Governador fala em ‘erro’. A GloboNews encontrou uma mulher de 65 anos que recebeu mais de R$ 2,5 milhões do fundo eleitoral, mas que nega ter trabalhado na campanha. Ministério Público Eleitoral vê gastos ilícitos na campanha à reeleição de Cláudio Castro Relatório do Ministério Público Eleitoral (MPE) afirma que houve gastos ilícitos durante a campanha de Cláudio Castro (PL) para governador do Rio em 2022. O governador disse que as informações de do MPE estão “errados” (ver nota completa enviada por Castro ao final deste relatório). A GloboNews encontrou uma pessoa que, segundo as investigações, recebeu mais de R$ 2,5 milhões do fundo eleitoral e que nega ter trabalhado na campanha. A mulher chegou aos 65 anos sem nenhum registro de trabalho, segundo o MPE. Mas em 2022, antes das eleições, a sua vida mudou. Lúcia Helena Siqueira Lopes de Jesus tornou-se sócia única e administradora da empresa Cinqloc Empreendimentos. E assinou contrato com a campanha à reeleição de Cláudio Castro. A empresa foi escolhida para recrutar e selecionar colportores, coordenadores, motoristas, auxiliares de cozinha, recepcionistas e secretárias. No período eleitoral, o discurso de Cinqloc, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, chamou a atenção do Ministério Público Eleitoral. Cláudio Castro foi reeleito governador no primeiro turno com quase 60% dos votos. Em sua contabilidade, a campanha declarou gasto de quase R$ 5 milhões com colportores e demais funcionários contratados pela Cinqloc. Governador Cláudio Castro Reprodução/TV Globo No final de 2022, o Ministério Público Eleitoral acusou Cláudio Castro e o vice Thiago Pampolha de despesas ilícitas e pediu a cassação da chapa. Os promotores apontaram indícios de irregularidades nos pagamentos e falta de capacidade operacional das empresas contratadas. A pedido do Ministério Público, a Justiça Eleitoral determinou, em janeiro de 2023, a quebra dos sigilos bancário e fiscal de seis empresas que juntas faturaram R$ 10 milhões — dinheiro público, do fundo eleitoral. Agora, foi anexado ao processo o primeiro relatório sobre a quebra do sigilo bancário das empresas. O Ministério Público Eleitoral começou a analisar o caminho do dinheiro repassado pela campanha à reeleição do governador Cláudio Castro. O Ministério Público afirma que, entre setembro e outubro de 2022, ocorreram 14 transferências entre a Cinqloc e Lúcia Helena Siqueira Lopes de Jesus, que consta no contrato como proprietária da empresa. Cerca de R$ 2,6 milhões aparecem como crédito em favor de Lúcia Helena e a identificação “recibo pix”. Lúcia Helena mora em uma casa dentro de um clube, às margens da Baía de Guanabara, na Ilha do Governador. Ao ser abordada, ela não soube explicar o contrato com a campanha. Repórter: Sou repórter da GloboNews e faço reportagens sobre os gastos de campanha do governador. Lúcia Helena: Ah não, meu filho. Não, não, não me importo com o governo, estou cansado deste assunto político. Repórter: Mas você é o dono do Cinqloc? Lúcia Helena: Sim. Repórter: Sua empresa foi contratada pela campanha. Lúcia Helena: Não sei meu amor. Minha nora é quem cuida disso, não eu. Lúcia Helena Siqueira Lopes de Jesus é sócia única e administradora da empresa Cinqloc Empreendimentos Reprodução/TV Globo Sua nora é Evandreza Henrique da Silva, que foi sócia da Cinqloc até abril de 2022 e concorreu a vice no Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ela obteve quatro mil votos e não foi eleita. Evandreza é casada com Fábio Siqueira Lopes de Jesus. Ele estava na folha de pagamento do Ceperj, órgão do governo do Rio investigado