O g1 conversou com especialistas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) para entender o que os números indicam. Violência contra a mulher, foto ilustrativa Bruna Bonfim/g1 Até setembro de 2024, Uberlândia emitiu 34% mais medidas protetivas do que no mesmo período de 2023, segundo dados do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp) de Minas Gerais e da Delegacia Especializada de Assistência à Mulher (DEAM) no município. Em 2024, foram emitidas 117 medidas por mês, totalizando 940 no ano. (Veja a tabela abaixo). Além disso, o município lidera os índices de violência extrema contra a mulher em Minas Gerais, com 7 feminicídios consumados e 6 tentados, segundo dados abertos da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sejusp). Em comparação, Belo Horizonte, maior cidade do estado, registrou 2 feminicídios consumados e 16 tentados. O g1 conversou com a delegada da DEAM Daniela Novais e especialistas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) para entender o que os números indicam. Receba notícias do Triângulo e região no WhatsApp O que é medida de proteção? Pela Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), os juízes podem ordenar a execução de medidas protetivas de urgência para garantir não apenas os direitos da vítima, mas a proteção dela e de sua família. Como solicitar medida protetiva? O pedido de medida protetiva pode ser solicitado pelo Ministério Público ou pela própria mulher em situação de violência, por meio de advogado ou da Defensoria Pública. A grande maioria das medidas promulgadas em Uberlândia foi motivada pela violência psicológica e física sofrida pelas vítimas. Segundo dados do SISP, 346 vítimas de ameaças solicitaram medidas de proteção, enquanto 356 sofreram lesões corporais ou ataques. Aumento nas notificações Para a delegada Daniela Novais, da DEAM, o aumento no número de Medidas Protetivas Urgentes (MPU) emitidas pelo órgão indica, em parte, um aumento no trabalho realizado pela delegacia e, em parte, uma melhoria no problema da subnotificação frequente enfrentada em casos de violência doméstica e baseada no género. “Tivemos 940 medidas expedidas até setembro, no ano passado tivemos 655. Ou seja: já realizamos mais 300 procedimentos este ano. . Em qualquer lugar Sempre que você for, há um cartaz ou um número para ligar que pode ajudar quem sofre violência de gênero”, explica Novais. “As mulheres estão cada vez mais encorajadas [a denunciar]mas infelizmente vivemos em uma sociedade doente”, afirma. Importância das medidas de proteção Para a professora do curso de Serviço Social da UFU, Soraia Veloso, as medidas de proteção, para funcionarem, precisam ser acompanhadas de outras medidas. “Isso é porque a gente vê alguns casos em que os homens não respeitam as medidas e se aproximam, então essa mulher precisa ser apoiada. Pela família dela sim, mas também pelas políticas públicas que vão protegê-la”, explica. “Essa mulher, depois de denunciar, vai precisar de renda, vai precisar de um lugar para ficar, porque ela tem que sair de casa durante o processo . Está passando pelos tribunais. Há uma série de coisas que tornam importante que a medida seja realmente eficaz.” Ela destaca, por exemplo, a patrulha Maria da Penha, realizada pela Polícia Militar, como uma dessas políticas públicas. “É um excelente trabalho , pois quando a patrulha recebe um boletim de ocorrência e passa a monitorá-lo de perto. Eles avaliam se a medida está sendo cumprida, então, a qualquer sinal de aproximação desse homem, basta acionar a patrulha. E pode até ser preso em flagrante.” Cultura e prevenção A professora Neiva Flávia, professora do curso de Direito da UFU, explica que o machismo responsável pelos altos números de feminicídios e outras violências é cultural. “Culturalmente, somos educados pensando que as mulheres são inferiores aos homens, que as mulheres têm as roupas certas para vestir, o lugar certo para ir, que têm mulheres com quem casar, mulheres de quem aproveitar. Existe uma cultura que é machista e que leva à violência contra a mulher, que naturaliza e normaliza a violência, que aparece nas músicas, nos filmes, nos dizeres”, explica. Apesar disso, a professora afirma que o problema, apesar de ser cultural, Não é estrutural, pois o sistema jurídico, que é uma estrutura no Brasil, foi construído na tentativa de proteger as mulheres da violência, a Lei Maria da Penha e outras leis são exemplos disso. “A estrutura penal não educa. O direito penal não é para educar, o direito penal é para punir. Então, educar, transformar, prevenir é educação. Este é o caminho principal, com campanhas nos meios de comunicação, com campanhas em jogos de futebol, com campanhas nas redes sociais. A educação é o caminho para a prevenção. Mas o Brasil não tem uma política pública consistente em educação para prevenir a violência contra a mulher”, explica. 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