A comunidade internacional questiona a justiça do processo eleitoral. O país enfrenta uma grave crise económica. Venezuela realiza eleição presidencial em meio a muita tensão e com fronteiras fechadas Em meio a muita tensão e com fronteiras fechadas, a Venezuela realiza suas eleições presidenciais neste domingo (28). São mais de 21 milhões de eleitores, segundo o Centro Nacional Eleitoral da Venezuela. Mas o voto não é obrigatório. Incentivar os eleitores a votar é um dos desafios da oposição. Em todo o país há bloqueios realizados por militares, além de relatos de intimidações. O regime de Nicolás Maduro, que está no poder há quase 12 anos e procura um terceiro mandato, afirma que se trata de medidas para garantir a segurança das eleições. Mas, na prática, também funcionam como obstáculos para os eleitores chegarem aos locais de votação. O governo fechou as fronteiras terrestres, aéreas e marítimas da Venezuela para pessoas e veículos desde a madrugada desta sexta-feira (26). Ninguém entra ou sai antes das 8h de segunda-feira (29), a menos que tenha autorização especial. Medida semelhante foi adotada nas eleições de 2018. O candidato escolhido para enfrentar Maduro é o ex-diplomata Edmundo Gonzalez. Ele entrou na disputa depois que o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Eleitoral, controlado por Maduro, impediram as candidaturas da ex-deputada Maria Corina Machado e da professora Corina Yoris. Venezuela: contra Edmundo Gonzalez, Nicolás Maduro busca terceiro mandato consecutivo Jornal Nacional/ Reprodução Assim como em 2018, a comunidade internacional questiona a lisura do processo eleitoral. O regime de Maduro é acusado de violar direitos políticos e de prender opositores. Ainda assim, a oposição conseguiu mobilizar milhares de eleitores no país. Sondagens de opinião independentes indicam que Edmundo Gonzalez tem uma vantagem de mais de 30 pontos percentuais sobre Nicolás Maduro. Um instituto pró-governo diz que o cenário é o oposto: é Maduro quem lidera, com ampla vantagem. A foto de Maduro aparece nas urnas eletrônicas 13 vezes mais partidos que o apoiam. Quanto a Edmundo Gonzalez, apenas três. Esse modelo de arranjo fotográfico é apontado pela oposição como mais um fator de desequilíbrio na disputa pela Presidência. Forças Armadas venezuelanas fecham fronteiras dois dias antes das eleições presidenciais Observadores internacionais encontraram dificuldades ou foram proibidos de acompanhar as eleições na Venezuela. O Tribunal Superior Eleitoral desistiu de ir ao país depois que Nicolás Maduro mentiu sobre o processo eleitoral no Brasil, na Colômbia e nos Estados Unidos. O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim, chegou a Caracas na sexta-feira (26). Encontrou-se com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, e também conversou com representantes da oposição. Amorim está na Venezuela a pedido do presidente Lula para acompanhar as eleições. No final da tarde, o presidente venezuelano convocou uma reunião com diplomatas estrangeiros – incluindo a embaixadora brasileira, Glivânia Maria de Oliveira. Crise económica Como pode o país que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo ter pessoas a passar fome? Os filhos pequenos de Anaís estão desnutridos. “Eu queria que eles tivessem casa, comida”, diz. A família mora em Maracaibo, cidade petrolífera que, na década de 1970, era considerada um símbolo de progresso. “Hoje, a Venezuela recebe US$ 7 bilhões pela venda de 800 milhões de barris que produz anualmente. Isso dá ao país uma renda per capita de US$ 2,5 mil – a mais alta da América Latina”, afirmou um relatório da época. Em 40 anos, a Venezuela caiu da primeira para a última posição no ranking econômico da América do Sul. Jornal Nacional/ Reprodução Agora , a região sofre com apagões e falta de serviços básicos. Em 40 anos, a Venezuela caiu do primeiro para o último lugar no ranking econômico da América do Sul, e do penúltimo lugar no ranking da fome dos venezuelanos de 2021 a 2023. para os especialistas, concentrar-se apenas no petróleo foi uma das razões para a deterioração da economia “Uma combinação de inflação global, preços desfavoráveis para produtos derivados do petróleo, mas também sanções económicas, muita corrupção. Uma situação econômica catastrófica”, afirma Eduardo Mello, professor de relações internacionais da FGV. A Venezuela mergulhou num período de hiperinflação durante quatro anos. O pico foi em 2018, com 65 mil% em 12 meses – segundo dados atualizados do FMI. O país chegou a lançar uma nota de 1 milhão de bolívares. Desde então, a inflação caiu, mas continua entre as mais altas do mundo. O venezuelano Rafael Villa explica que, aos poucos, o dólar se tornou referência de salários e preços. “Você vai à farmácia, mas o caixa opera com bolívares e dólares. Mas, principalmente, com dólares”, diz Rafael Villa, professor de ciência política da USP. Desde o final de 2023, as sanções americanas foram relaxadas, mas não suspensas . Estas são punições impostas por ações do governo venezuelano consideradas antidemocráticas “Isto tem algum efeito a curto prazo, mas uma solução para a crise económica venezuelana não virá rapidamente. Um novo governo precisaria de renegociar a entrada do país nos mercados internacionais, nos mercados de crédito, mas também nos mercados de exportação de petróleo. Seria preciso renegociar a dívida, principalmente com os credores que já estão inadimplentes, e restabelecer a estrutura econômica do país nos próximos anos”, afirma Eduardo Mello, professor de relações internacionais da FGV. A dívida com o Brasil, por exemplo, ultrapassa R$ US$ 9 bilhões, principalmente devido a importações não pagas, garantidas pelo BNDES A Venezuela já era um importante parceiro econômico do Brasil. Em 2009, ficou em oitavo lugar entre os países que mais compraram produtos brasileiros – de alimentos a máquinas e pneus, por exemplo. .Agora, 15 anos depois, a Venezuela caiu quase 40 posições neste ranking José Leon é professor e diz que gasta tudo o que ganha apenas com comida. Eleições na Venezuela: Maduro corre o risco de perder o poder?
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