Uma suposição sobre O descarte inadequado de cocaína no oceano, por meio de águas residuais da rede de esgoto, foi testado por pesquisadores brasileiros. Em um estudo recente publicado na revista Science of The Total Environment, eles relataram os resultados da análise de 13 tubarões-comuns brasileiros (Rhizoprionodon lalandii) no litoral do Rio de Janeiro.
Após adquirir 13 cações-tartaruga, nome popular com que a espécie é comercializada pelos pescadores locais, uma equipe de biólogos marinhos e ecotoxicologistas de diversas instituições do Brasil encontraram vestígios de cocaína em amostras de músculos e fígado coletadas de peixes cartilaginosos.
Depois de dissecá-los em laboratório e analisar quimicamente as amostras usando técnicas de espectrometria de massa em tandem, os autores encontraram cocaína em todos eles, em níveis aproximadamente 100 vezes superiores aos observados em qualquer outro animal marinhodiz o estudo.
Como ocorre a contaminação por cocaína nos mares brasileiros?
Resumo gráfico do estudo.Fonte: Gabriel Araújo et al.
A cocaína está atualmente a infiltrar-se nos ecossistemas marinhos em todo o mundo, onde chega através de redes de esgoto, principalmente provenientes de resíduos de laboratórios clandestinos ou do simples descarte da substância, para fugir do ato. Vestígios da droga foram encontrados em redes de esgoto e águas superficiais em 37 países entre 2011 e 2017.
A cocaína também foi detectada no corpo de vários animais marinhos, como moluscos, crustáceos e peixes ósseos. Mas o estudo brasileiro é o primeiro a investigar a presença do estimulante do sistema nervoso central em tubarões. E as descobertas revelaram um nível preocupante de contaminação.
O que a cocaína pode fazer com os tubarões no Brasil?
Os traficantes jogam suas cargas no mar para escapar de serem pegos.Fonte: Imagens Getty
Segundo a coautora Dra. Rachel Ann Hauser-Davis, cientista da Fundação Oswaldo Cruz, esse nível alarmante de cocaína é uma preocupação. “Considerando os efeitos psicotrópicos das drogas de abuso nos vertebrados, podem ocorrer mudanças comportamentais que, embora subletais, pode impactar a sobrevivência da espécie de maneiras ainda inexploradas“, observou ela em um comunicado.
As consequências da cocaína nos tubarões podem ser significativas, segundo os investigadores. Além de prejudicar a visão, a exposição à droga pode alterar suas habilidades de caça. e até reduzir a expectativa de vida. Isso porque outras toxinas encontradas no fígado dos peixes têm o potencial de reduzir a produção de vitelogenina, que se transforma na gema dos ovos.
Os autores reconhecem que as suas descobertas são apenas a ponta do iceberg no contexto da investigação sobre os efeitos da cocaína nos oceanos. No caso dos tubarões, a exposição crónica a níveis tão elevados pode danificar o seu ADN, com implicações ainda não conhecidas para os ecossistemas. e também para a saúde humanajá que a carne de cachorro é um dos produtos cárneos mais consumidos no Rio de Janeiro e em outras regiões do Brasil.
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