“Questionar a mulher que deseja é o cerne deste livro.” A afirmação é da escritora Liana Ferraz, uma das autoras de “Poemas de amor no divã” (Editora Paidós), ao lado do psicanalista Alexandre Patricio de Almeida. Os dois foram entrevistados, no Estúdio CBN, nesta terça-feira (25), pelos âncoras Tatiana Vasconcellos e Fernando Andrade. Com referência a textos de Freud, Melanie Klein, Winnicott e Lacan, o livro reúne temas como amor, perda da inocência, imaginação, desilusão, reconstrução e reencontro de si mesmo. Segundo a sinopse, para entender tudo isso não é preciso interpretar, basta saber sentir!
A sexualidade da mulher recém-separada aparece como tema principal do livro. A escritora Liana Ferraz explica que a protagonista, solteira, redescobre o próprio desejo:
“Ela chega muito magoada e disponível para o amor, mas em um território muito disponível para o amor e apanha muito porque se apaixona, porque cede, porque tenta de novo, estabelecer vínculo, uma vez que desaprende e aprende. São corpos novos”, diz ela. “Mas há uma descoberta super importante nisso, que é a descoberta do próprio desejo. O livro questiona a mulher que deseja e, no final, acho que esse é o cerne deste livro.”
Alexandre Patricio lembra que a ideia dos dois escreverem a obra surgiu em uma transmissão ao vivo:
“Liana tem uma capacidade criativa gigantesca, por ser poetisa, por ser atriz, enfim, por todas as mil coisas que faz. Fizemos uma live com a Editora Planeta, nós dois juntos, para falar do outro livro dela, O Sede de Me Beber Inteira. Falei um pouco sobre a psicanálise de bar, que também publiquei recentemente no Planeta. E aí começamos a trocar ideias, a live teve um entrosamento enorme, e a ideia nasceu. Sugeriram que os dois, um poeta e um psicanalista, escrevessem um livro juntos”, conta.
No livro, Liana Ferraz utiliza a personagem Cecília para falar o que pensa, sem ser julgada pelo leitor.
“Quando comecei a escrever este livro, comecei a escrever os poemas e de repente senti que estava um pouco distante de mim mesmo. Existe a verdade do autor e a verdade do texto. Para ser mais verdadeiro no texto, eu precisava ser alguém que estava mentindo. A ideia da Cecília foi uma forma de eu inventar uma personagem e me sentir mais confortável com temas como paixão, desejo sexual, relacionamento com rompimento e corpo”, conta.
Para Patrício, quem quiser iniciar o processo de análise se identificará com Cecília.
“E é muito prazeroso, porque acho que quem quer se aventurar num processo analítico, ou quem já fez análise, encontra muito na Cecília e também na psicanalista que está presente no livro”, afirma.
Durante a conversa, Liana refletiu sobre o significado do amor, que aparece nas páginas do livro de diferentes formas.
“Talvez o medo do amor seja o medo do inevitável do amor, que é o sofrimento. Mas o sofrimento também faz parte da vida. Então é melhor sofrer amando do que sofrer sem amar”, analisa.
Alexandre complementa a ideia:
“Exige demissões. O amor é inerente ao sofrimento. Não é possível separar uma coisa da outra, mas também é importante que esse sofrimento não seja uma prisão, um lugar apenas de renúncias, de perdas, mas também um lugar de partilha”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Laura Rocha
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