Dados do Ministério Público estadual registram 344 mortes por PMs de janeiro a junho deste ano, ante 296 em 2023. O período inclui casos da Operação Verão, na Baixada Santista. Polícia Civil reduz mortes em 33%. PMs durante a Operação Verão, no litoral de São Paulo, no início de 2024 Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal As mortes causadas pela Polícia Militar do estado de São Paulo aumentaram 71% no 1º semestre de 2024, segundo ano de a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), indicam dados do Ministério Público de São Paulo. Foram registradas 344 pessoas mortas por PMs entre janeiro e junho deste ano, ante 296 casos de Morte Resultante de Intervenção Policial (MDIP, na sigla técnica) no mesmo período de 2023. O aumento ocorre, principalmente, nos casos de militares em serviço. , com salto de 154 registros para 296. Os crimes envolvendo militares fora de serviço variaram de 47 a 48 entre 2023 e 2024. O g1 solicitou vaga para a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, administrada pelo ex-PM Guilherme Derrite, mas não recebeu resposta até a publicação deste relatório. As mortes cometidas por policiais civis diminuíram 33% no mesmo período: de 21 para 14. Juntos, os dois policiais mataram oficialmente 358 pessoas no primeiro semestre de 2024, um aumento de 61% em relação aos 222 casos no mesmo período do ano passado. Veja os óbitos por município de São Paulo no infográfico abaixo. O período analisado em 2024 inclui a Operação Verão, ação policial na Baixada Santista em resposta aos assassinatos de três policiais militares. Entre 2 de fevereiro e 1º de abril, quando foi encerrada, a operação registrou 56 pessoas mortas por policiais. Na época, a Defensoria Pública de SP e entidades questionaram a letalidade policial e solicitaram medidas à Organização das Nações Unidas (ONU). O governador Tarcísio respondeu “Não me importo”. A Operação Verão impacta os locais onde mais ocorreram mortes, com três municípios da Baixada Santista entre os mais letais: Santos, em 2º lugar; São Vicente, em 3º e Guarujá, em 4º. Ao todo, foram 86 mortes nessas cidades no 1º semestre. Mortes como política de governo, avalia PM aposentado Para o tenente-coronel reformado da PM Adilson Paes de Souza, mestre em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo (USP), o aumento das mortes por policiais reflete a “consolidação de uma política governamental” de mortes como um indicador da eficácia da polícia. “Cada vez mais se tem um discurso em que a consequência é uma atividade operacional que corrobora a lógica de uma política com uma polícia letal. É a consagração da letalidade como política de governo”, afirma. Segundo ele, essa lógica começou na década de 1990 e sua maior consequência foi o Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos em uma rebelião na antiga Casa de Detenção, na Zona Norte da Capital paulista. LEIA MAIS: Suicídio entre policiais da ativa bate recorde no estado de SP em 2023, aponta Anuário SP tem menor índice de mortes violentas do país e registra queda nos homicídios em 2023; aumentam feminicídios e estupros Pessoas negras têm quase 4 vezes mais chances de serem mortas pela polícia do que pessoas brancas, mostra Anuário de Segurança Pública Paes de Souza analisa que, embora a letalidade seja considerada um indicador de eficiência policial, o aumento de mortes não não resultou em maior segurança para a população. “Embora tenha havido queda em alguns indicadores de criminalidade, essa queda não é robusta e a população não se sente segura. Mesmo com uma política governamental que aposta na militarização, no combate e na letalidade, não está a cumprir o que promete, que é a segurança. “, diz o tenente-coronel. Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em SP e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani cobra análise do secretário de Segurança, Guilherme Derrite. “É extremamente preocupante ver esses números. Temos que ficar atentos quando esse tipo de aumento de letalidade acontece porque pode dar sinais de uma força policial pouco profissional”, afirma. Para ele, o estado já teve exemplo de políticas de segurança baseadas na lógica da letalidade, como a “Rota na rua” do então governador Paulo Maluf, na década de 1990. “Isso não melhorou nossa segurança, muito pelo contrário.”
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