Depois de passar 9 anos preso e 1 ano em liberdade com tornozeleira, o homem foi absolvido. Depois de cumprir pena de 10 anos, um morador de Campos dos Goytacazes, na região Norte Fluminense do Rio, conseguiu provar sua inocência e foi absolvido pela Justiça. Everton Rodrigues da Silva foi acusado e condenado por roubo, que é roubo seguido de morte, em 2014. Everton conta detalhes de como tudo aconteceu. Esteve com a família numa casa alugada na Praia do Farol de São Tomé, para passar o carnaval daquele ano. A chegada da Polícia Civil à casa onde estavam hospedados deu início ao pesadelo que duraria uma década. “Eles chegaram com uma foto de duas pessoas, perguntando se a gente conhecia. Eu disse que não. O fiscal de plantão naquele dia perguntou se poderia tirar uma foto minha e eu deixei, porque não devia nada. Eles tiraram a foto e eles imediatamente disseram: ‘Olha, eles reconheceram você como autor de um crime, mas eu não tenho mandado aqui, você pode me acompanhar até a delegacia?’ Na delegacia, o menino foi colocado junto com outras duas pessoas em uma sala, onde supostamente realizaram reconhecimento. Depois, ele foi liberado. Antes, ele deixou contato com o fiscal. [Jonas]. Três dias depois, o fiscal ligou para ele dizendo que havia mandado de prisão para Everton e que caso não tivesse seria considerado foragido da justiça. “Disseram que havia filmagens e que eu parecia estar cometendo o crime. só seria aberto no dia da audiência e eu teria que esperar sob custódia”, explica. Uma vez preso, Everton Rodrigues ficou detido por três meses. Por duas vezes, as audiências foram adiadas. Quando chegou o dia de se apresentar, ele perguntou à prefeitura da época onde estavam os vídeos de vigilância que os policiais civis disseram existir e que estariam em processo. O funcionário disse então que não havia nenhum vídeo anexado ao caso. Mais tarde, ele foi liberado e voltou para casa. Eveton disse acreditar que tudo acabou e que poderia viver sua vida em liberdade. Mas o pesadelo estava apenas começando. Dois meses depois, ele diz que foi condenado a 22 anos de prisão. A base da acusação foi o depoimento de dois adolescentes, na época, que teriam sido obrigados a reconhecer Everton como autor do crime. Mas as descrições apresentadas não condiziam com as características físicas do Everton. O verdadeiro autor do crime, conforme ele explica, seria um homem moreno e de cavanhaque. Everton é negro e na época não tinha barba. Ele acredita que tudo foi uma tentativa de encontrar a qualquer custo um culpado e abafar o caso. “Se você parar para pensar em quantos recursos eu tentei e a Justiça simplesmente jogou meu caso da primeira para a segunda instância, sem mover nada? E você briga com a cabeça o tempo todo, porque você sabe que não cometeu nada Você vive sua infância na cidade inteira, evitando o crime, evitando as drogas, para que possam te pegar em um lugar, te jogar na cadeia e dizer que foi você. [que cometeu o crime]. Porque para mim isso era para abafar o caso. Porque o próprio inspetor se vira e diz: ‘Sei quem foram os verdadeiros autores do crime’. E por que não me soltaram?”, diz Everton. NASCIMENTO DA FILHA Everton perdeu muitos sonhos e conquistas durante o período em que esteve preso. Na época ele estava terminando os estudos, com formatura marcada para segunda-feira (dia em que foi preso ), mas não conseguiu nem o diploma. Porém, a maior perda foi morar com a filha. Quando foi preso, sua esposa estava grávida de três meses. . “Durante toda a minha vida, sempre cuidei dos meus sobrinhos. E quando minha esposa engravidou, meu maior sonho era acompanhar a gravidez dela e o crescimento da minha filha. Mas é algo que perdi, tiraram de mim. Então foi uma parte difícil e muito dolorosa para mim, dentro da prisão, porque não pude nem assistir ao nascimento da minha filha. Quando ela nasceu eu já estava preso há sete meses, já condenado. E o percurso pela visitação. Imagine um recém-nascido tendo que visitar o pai que, talvez, nem seja criminoso”, lamenta. Atualmente, Everton não mantém mais relacionamento