Pesquisas mostram que o ‘Pycnonemosaurus Nevesi’ pesava quase duas toneladas e é um dos maiores dinossauros que já existiram no Planeta Terra. Ilustração que mostra o Pycnonemosaurus nevesi, dinossauro carnívoro chapadense, alimentando-se de um saurópode Rodolfo Nogueira Pesquisa realizada pelo Museu de Ciências da Terra, em parceria com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou que a única espécie de dinossauro que que existia no Centro-Oeste era da Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá. O Pycnonemosaurus Nevesi, como é chamado, é um dos maiores dinossauros que já existiu no Planeta Terra e viveu durante o período Cretáceo, há cerca de 70 milhões de anos. Segundo a pesquisa, as principais características da espécie eram: Altura: Com cerca de nove metros de comprimento, era maior que um prédio de três andares, pois era medida da ponta da cauda até o focinho; Peso: Quase duas toneladas; Predador: Tinha crânio robusto, mandíbula forte e dentes afiados adaptados ao corte de carne. Comida: Era canibal, comia outros dinossauros. Segundo o Atlas Virtual da Pré-História, como o animal era canibal, provavelmente se alimentava de dinossauros muito maiores que ele, como o Maxakalisaurus topai, que media mais ou menos 12 metros e vivia em outras regiões do país, que hoje correspondem a os estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo. “Seus restos fósseis eram compostos apenas de fragmentos, incluindo cinco dentes isolados, partes de sete vértebras caudais, a parte distal do púbis direito, uma tíbia direita e a articulação distal da fíbula direita. O grande tamanho das vértebras sugere que este é um dos maiores dinossauros que existiram”, diz trecho da pesquisa. Segundo o diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexander Kellner, os fósseis foram descobertos originalmente por agricultores de uma antiga fazenda do estado que, ao constatarem que os ossos não eram de gado, contataram o Departamento Nacional de Produção Mineral ( DNPM) na época. “Um paleontólogo chamado Llewellyn Ivor Price, já falecido, e um dos principais paleontólogos nas pesquisas sobre répteis e fósseis, coletou esse material e deixou no DNPM. Na época, eu era doutorado recentemente e muito curioso. Com a ajuda do meu colega que liderava o setor de paleontologia do DNPM, que estava em transição para o Museu de Ciências da Terra da Urca, conseguimos descrever esse material”, disse. Segundo o diretor, a descoberta dos fósseis foi extremamente importante para a compreensão da distribuição geográfica dos dinossauros no mundo. “A descoberta mostrou que, durante o Cretáceo, existia uma fauna de dinossauros carnívoros comum entre o Brasil e a Argentina. Isto reforça a teoria da deriva continental, que sugere que os continentes estiveram unidos em algum momento”, acrescentou. Importância para a geologia O professor de geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn, explicou que existem quatro tipos de fósseis de invertebrados marinhos do período Devoniano (359 a 416 milhões de anos) existentes na Chapada, sendo eles: Braquiópodes : Animais marinhos invertebrados que possuem concha dupla; Trilobitas: Artrópodes extintos que viveram nos oceanos durante a Era Paleozóica; Tentaculitos: Grupo de fósseis com organismos que possuíam conchas cônicas ou tubulares; Bivalves: Grupo de moluscos com organismos conhecidos como ostras, mexilhões, vieiras e amêijoas. Ao g1, disse que estes fósseis são extremamente importantes para a geologia não só no contexto nacional, mas também mundial, pois são estes fragmentos fossilizados que explicam e comprovam o quanto a vida na Terra evoluiu. “Os fósseis de trilobitas indicam que estamos na era Paleozóica, por exemplo, pois viveram nessa época. Fósseis de dinossauros indicam a era Mesozóica. Esses fósseis ajudam a contar a evolução da vida e a determinar a idade das rochas. O Pycnonemosaurus nevesi é o único material encontrado que representa uma espécie nova no Centro-Oeste brasileiro”, disse. Clique aqui para acompanhar o canal g1 MT no WhatsApp Réplica dos fósseis do Picnonemosaurus Nevesi que está exposta no Museu de História Natural de Mato Grosso Coleção Thiago “Zina” Crepaldi/MHNMT Como os fósseis originais foram coletados pela equipe do Museu da Ciência da Terra Mato-grossense, as relíquias geológicas foram enviadas para o Rio de Janeiro. Porém, no Mato Grosso, uma réplica do esqueleto, que tem 2,20 metros de altura e 7 metros de comprimento, foi colocada no Museu de História Natural do estado (MHNMT), localizado na Chapada dos Guimarães. A réplica, segundo a assessoria de imprensa do museu, faz parte da exposição permanente do MHNMT, que funciona de quarta a domingo, das 8h às 18h. O preço do ingresso completo é de R$ 12, enquanto o meio ingresso custa R$ 6, gratuito aos domingos e feriados. Para visitar o local em grupos de mais de 10 pessoas é necessário entrar em contato com o museu e marcar horário. Saiba mais sobre o único dinossauro descoberto no Centro-Oeste Reconhecimento internacional Além do reconhecimento nacional, os fósseis descobertos em Mato Grosso são objetos de pesquisa de professores e alunos de todo o mundo. Para Caiubi, o impacto de descobertas como a do Pycnonemosaurus nevesi faz o planeta voltar os olhos para Mato Grosso. “Os fósseis da Chapada são pesquisados desde o século XIX. As descobertas sempre chamaram a atenção, mas, nos últimos anos, outras regiões do Brasil ganharam mais destaque. Porém, trabalhos recentes colocaram a Chapada e outras áreas do Mato Grosso novamente em destaque”, destacou. Mapa com as principais placas tectônicas da Terra Reprodução Segundo ele, a descoberta dos fósseis comprovou que existia uma espécie importante na região central da América do Sul no final do período Cretáceo. “Isso destaca a bacia sedimentar da Chapada e demonstra a diversidade de dinossauros da região. No futuro, novas espécies poderão ser descobertas com pesquisas e escavações mais detalhadas”, concluiu. O meio ambiente e os dinossauros Segundo o professor Caiubi, durante a Era Mesozóica, a Chapada dos Guimarães era um grande deserto, com uma região formada por rochas que hoje estão localizadas em Portão do Inferno e Cidade de Pedra. Segundo a pesquisa do especialista, na época em que os dinossauros viviam em Mato Grosso, o ambiente era semiárido e, por isso, viviam com pouca disponibilidade de água. Reconstrução paleoambiental da coexistência de saurópodes e terópodes na atual Chapada dos Guimarães Rodolfo Nogueira “Os dinossauros habitavam áreas onde se formavam vales e riachos, conhecidos na geologia como leques aluviais. Esses ambientes eram semelhantes a vales onde os rios distribuíam sedimentos, alternando entre deposição de material de um lado para o outro”, contextualizou. A pesquisa também destacou que os dinossauros viviam entre tartarugas e crocodilos, mesmo que o ambiente fosse bastante seco. Com isso, a espécie teve que conviver com pouca vazão de água e tempestades intensas. “A descoberta destes fósseis permite-nos compreender melhor o ambiente em que viviam os dinossauros, incluindo a quantidade de água e as condições climáticas. Combinar informações de rochas com fósseis ajuda a entender a ecologia daquele local”, relatou Caiubi.
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