Antônio Cláudio Castro ficou preso entre 2014 e 2019 como criminoso que agrediu e estuprou mulheres na periferia de Fortaleza. Apesar de liberado, ele relata dificuldade em manter relações sociais. A história será tema do programa Linha Direta, desta quinta-feira (27), da TV Verdes Mares. Foto tirada em 2019, cinco meses após a soltura de Antônio. Na época, ele disse que ainda não se sentia livre. Isanelle Nascimento/SVM Atendimento psicológico, medicação psiquiátrica e isolamento. É assim que vive atualmente o ex-seringueiro Antônio Cláudio Barbosa de Castro no interior do Ceará. Cinco anos depois de ser inocentado após uma série de acusações de estupro, ele ainda tem dificuldade de estabelecer relacionamentos sociais e, na maioria das vezes, evita sair de casa. Clique aqui para acompanhar o canal g1 Ceará no WhatsApp A história de Antônio Cláudio Barbosa é tema do programa Linha Direta. Ele foi confundido, preso, julgado e condenado como se fosse o “Maníaco da Motocicleta”, criminoso que cometeu uma série de oito estupros ocorridos nas ruas de Fortaleza em 2014. O criminoso usava uma moto vermelha e ameaçava mulheres com uma faca , cometendo os atos. O suspeito trabalhava nos bairros Parangaba, Maraponga e Vila Peri. Entre as vítimas está uma criança de 11 anos. O verdadeiro culpado nunca foi identificado. O g1 conversou com Antônio Cláudio Barbosa em setembro de 2023. Desde que saiu da prisão, ele precisou de atendimento psicológico, recebeu medicação psiquiátrica, não conseguiu emprego, mudou-se para outra cidade. “Depois de toda tortura, de todo sofrimento que passei e às vezes ainda passo, aí me recompus bastante. Hoje sou uma pessoa atípica, procuro sempre ficar longe das pessoas, estou sempre sozinha. É muito difícil me ver com alguém. Porque querendo ou não, essas consequências me distanciaram bastante das pessoas”, disse Antônio. Quatro anos depois de ser libertado, cearense preso injustamente luta para reconstruir sua vida Sonhos interrompidos Ao sair da prisão, em 30 de julho de 2019, Antônio Cláudio revelou que tinha vários planos para retomar a vida. Entre eles, por exemplo, viagens e encontros com amigos paulistanos que fez pela internet, por meio de jogos online. Ele também queria voltar a trabalhar e constituir família. Parte dos seus sonhos, Antônio Cláudio realizou. No entanto, parte das conquistas foi manchada pelo trauma. Hoje, Antônio voltou a jogar online. Mesmo em um ambiente divertido, ele não consegue escapar de ser atacado. “Sofro perseguições até hoje, até em jogos online. Quando tem gente que me reconhece, fala aqueles palavrões, ‘ele é o estupradorzinho’”, diz. Apesar disso, ele insistiu em alguns dos objetivos que tinha. Dos amigos de São Paulo, por exemplo, ele encontrou alguns. “Consegui ver alguns, outros não consegui ver até hoje por conta do trauma, por ficar mais recluso, [você] perde muitas amizades. E fiquei tão abalado, com depressão, ansiedade, que no meu covil de amizade queria poucas pessoas. Até para evitar algum constrangimento”, revela. Com a repercussão de seu caso em 2019, foi convidado para dar palestras e contar sua história na TV. Seu caso, nas palavras de Antônio, é a história de um símbolo de justiça. “Até hoje sou convidado a discursar, a falar de justiça, muitos advogados ou defensores me usam como escudo para mostrar que não devem ser cometidos os mesmos erros que foram cometidos comigo”, afirma. Hoje, longe da capital cearense e ao lado do bairro com a esposa Luziane, Antônio cria a filha, a pequena Ivy, de 2 anos, na cidade serrana de Tianguá, com pouco mais de 80 mil habitantes. No batizado da menina, uma demonstração de gratidão: convidou o defensor público Emerson