por contratar cabos eleitorais com dinheiro de projetos estaduais, sem qualquer critério ou transparência. Entre janeiro e julho de 2022, Fábio sacou mais de R$ 12 mil em dinheiro. Assim como a sogra, Evandreza não soube explicar os serviços prestados pela Cinqloc durante a campanha eleitoral. Repórter: A empresa está em nome de Lúcia Helena, que é sua sogra. Evandrez: Sim. Repórter: E a Lúcia Helena disse que você era o responsável pela empresa. Evandreza: Não, naquela época eu não era o responsável pela empresa. Eu já tinha saído da empresa porque ia participar da campanha eleitoral para deputado estadual. Evandreza Henrique da Silva foi sócia da Cinqloc até abril de 2022 Reprodução/TV Globo Lúcia Helena disse que não recebeu dinheiro da Cinqloc. Repórter: Mas você não tem nenhuma informação sobre a empresa? Lúcia Helena: Não, obrigada. Repórter: A investigação mostrou que você recebeu R$ 2,5 milhões na sua conta. Lúcia Helena: Não, não, não recebi nada, desculpe. Repórter: Você não recebeu nada? Lúcia Helena: Não, não quero saber! Se fosse assim eu não atenderia, fecharia a porta. Os promotores afirmam que os extratos bancários analisados, e as investigações indicam que a Cinqloc Empreendimentos não existia até meados de outubro de 2022, pouco antes das eleições. O relatório do Ministério Público aponta ainda que, no período eleitoral, a Cinqloc transferiu quase R$ 2,6 milhões para outra empresa, a P5 Soluções. Repórter: O Ministério Público aponta que P5 recebeu R$ 2,5 milhões da Cinqloc durante a campanha. E cerca de R$ 400 mil em um pix que está no seu e-mail. Evandreza: Não, não tenho essa informação. Repórter: Você não foi responsável pelo Cinqloc ou pelo P5? Evandreza: Não, também não. Repórter: Por que a foto do P5 está em seu nome? Evandreza: Deveria ter sido quando eu era funcionário do P5, agora o motivo ainda é assim, não sei, ok? Atualmente, Evandreza acompanha a agenda política do pré-candidato a vereador do Rio, Rafael Thompson. Na época das eleições de 2022, era secretário de governo de Cláudio Castro. A investigação do MPE afirma que Thompson já foi sócio da P5 Soluções, empresa que faturou mais de R$ 2 milhões no período eleitoral, segundo o Ministério Público. E que seu irmão, Mauro Farias, atual secretário estadual de Transformação Digital, foi sócio-diretor da P5 Soluções até 2017. No processo de prestação de contas da campanha de 2022, não há contrato ou comprovante de serviços prestados pela P5 Soluções. O endereço atualizado da empresa é uma casa na comunidade Praia da Rosa, na Ilha do Governador. Acompanhe o canal g1 Rio no WhatsApp e receba novidades da Grande Rio direto no seu celular. O que dizem os citados A defesa do governador Cláudio Castro disse que confia na decisão da Justiça Eleitoral, e que aprovou as contas da campanha em dezembro de 2022. Disse ainda que a Cinqloc já apresentou documentos que comprovam a movimentação financeira, e demonstram que as informações iniciais do MP estavam erradas. A defesa da empresa Cinqloc negou ter feito repasses para a sócia-gerente, Lúcia Helena, e para a P5 Soluções. A defesa do vice-governador Thiago Pampolha disse que ele filiou-se à chapa vinte dias antes das eleições e não cometeu nenhum ato ilícito. O secretário de Estado da Transformação Digital, Mauro Farias, e o ex-secretário estadual de Governo, Rafael Thompson, informaram que, desde 2017, não são mais sócios da P5 Soluções. e, portanto, não há qualquer relação com a atual gestão da empresa. Procurados, Fábio Siqueira Lopes e P5 Soluções não retornaram.
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