As pesquisas de saída indicaram que o partido Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen obteve 34% dos votos. O presidente francês, Emmanuel Macron, sai da cabine de votação durante as eleições legislativas na França, em 30 de junho de 2024. Yara Nardi/Reuters A França realizou neste domingo (30) o primeiro turno das eleições legislativas do país, convocadas há apenas três anos, semanas. A eleição teve um recorde de participação de 40 anos e a extrema direita passou a ser a favorita, segundo pesquisas de boca de urna realizadas pelos institutos Ifop, Ipsos, OpinionWay e Elable e pela Rádio França. Diante da pesquisa, Macron sugeriu uma ampla aliança entre “candidatos republicanos e democratas” para o segundo turno das eleições, que acontecem em 7 de julho. Marine Le Pen pediu aos franceses que dessem a maioria absoluta no Parlamento ao seu partido no segunda rodada. Clique aqui para acompanhar o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O cenário pode inviabilizar na prática o governo de Macron (leia mais abaixo). Segundo as projeções, o partido Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, saiu na frente neste primeiro turno, com 34% dos votos. O bloco formado pelas siglas de esquerda aparece em segundo lugar, com 28,1%, e a coligação de centro liderada pelo partido do presidente francês Emmanuel Macron, em terceiro, com 20% dos votos. Se as projeções se confirmarem, a atual composição da Assembleia Nacional Francesa poderá sofrer uma grande mudança: Texto inicial do plugin Composição atual Juntos (Centro): 250 Nova Frente Popular (esquerda composta por Nupes + Socialistas): 149 Reunião Nacional (extrema direita ) : 88 Republicanos (centro-direita): 61 Outros (esquerda): 22 *Fonte: Projeção Départaments de France Reunião Nacional (extrema direita): de 225 para 265 – aumento de 177 cadeiras Nova Frente Popular (esquerda): 170 para 200 – aumento de 151 cadeiras Juntos (centro): de 70 para 100 – queda de 180 cadeiras Republicanos (centro-direita): de 30 para 60 – queda de 31 cadeiras Outros (esquerda): de 10 para 18 – queda de 12 cadeiras Veja projeção para a Assembleia Nacional Francesa que vem ganhando corpo nas eleições legislativas Nomes da coalizão de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP), passaram a indicar aliança com Macron ou mesmo apoio total ao centro bloco. Jean-Luc Melanchon, líder do France Insubmissa, um dos partidos que compõem o bloco de esquerda, disse após a votação que retirará os seus candidatos se a coligação terminar em terceiro. No sistema político semipresidencialista francês, os eleitores elegem os partidos que constituirão o Parlamento. A sigla ou coligação mais votada nomeia então o primeiro-ministro, que, no país europeu, governa em conjunto com o presidente – que é eleito em eleições presidenciais diretas e separadas das legislativas e que, na prática, é o aquele que ganha mais. protagonismo à frente do governo. Governo de coabitação Se o presidente e o primeiro-ministro forem de partidos políticos diferentes, a França entrará num governo denominado de “coabitação”, o que ocorreu apenas três vezes na história do país europeu e que poderá paralisar o governo de Macron. Isto porque, neste caso, o primeiro-ministro assume as funções de comandar internamente o governo, propondo, por exemplo, quem serão os ministros. O atual primeiro-ministro, Gabriel Attal, é aliado de Macron, mas, se as sondagens se concretizarem, quem deverá tomar posse é Jordan Bardella, de apenas 28 anos, principal nome do partido de extrema-direita de Le Pen, o Encontro Nacional (RN). Após o encerramento das urnas neste domingo, Bardella disse que a votação no segundo turno na próxima semana seria o “momento mais importante na história da Quinta República da França”. A eleição foi convocada antecipadamente no início de junho pelo presidente francês. Perante os maus resultados do seu partido e o avanço da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu – o Legislativo de todos os países da União Europeia, com sede em Bruxelas -, Macron tomou a arriscada e surpreendente decisão de dissolver o Legislativo francês e agendar uma nova votação. A participação nas urnas até as 17h, horário local (meio-dia no Brasil), foi a maior em quase 40 anos no país, com uma taxa de 59% do total de eleitores. O índice é considerado elevado para eleições na maioria dos países da Europa Ocidental, onde o voto não é obrigatório. Nas últimas eleições francesas, em 2002, a participação rondou os 47%, por exemplo. Porque é que Macron pode dissolver o Parlamento em França e convocar novas eleições? Marine Le Pen comemora após pesquisa de boca de urna indicar liderança da extrema direita nas eleições francesas Yves Herman/Reuters O presidente francês Emmanuel Macron deixa a cabine de votação durante as eleições legislativas na França, em 30 de junho de 2024. Yara Nardi/ Reuters Eleições na França Yves Herman /Reuters As eleições parlamentares são realizadas em dois turnos – um neste domingo e outro em 7 de julho. A líder do RN, um partido de extrema direita, Marine Le Pen, vota em Hénin-Beaumont, no norte da França, em 30 de junho , 2024. Yves Herman/ Reuters LEIA MAIS: Por que a aposta eleitoral de Macron pode abalar a democracia na França União de esquerda pode prejudicar Macron e dar vitória à direita radical nas eleições na França O que acontece se a extrema direita assumir o Parlamento? Entenda como funcionam as eleições parlamentares na França O partido de Macron teve maioria na constituição do Legislativo dissolvida pelo presidente, com 169 deputados. O RN de Le Pen foi o partido da oposição mais forte, com 88 cadeiras. Para conquistar a maioria absoluta, uma sigla ou coligação deve chegar a 289 deputados. Se a extrema direita vencer, Macron terá de nomear um adversário para o cargo de primeiro-ministro – se optar por não o fazer, poderá ser alvo de uma Moção de Censura, um recurso do Legislativo em que os deputados votam para decidir se querem queira mantê-lo ou não no cargo. No cenário do chamado governo de coabitação, o presidente mantém o papel de chefe de Estado e de política externa — a Constituição diz que ele também negocia tratados internacionais —, mas perderia o poder de definir a política interna e nomear ministros, o que permaneceria a cargo do Primeiro-Ministro. Isto aconteceu pela última vez em 1997, quando o presidente de centro-direita Jacques Chirac dissolveu o Parlamento pensando que conseguiria uma maioria mais forte, mas perdeu inesperadamente o controlo da Câmara para uma coligação de esquerda liderada pelo Partido Socialista. Impacto no país Parlamento francês Martin Bureau/AFP pede novas eleições. O partido de Macron tentou diversas vezes alertar para o risco da chegada ao poder da extrema direita – que tem se esforçado para moderar a imagem herdada do seu fundador Jean-Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen e conhecido pelos seus comentários racistas. Desde que Marine Le Pen assumiu a liderança do RN em 2011, tem tentado impor agendas populistas aos franceses, com posturas xenófobas e ideais próximos dos do governo russo. Le Pen deixou para trás as posturas racistas e antissemitas do pai, mas manteve agendas anti-imigração. Le Pen já sugeriu retirar o apoio da França à Ucrânia na guerra e que pretende deixar de lado políticas para mitigar o impacto do carbono, com mais incentivos para as indústrias francesas. A expectativa é que o RN governe de forma semelhante à administração da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que, embora adote internacionalmente um discurso focado na preocupação com o clima, permite internamente que ministros e aliados questionem o aquecimento global e os acordos climáticos.
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