Na audiência foi estabelecido um prazo para que a Funai apresente relatório técnico sobre as possibilidades de destinação da área. MPF pede delimitação da área; Os agricultores afirmam que possuem propriedades e querem que elas sejam reconhecidas. Índio da tribo Tanaru vive isolado há 22 anos. Reprodução/Funai Uma audiência de conciliação foi realizada nesta terça-feira (16) na subseção da Justiça Federal em Vilhena (RO), para discutir o destino da área onde vivia o “índio do Buraco”, último sobrevivente de seu povo. Segundo a Rede Amazônica, as partes do processo não chegaram a consenso. A área onde morava o Índio do Buraco começou a ser alvo de especulação imobiliária depois que ele foi encontrado morto dentro de sua cabana, em agosto de 2022. Cinco famílias de agricultores afirmam ser donas da propriedade e querem que ela seja reconhecida. O Ministério Público Federal (MPF) exige que a área seja delimitada e protegida. O principal ponto de divergência entre o MPF e os agricultores é sobre a tradicionalidade da ocupação: o MPF argumenta que há evidências suficientes de que a área foi ocupada durante anos pelos indígenas Tanaru; Os agricultores não reconhecem essa legitimidade e argumentam que o índio Buraco utilizou a área como refúgio, mas que não é originário de lá. Na audiência foi estabelecido um prazo para que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) apresente um relatório técnico sobre as possibilidades de destinação para a área. Só então o assunto deverá ser discutido novamente. O g1 entrou em contato com a Funai, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. A audiência de conciliação é a primeira parte do processo movido pelo MPF contra a Funai e a União. O órgão solicita que seja demarcada a área onde está o povo indígena Tanaru. “Entendemos que a Constituição da República diz que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são bens da União. No entendimento do Ministério Público Federal, a União e a Funai já deveriam ter demarcado essas terras há muito tempo”, aponta o procurador da República, Daniel Luis Dalberto. A TI tem cerca de 8 mil hectares e se espalha por quatro municípios de Rondônia: Chupinguaia, Corumbiara, Parecis e Pimenteiras do Oeste. A Funai mantém a região protegida por portarias de restrição de uso válidas até 2025. Terra Indígena Tanaru em Rondônia Reprodução/ISA Ativistas indígenas, entidades de proteção ambiental e indigenistas apontam a importância da preservação da área como “memorial” aos indígenas que viveram isolado depois que seu povo foi vítima de genocídio. “É bom que as pessoas saibam que houve um povo que foi extinto, massacrado, ao longo da ocupação da região.[…] Eu acho que a sociedade, você sabe, Rondônia, o povo brasileiro, tem uma dívida com os povos indígenas. E aquela região deveria ser transformada em um memorial a essas pessoas que foram massacradas e extintas”, aponta a indígena Neidinha Suruí. Quem foi o índio Hole? Em junho de 1996, o “Índio do Buraco”, também conhecido como Tanaru, foi avistado pela primeira vez por homens brancos em Rondônia. Vinte e seis anos depois desse “contato”, o indígena foi encontrado morto em seu território, em agosto de 2022. O homem, conhecido por viver sozinho e isolado na densa floresta amazônica, morreu como o último homem de seu povo, sem seu etnia e língua foram descobertas. O indígena resistiu ao contato com o branco até sua morte. O ‘Índio do Buraco’, apesar de viver isolado há mais de 30 anos, nem sempre esteve sozinho. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), os últimos integrantes de seu povo foram mortos em 1995. Os indígenas eram conhecidos como “Índio Buraco” porque ele escavava em suas cabanas. Ninguém descobriu o motivo nem a sua real utilidade. Buraco na Reprodução Tapiri/Txai Suruí Entenda a disputa pela área Em novembro de 2022, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, de forma cautelar, a preservação da Terra Indígena (TI) Tanaru, a área onde viveu o único indígena. Na decisão monocrática, Fachin determinou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) informasse qual destino deveria ser dado ao território. Em dezembro de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) orientou os agricultores a não invadirem a área como forma de proteção, após identificar pessoas que transitavam pela TI. Na época, notificações entregues aos agricultores alertavam que os invasores poderiam responder por crimes, como dano qualificado. Quatro meses após a morte do indígena, o MPF voltou a entrar na Justiça contra a União e a Funai, buscando obrigar os órgãos federais a transformar o território onde vivia Tanaru em área pública de proteção socioambiental. Em janeiro de 2023, câmeras escondidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) registraram agricultores invadindo a cabana onde morava o “Índio do Buraco”, momentos após o sepultamento do indígena, que demorou cerca de três meses para acontecer. Registro raro do índio Buraco: Último sobrevivente de seu povo, ‘Índio Buraco’ é encontrado morto em Rondônia
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