Castelo Branco para ser padrinho. , que o ajudou no processo de liberação. Embora busque seguir em frente, o passo deixou marcas, e Antônio sabe que há muitos desafios a serem superados “Dói na minha alma porque dói até hoje. [setembro de 2023] Não trabalho, até hoje nunca fui remunerado por nada para poder recomeçar minha vida ou montar um negócio. Então, hoje em dia vivo um dia de cada vez pela graça de Deus. Os traumas me machucaram, me maltratam até hoje. Então às vezes eu não acredito mais em mim mesmo. Mas continuo lutando, acreditando que um milagre pode acontecer”, completa. Batizado da filha de Antônio Cláudio, Ivy, que está no colo da mãe, Luziane; à esquerda, o zagueiro Emerson Castelo Branco Arquivo pessoal Declarações confusas Quando foi preso em 2014, Antônio Cláudio foi acusado de ser o “Maníaco da Motocicleta” – criminoso que cometeu pelo menos oito estupros em Fortaleza, contra mulheres entre 11 e 24 anos . Na época, a menina de 11 anos afirmou ter reconhecido a voz do estuprador como a voz de Antônio Cláudio. Pouco depois, outras vítimas alegaram que ele era o culpado. À medida que o processo avançava, porém, uma a uma, as vítimas que haviam reconhecido Cláudio recuaram. No final, apenas a menina de 11 anos manteve o depoimento contra o revendedor de pneus. Ele foi condenado a nove anos de prisão em 2018 pelo crime de estupro de pessoa vulnerável. A essa altura, ele já estava preso há quatro anos. Em 2019, veio a reviravolta: uma série de indícios mostraram que Cláudio era pelo menos 20 centímetros mais baixo que o criminoso, filmados por câmeras de segurança. Segundo as vítimas, o homem tinha uma cicatriz no rosto – Cláudio não tem nenhuma. Com essas e outras provas, colhidas pelo Projeto Inocência Brasil e pela Defensoria Pública do Ceará, o traficante de pneus foi absolvido e solto em 30 de julho de 2019. ‘Fuga’ da capital para o interior Depois de ser absolvido e sair da prisão em 2019 , Antônio Cláudio vem tentando recomeçar sua vida Arquivo pessoal Aos 40 anos, Antônio Cláudio teve que lutar para reconstruir sua vida. Antes de ser preso, ele era dono de uma borracharia no bairro Mondubim, em Fortaleza. Após sair da prisão, ele e sua família tiveram que arcar com os custos de tratamentos e medicamentos para combater as crises de ansiedade e episódios de depressão que o acometiam. A situação, desde a prisão até as dificuldades de recuperação, impactou a saúde da família de Cláudio. “Minha irmã ficou doente com tudo o que aconteceu, minha mãe [também]. Meu pai passou por quatro cirurgias cardíacas. Meu irmão entrou em depressão crônica por causa do sofrimento, né? Graças a Deus ele se recuperou”, diz. Segundo Antônio, do Governo do Estado não houve apoio financeiro ou qualquer tipo de indenização pelo erro policial. Ele diz que também enfrentou problemas devido ao seu nome aparecer como condenado pelo crime de estupro mesmo depois de inocentado “Se eu tivesse que resolver alguma coisa, eu mesmo pegaria a documentação e apresentaria aos órgãos de segurança responsáveis, para que fosse reconhecido que tive a graça de ser inocentado”, lembra. Após ser solto e ter sua história contada em todo o país, Antônio Cláudio passou a ser convidado para dar palestras em universidades sobre erros judiciais. Em uma dessas palestras, conheceu sua atual companheira, Luziane, que ficará presa por 5 anos. Polícia pede ação preventiva contra suspeito de ser verdadeiro ‘maníaco por motociclismo’ no CE Polícia espera ouvir nesta sexta-feira 8ª vítima de estupros em série no CE Vídeo mostra abordagem de homem preso por estupros em série no Ceará Condenado por estupro Ele é absolvido em um novo julgamento após cinco anos de