Os paratletas do nosso país conseguem mais uma vez ótimos resultados, mas o interesse de todos pela realidade das pessoas com deficiência ainda está apenas no discurso e falha na prática. Recebi uma mensagem no WhatsApp: “Seu silêncio sobre as Paraolimpíadas é surpreendente”. O que o remetente não sabia é que eu estava de olho nos Jogos Paraolímpicos de Paris. Havíamos trocado muitas impressões sobre as Olimpíadas, por isso ele me provocou. E ele me contou uma coisa legal. Seu filho, prestes a completar 7 anos, estava adorando ver nossos paraatletas na França, fazendo vários comentários interessantes, principalmente vindos de uma criança. O evento termina hoje com um resultado super positivo da seleção brasileira, assim como aconteceu nas edições anteriores. Apesar disso, é inegável que a repercussão da competição é bem menor que a dos Jogos Olímpicos realizados recentemente. Não confunda o resultado abaixo do esperado de um projeto com o trabalhador que o executa. A tentativa de reduzir as pessoas a uma gaveta específica quase sempre falha. O tão falado e desejado mundo inclusivo está longe de ser uma realidade. Durante a cobertura, os repórteres enfatizaram como a acessibilidade era um enorme desafio para Paris. Apenas 3% das estações de metrô da cidade, por exemplo, têm capacidade para atender pessoas com deficiência. A expectativa da comissão organizadora, porém, é que um evento desta magnitude possa ser transformador para a capital do país. Mas não precisamos apenas falar sobre isso. O Rio, que sediou as competições em 2016, viu melhorias. Mas ainda deixa muito a desejar como local acolhedor para quem tem algum tipo de dificuldade de locomoção. Infelizmente, as iniciativas neste sentido são temporárias e pontuais, poucas medidas são permanentes e sólidas. Enquanto o mundo nos observa, vamos fazer acontecer. Mas e então? Todas as pessoas têm o direito básico de circular em dias normais e não apenas durante eventos especiais. A inclusão vai muito além das questões de mobilidade urbana. Sabe aquela história de quem não é visto e não é lembrado? Nossos para-atletas alcançaram grandes feitos. Você já viu as apresentações do nadador Gabrielzinho, só para citar um de nossos representantes? Acompanhando uma das corridas que ele venceu, prestei atenção no quanto ele estava à frente dos adversários, o que mostra que ele é muito superior aos que competem nas mesmas categorias. Outro exemplo é o de Beth Gomes, que após conquistar uma prata no arremesso de peso, conquistou um ouro no lançamento de disco. Claro que isso me deixou curioso para saber qual era a história dessa mulher. E aí vi que ela sempre foi esportista, mas teve que se adaptar mais de uma vez na vida quando foi diagnosticada com esclerose múltipla. Então pergunto: essas histórias tiveram o devido espaço? Quantos puderam conhecer sua realidade e serem impactados de alguma forma? Estamos interessados? Nas redes sociais, o jornalista Pedro Suaide, que cobriu as disputas em Paris, fez uma análise importante: as mesmas marcas que enviaram centenas de influenciadores aos Jogos Olímpicos desapareceram nas Paraolimpíadas. Ele comentou que agora entrevistava com facilidade um medalhista de ouro. A competição de inúmeros microfones acabou. Os patrocinadores, aparentemente, não têm interesse nesse “negócio” de incluir todos os públicos. Continuamos sendo fingidores, posso provar isso com mais fatos. Outro dia, um amigo designer, muito competente e sensível, compartilhou uma curiosa história profissional. Ela precisava imprimir cartões corporativos em Braille e teve muita dificuldade em encontrar uma impressora que pudesse ajudar. Ela procurou ajuda no Instituto Benjamin Constant, no Rio, referência na área de deficiência visual. Eles têm sua própria gráfica, mas a demanda é tão grande que não conseguem atendê-la. Com uma boa recomendação, ela chegou a uma gráfica em São Paulo. Como ela mesma lembrou, em muitos lugares do Brasil é obrigatório ter cardápios em Braille nos estabelecimentos. Mas as gráficas não têm iniciativa de oferecer esse tipo de serviço? Pretendemos ser uma sociedade abrangente, mas, no fundo, não ajudamos a garantir que todos sejam vistos, considerados e incluídos de forma igual. Se uma criança que prospera nas Paraolimpíadas convive com outras pessoas com deficiência na escola, na rua e no dia a dia, torna-se natural para ela desde cedo que tudo seja possível para todos os seres, respeitando as dificuldades individuais que todos nós podemos tem, é claro. Nós realmente não deveríamos ficar calados sobre isso. Nem nas Paraolimpíadas, nem nunca. Gabriela Germano é editora assistente e atua na área de cultura e entretenimento desde 2002. É pós-graduada em Jornalismo Cultural pela Uerj e formada pela Unesp. Sugestões de temas e opiniões são bem-vindas. Instagram: @gabigermano E-mail: gabriela.germano@extra.inf.br
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