em processos que faziam parte de seus plantões judiciais. A PF também investiga a suspeita de que ele obrigava funcionários de seu gabinete a lhe entregarem parte dos salários que recebiam. Nesta sexta-feira (21), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a prisão preventiva do bacharel em Direito Wellington Pires por suposto envolvimento no caso. Wellington é apontado como quem prestou serviços informais ao advogado Luiz Pires Moraes Neto, auxiliando-o diretamente nas tratativas com representantes do juiz Ivo de Almeida para compra de decisões judiciais. O g1 tentou contato com as defesas de Wellington e Luiz Pires, mas não obteve resposta. A reportagem também tenta entrar em contato com o magistrado Ivo de Almeida e sua defesa para comentar o assunto. Lavagem de dinheiro em posto de gasolina Segundo a investigação da Polícia Federal, o posto de gasolina localizado a 300 metros do escritório de Ivo era usado para pagar propina relacionada à compra de sentenças. A investigação apurou que o posto recebeu diversas movimentações bancárias, como o valor de R$ 100 mil em 2017. Nos dois CNPJs que a loja possuía, os sócios que aparecem são os mesmos identificados como os responsáveis pela negociação dos valores da propina em nome do juiz Ivo de Almeida. A investigação destaca ainda que os suspeitos utilizavam a loja como ponto de encontro pessoal para negociações. Leia também PF investiga juiz e advogados do TJ-SP por suspeita de negociação de compra e venda de decisões judiciais em São Paulo STJ determina prisão preventiva de solteiro por suspeita de corrupção no caso do juiz investigado por venda de decisões judiciais Destituição do juiz após Após a divulgação de informações sobre a operação da PF, o STJ afastou o juiz por um ano. A Inspeção Nacional de Justiça também apresentou uma Queixa Disciplinar (RD) contra o juiz. De acordo com a decisão do inspector nacional de justiça, ministro Luis Felipe Salomão, a divulgação dos factos pela imprensa “pode indicar que a conduta do arguido é contrária aos deveres de independência, prudência, imparcialidade, integridade profissional e pessoal, dignidade, honra e decoro, circunstâncias que justificam a instauração do processo”. Na decisão, o ministro Salomão dá prazo de 10 dias para que a presidência e a Inspetoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo prestem informações sobre possíveis pedidos de ação e processos administrativos envolvendo o juiz. Juiz paulista é alvo da PF por suspeita de venda de sentenças Ivo de Almeida, de 66 anos, formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ingressou no Judiciário em 1987 como juiz substituto em Bauru, no interior de São Paulo. Em 1992, quando era juiz penitenciário, Ivo tinha a missão de corrigir eventuais erros e abusos cometidos pelas autoridades penitenciárias contra os presos. No dia 2 de outubro daquele ano, a Polícia Militar invadiu o Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, para conter uma rebelião de presidiários. A PM foi acusada pelo Ministério Público de executar 77 presos. Os outros 34 foram mortos pelos próprios companheiros de cela. Ivo chegou a ser ouvido como testemunha em um dos julgamentos contra os PMs pelo ‘Massacre do Carandiru’. O magistrado tomou posse como desembargador do TJ em 2013. “É hora de renovar nossos votos, nossos compromissos de servir a Justiça de São Paulo com dedicação, dedicação e, acima de tudo, lealdade”, disse Ivo, quando assumiu o cargo mais há mais de dez anos a 1ª Câmara de Direito Penal do TJ como juiz.
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