prisão no Ceará. Depois de algum tempo juntos, recebeu uma oferta de emprego e os dois decidiram se mudar para Itapipoca, a 130 quilômetros de Fortaleza. Eles também moravam em Sobral, região Norte, onde, segundo Antônio Cláudio, as coisas iam bem até sofrerem constrangimento da Guarda Municipal. Um dia, Cláudio quase se envolveu em um acidente de trânsito com um guarda de Sobral que estava de folga. Os dois discutiram. “Fiquei um pouco emocionado porque é muito difícil ouvir uma palavra ofensiva e ficar calado, né?”, conta. Após a discussão, o guarda chamou os colegas de trabalho. De repente, formou-se um grupo em torno de Antônio, que foi reconhecido e, segundo ele, constrangido. O caso terminou com intervenção policial, que acalmou a situação. Depois disso, Antônio e seu companheiro decidiram ir para Tianguá, no interior do Ceará, destino que consideraram mais tranquilo. “Aqui tudo é mais tranquilo, só cumpro meus deveres e deixo minha mulher no trabalho, volto para minha casa e me excluo da sociedade”, afirma. O maníaco por motocicleta Homem agarrou mulheres com uma faca e as estuprou, o criminoso ficou conhecido como ‘Maníaco por Motocicleta’ Reprodução Segundo a Polícia Civil, o criminoso chamado de “Maníaco por Motocicleta” estuprou pelo menos nove mulheres entre 2013 e 2014 em Fortaleza. Ele dirigia uma motocicleta vermelha e ameaçava suas vítimas com uma faca. O homem então as levava para um local deserto onde completaria o crime – em alguns casos, o estupro acontecia no meio de ruas pouco povoadas. “Quando me virei, ele me parou por trás, me disse para não reagir, não gritar, senão ele me mataria. Então ele me empurrou contra a parede, começou a me beijar com força e colocou a faca no meu pescoço. não queria beijar ele, ele mordeu minha boca”, relatou uma das vítimas na hora do crime às éguas da TV Verdes. Como o Innocence Project Brasil contou ao g1 em 2019, houve diversas inconsistências na acusação de que Antônio Cláudio era o criminoso. Além da diferença de altura – segundo estimativas baseadas em imagens do criminoso, ele tinha 1,8 metro de altura; Cláudio tem 1,59 -, a defesa destacou que não houve, por exemplo, exame de DNA com Antônio. Após sua prisão, continuaram ocorrendo crimes com o mesmo modus operandi, um em abril de 2015 e outro em janeiro de 2016. Em novembro de 2019, após a libertação de Antônio Cláudio, a Polícia Civil do Ceará afirmou ter identificado o verdadeiro Maníaco de Moto e perguntou para a prisão preventiva do homem. O pedido foi negado pela Justiça, segundo investigadores disseram ao g1 na época. O homem teria ficado preso por um ano e dois meses por agredir outras duas mulheres quando Antônio ainda estava preso, mas foi libertado. Segundo a inspetora da Polícia Civil responsável pelo caso no período, Daniele de Castro, o Judiciário alegou que o criminoso não apresentava risco que justificasse a prisão preventiva – considerada medida cautelar -, considerando que os crimes ocorreram há muito tempo. atrás. . Antônio Cláudio acompanhou, do lado de fora do presídio, a notícia sobre a identificação do verdadeiro Maníaco por Motocicleta. Para ele, a situação mostra o desrespeito do Estado pela sua história. “As palavras foram estas: que ele não representa perigo para a sociedade e que não haveria necessidade de prendê-lo. De que adianta, se eu já cumpri toda a pena de prisão, né?”, critica. Devido aos erros que levaram à sua prisão, Antônio Cláudio moveu uma ação contra o Estado do Ceará. O caso, porém, ainda não chegou a uma conclusão. Homem preso no lugar de estuprador sai da prisão após cinco anos Assista aos vídeos mais vistos do Ceará:
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