com a mãe da filha. Eles dividem a guarda da criança. SOFRIMENTO FAMILIAR Everton, Roseli Silva Rodrigues , conta que no dia da prisão do sobrinho, alguns familiares da vítima do assalto estavam na delegacia e gritaram de forma provocativa e intimidadora: “O pai do falecido disse: ‘Não quero saber quem o matou , Eu só quero. falar que meu filho tem que ser vingado, não importa a quem doa, a morte do meu filho não vai ser assim’. Então o menino [testemunha adolescente] Ele disse que ia contar a verdade. Quando saíram, disseram: ‘Infelizmente não pude contar a verdade, porque meu pai não deixou’, disse Roseli Rodrigues. As visitas ao sobrinho também foram marcadas pela burocracia e humilhações por parte de alguns agentes penitenciários. “Tirando a revista, na época não tinha scanner. . A mãe dele ainda mais, porque veio a Covid e eu fiquei doente por um tempo não pude ir e ela ainda teve que ir sozinha por um tempo”, explica. A família contratou advogados para representar o sobrinho e provar sua inocência. Mas acabaram sendo enganados por três advogados. Segundo ela, nenhum deles aceitou convocar testemunhas para depor a favor do menino e o caso dele não avançou na Justiça. Além disso, ela conta que alguns profissionais da imprensa local rotularam Everton de criminoso de forma exagerada e desrespeitosa. Segundo ela, a família foi ao meio de comunicação contar sua versão dos acontecimentos, mas foi ignorada. Mesmo diante de todas as situações, ela sempre acreditou na inocência do sobrinho. “Nunca tive dúvidas. Quando ele saiu da barriga da minha irmã, saí do Jardim Carioca para vir aqui dar banho nele, cuidar do umbigo do meu sobrinho. Ele nunca teve passagem, nem quando criança, nunca teve mau comportamento”, diz. A PROMESSA DE UMA AMIZADE A esperança de provar a inocência baseava-se numa promessa feita por um amigo de infância. Que quando se formasse em Direito defenderia a causa do Everton e provaria que ele não era criminoso. E o mesmo fez o advogado Patrick Benedito. “Em 2014, ano em que ele foi preso, eu estava no Exército e nem sonhava em fazer Direito.[…]. Depois, decidi fazer faculdade e aprendi sobre os assuntos. Um dia fui visitá-lo e disse: ‘Irmão, quero cuidar do seu caso quando eu me formar, porque sei que você é inocente e tem muitas coisas que eu olhei no seu caso e que podem ser resolvidas’. E aí quando me formei eu falei: ‘Agora sou advogado, vou pegar o seu caso’, conta o amigo. Patrick Benedito explica que identificou algumas ilegalidades no processo e obteve novas provas. A primeira ilegalidade estava relacionada às declarações dos adolescentes, por estarem desacompanhados, mesmo sendo menores de idade. A segunda ilegalidade foi a prisão em flagrante, que só aconteceu três dias após os fatos. “Algum tempo depois, em 2020, eles [os adolescentes] foram presos junto com Everton. Então, a partir daí, decidiram contar toda a verdade. Então escrevi uma declaração corrigindo suas declarações e iniciamos uma revisão criminal. O juiz pediu para ouvir estes dois rapazes e, em tribunal, eles contaram toda a verdade. Quem nunca viu Everton na cena do crime. Então esse foi o meu contexto com a situação do Everton e hoje conseguimos absolvê-lo”, explica. DE VOLTA À VIDA Agora absolvido, Everton não usa mais tornozeleira e trabalha como motoboy. julgamento e prisão injusta “Não quero nada de ninguém, só quero o que tiraram de mim. Meu foco não é dinheiro. Se eu dependesse da Justiça, minha vida acabaria. Foi a minha família que brigou comigo, porque dentro da prisão você só pode contar com a sua família. E é uma luta diária, porque as portas não se abrem da noite para o dia. Ainda mais para você que está preso há tanto tempo e as pessoas não conhecem a sua história, então não é fácil”, enfatiza. Mesmo sabendo das dificuldades, Everton não deixou de sonhar. “Meu sonho é poder completar a prova da minha inocência. Arquivar meu caso, que não é longo, e poder conviver bem com minha família, estudar, fazer faculdade. É isso”, finaliza Everton Rodrigues.
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