O Pantanal está em chamas. Este ano, uma área equivalente a 680 mil campos de futebol já foi consumida pelo fogo no bioma conhecido por suas áreas alagáveis – que também estão secando. Diante de tanta fumaça, chamas e devastação, algumas questões são levantadas. O que está acontecendo no bioma? A temporada de incêndios é normal? Quais impactos os focos de incêndio podem causar no Pantanal? A recuperação é possível? O Pantanal poderia desaparecer?
Nesta reportagem você vai ler sobre a temporada de incêndios que atinge o Pantanal todos os anos e porque esse período é cada vez mais intenso e com intervalos cada vez menores.
Temporada de queimadas no Pantanal
Incêndios: Pantanal tem pior junho da série histórica do Inpe
O bioma é considerado a maior planície de inundação do mundo. Naturalmente, espera-se que o Pantanal tenha uma estação hídrica durante os períodos mais chuvosos. A temporada de incêndios também é esperada durante o período de seca. Porém, devido à ação humana, chamas que deveriam ser causadas apenas por causas naturais, como raios, são intensificadas por incêndios criminosos.
Segundo a analista de Conservação do WWF-Brasil, Cíntia Santos, a temporada de queimadas geralmente ocorre após o período de vazante, quando o bioma fica mais seco.
“A duração da época de incêndios normalmente ocorre quando o período de cheia, que chamamos de vazante, começa a escoar toda a água. E no período de baixa a seca, ocorre esta época de incêndios, entre o final de junho a setembro”, disse. explica.
Mas por que o Pantanal é tão suscetível às queimadas e qual característica do bioma dificulta o combate ao fogo?
O biólogo e diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, explica que devido aos períodos de enchentes e secas, o Pantanal acaba acumulando matéria orgânica altamente inflamável, a turfa, que concentra uma espécie de fogo subterrâneo.
“O que acontece, nos períodos de seca e enchentes nas estações da região, são criadas camadas de matéria orgânica no solo. Imagine toda essa matéria acumulada ao longo de vários anos, é o ambiente ideal para focos de incêndio. que dificulta o combate aos incêndios é o fogo de turfa ou “fogo subterrâneo”, que queima sem que as pessoas percebam, nas camadas mais profundas de toda essa matéria orgânica”.
Eventos climáticos adversos abrem o Pantanal ao fogo
Os eventos climáticos adversos estão interferindo na temporada de queimadas no Pantanal? A resposta é sim. A pesquisadora Cíntia Santos, do WWF, explica que a forte seca que atinge parte do Brasil, aliada às mudanças climáticas e à expansão das culturas agrícolas, são os principais motivos do número recorde de incêndios no Pantanal.
“Os períodos estão cada vez mais curtos, ou seja, as estações estão avançando, e isso é resultado dos efeitos climáticos, aliados à interferência humana e a uma seca prolongada.”
De acordo com nota técnica do Laboratório de Aplicações Ambientais por Satélites da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ), divulgada nesta segunda-feira (24), o Pantanal vive um dos momentos mais secos da história.
A região do Pantanal vive uma “seca persistente de intensidade extrema a moderada há pelo menos os últimos 12 meses”, segundo a nota técnica.
Segundo o documento, desde o final de 2023 e início de 2024, a região apresenta o maior índice de seca já registrado desde 1951, superando o ano de 2020 – que até agora era considerado o primeiro no ranking de secas, considerando a umidade do solo na região.
Muro de fogo e fumaça cerca cidade no Pantanal do MS
Este ano, de 1º de janeiro a 25 de junho, foram registradas mais de 3 mil queimadas no Pantanal. No total, 661 mil hectares foram consumidos pelas chamas (513 mil hectares em MS e 148 mil em MT), segundo dados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os números já superam os registrados no mesmo período de 2020, quando houve nível recorde de devastação no bioma.
Especialistas explicam que o aumento exponencial de focos de incêndios no Pantanal em junho é causado pela antecipação da temporada de queimadas, que só chegaria entre o final de julho e agosto, e pela exposição do solo seco.
“Esse é um dos piores momentos já registrados no Pantanal, em 2020 o fogo matou diretamente cerca de 16 milhões de animais, e este ano pode ser pior”, relata o pesquisador Gustavo Figueirôa.
Esta semana, o estado de Mato Grosso do Sul declarou estado de emergência nas cidades afetadas pelos incêndios.
