Uma vitória da esquerda afasta a extrema direita do governo, mas, sem uma maioria clara, o país vive a incerteza e a ameaça de um Parlamento paralisado. As projeções para as eleições legislativas trouxeram mais incertezas do que certezas para o futuro governo francês. A Nova Frente Popular, de esquerda, é sem dúvida a maior vencedora da segunda volta, enquanto a extrema-direita Rally Nacional é derrotada, caindo para o terceiro lugar, atrás do grupo liderado pelo Presidente Emmanuel Macron. Embora se preveja que o número de assentos na Assembleia duplique, o partido de Marine Le Pen está longe da maioria absoluta necessária para liderar o governo. AO VIVO: Acompanhe a cobertura das eleições legislativas Nossa vitória acabou de ser adiada, diz Marine Le Pen Veja diferenças entre direita, extrema direita, esquerda e extrema esquerda Nenhum dos três blocos conseguiu maioria e é aí que paira a principal incerteza: quem vai governo? A França caminha para um parlamento suspenso, o que exigirá a formação de alianças entre grupos com interesses inconciliáveis. Formada por cinco partidos, a Nova Frente Popular reuniu-se rapidamente após a dissolução da Assembleia Nacional por Macron. São partidos que têm diferenças ideológicas entre si, mas em comum alcançaram o mesmo objetivo: travar a ascensão do RN neste segundo turno e impedir a nomeação do discípulo de Marine Le Pen — o jovem Jordan Bardella — como primeiro-ministro francês. . Não é por acaso que Jean-Luc Mélenchon, o líder da França Insubmissa, foi o primeiro a se manifestar, como principal partido do bloco, para exigir e reivindicar a vitória do seu bloco, logo após a divulgação das projeções de resultados. “O presidente tem que se curvar e admitir que isto é uma derrota. Ele tem o poder e o dever de convocar a Nova Frente Popular para governar”, previu Mélenchon. Não por acaso, Macron preferiu permanecer em silêncio até que o panorama ficasse mais claro. A euforia inicial desta vitória da esquerda sobre a extrema direita gerou rapidamente dúvidas sobre o carácter de possíveis alianças. A coligação centrista Juntos, de Macron, descartou, durante a campanha, negociações com os extremos, sejam de esquerda ou de direita. O inverso parece ser verdadeiro. Mélenchon deixou claras, em seu discurso de abertura, as divergências com o atual governo, incluindo a reforma previdenciária. Os próximos dias serão cruciais para testar o equilíbrio de poder dentro da Nova Frente Popular, unificar vozes e definir quem de fato a liderará. Os socialistas moderados poderiam, por exemplo, tentar separar-se da esquerda radical e juntar-se ao bloco de Macron, que deverá perder 100 assentos no Parlamento, mas, o que é menos grave, ainda estava à frente do RN. A manobra do presidente, ao dissolver a Assembleia Nacional e antecipar as eleições após o colapso da sua coligação no Parlamento Europeu, assustou o país, com a perspectiva de a extrema-direita assumir o governo. Cerca de 200 candidatos de centro e esquerda abandonaram a disputa no segundo turno, para impedir a propagação do RN. Macron e o NFP adiaram mais uma vez os planos de Le Pen e do seu partido, mas a França mergulhou num cenário desconhecido, dividida em três blocos – por enquanto, ingovernáveis e com o Parlamento paralisado.
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