Para combater o incêndio, equipes do Corpo de Bombeiros contam com equipamentos, auxílio de helicópteros e aviões e agora o apoio de militares de outros estados que estão a caminho de Mato Grosso do Sul. Até esta quarta-feira (26), seguiram para o bioma pantaneiro 42 militares do Distrito Federal e outros 40 do Rio Grande do Sul. A ação é coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que enviou agentes da Força Nacional para ajudar no combate às chamas.
Mapa mostra onde estão concentrados os incêndios no Pantanal em junho de 2024 — Foto: Arte/g1
Incêndios e queimadas: as causas do incêndio
Estudo realizado pela pesquisadora do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renata Libonati, aponta que a atividade humana é a principal causa dos incêndios na região, representando cerca de 84%, seguida por 16 % causada por meios naturais.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, inicialmente esses incêndios provocados pela ação humana iniciam-se com uma queimada, que faz parte das técnicas tradicionais da agricultura familiar, em quase todo o Brasil, com o objetivo de abrir uma área para o plantio. culturas temporárias.
Fogo consome vegetação na região de Corumbá. — Foto: Bruno Rezende
Porém, para que a queimada não se transforme em incêndio, é necessário aplicar algumas técnicas de segurança, incluindo a construção de aceiros, e quando esses cuidados não são tomados, os incêndios são inevitáveis.
No Mato Grosso do Sul, a emissão de novas licenças para queimadas controladas está suspensa desde abril, quando o governo declarou estado de emergência climática no estado.
Há algo que você possa fazer para impedir um incêndio tão intenso?
Incêndio destrói áreas que antes eram alagadas no Pantanal. — Foto: Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal
Algumas medidas de segurança e controle podem ajudar no combate aos incêndios no Pantanal, como queimadas controladas, fiscalizações e multas, monitoramento, além de iniciativas governamentais voltadas à preservação do bioma, explica o pesquisador Gustavo Figueirôa.
“Para evitar que essa devastação ocorra a cada ano e se agrave, precisamos de um conjunto de ações para controlar todo esse incêndio, e essas ações devem ser realizadas o ano todo, e não apenas quando o bioma já está em chamas”.
No Mato Grosso do Sul é adotada a queima controlada, técnica de manejo do fogo utilizada para queimar apenas a superfície da vegetação e evitar grandes incêndios em épocas de chamas ou secas.
Mas esta acção por si só não é suficiente. Em abril deste ano, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso assinaram um plano integrado de proteção contra incêndios no Pantanal. Os dois estados se comprometeram a gerir um grupo de trabalho formado por equipes técnicas. O prazo de cooperação para a proteção do bioma terá duração de cinco anos e prevê:
- Criar uma resposta e responsabilização pelos incêndios florestais;
- Monitoramento da vida selvagem;
- Investimento na produção sustentável;
- Investimento em turismo.
Desde 2020, órgãos de fiscalização ambiental já aplicaram R$ 53,8 milhões em multas por incêndios considerados criminosos no Pantanal, em 94 autos de infração, Mato Grosso do Sul. Cada auto de infração representa uma área queimada que pode abranger milhares de hectares.
O Pantanal corre risco de desaparecer?
Corpos de Bombeiros atuam em diferentes áreas do Pantanal — Foto: CBMMS/ Reprodução
O bioma, que abrange 210 mil quilómetros quadrados, equivalente às áreas combinadas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda, está a perder a sua área inundada.
Novos dados científicos revelaram que o Pantanal tornou-se um ambiente cada vez mais seco.
Levantamento do Mapbiomas, divulgado nesta quarta-feira (26), mostra que quase 60% do Pantanal foi afetado pelo fogo nos últimos 38 anos. E em 2023, a área inundada ficou 61% abaixo da média histórica.
O levantamento levou em consideração a média histórica de 1985 a 2023. Segundo o MapBiomas, Mato Grosso do Sul, que possui 65% do território pantaneiro, registrou perda de superfície hídrica de 274 mil hectares (-33%), sendo o estado com a maior queda do país. Em segundo lugar está Mato Grosso, que perdeu 263 mil hectares (-30%).
“Infelizmente o Pantanal está muito ameaçado, e isso não é um alarme dos cientistas, isso está cientificamente comprovado em fatos. A degradação das partes altas do planalto, que ficam no cerrado, ou mesmo da Amazônia, que é o entorno área, interfere muito na dinâmica de produção de chuvas. Uma série de fatores juntos, sim, infelizmente, representam uma enorme ameaça ao Pantanal que conhecemos”, disse a analista de Conservação do WWF-Brasil, Cíntia Santos.
A última grande inundação no bioma, que abrange mais de 4,7 mil espécies, entre plantas e vertebrados, ocorreu há seis anos.
Incêndios já destruíram 680 mil hectares do Pantanal
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