Museu da República, que ocupa o palácio onde o presidente se suicidou há 70 anos, inaugura a exposição ‘A sala que entrou para a história’ Até aquele 25 de agosto de 1954, o Rio nunca havia presenciado uma reunião tão popular. Desde a véspera, o país acompanhava em estado de choque a notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas. Após o velório no Palácio do Catete, centenas de milhares de pessoas seguiram o cortejo em silêncio, segundo relatos da época, até o Aeroporto Santos Dumont, de onde o corpo seria levado para sepultamento em São Borja, no Rio Grande do Sul. Do alto de um prédio, a fotógrafa Campanella Neto registrou o tamanho da multidão. A imagem ainda impressiona hoje, 70 anos depois. O impacto emocional dos acontecimentos ocorridos nesses dois dias ficou na memória de quem os viveu. As marcas deixadas por Getúlio na cidade onde governou o Brasil por quase 19 anos ainda estão vivas e visíveis sete décadas depois. Encontrado: Filho e nora posam com casal brasileiro desaparecido há cinco dias no Chile Condomínio de drogas: Demolições no Complexo da Maré chegam ao sexto dia consecutivo Um panorama bastante completo da relação do ex-presidente com a cidade pode ser conferido em a exposição “Getúlio Vargas e o Rio de Janeiro”, no Memorial Municipal Getúlio Vargas, no bairro da Glória. O espaço completou ontem 20 anos – foi inaugurado no cinquentenário da morte de Vargas – mas ainda é relativamente pouco conhecido. A maioria das pessoas reconhece o local mais pelo enorme e polêmico busto do estadista que fica na entrada. Esplanada do Castelo No subsolo, a sala circular contém dezenas de fotografias que ilustram as transformações do Rio da época. Há registros de obras icônicas como os prédios dos Ministérios da Fazenda e do Trabalho, de arquitetura um tanto sóbria; o modernista Palácio Capanema, sede do então Ministério da Educação e Saúde; e a abertura da imensa estrada que mudaria para sempre a paisagem da cidade ligando o Centro à Zona Norte e que, não por acaso, recebeu o nome elogioso de Avenida Presidente Vargas. A visita é gratuita, mas para ver a exposição é preciso estar preparado para passar calor. O local não tem ar condicionado há algum tempo. Na entrada, dois ventiladores comuns trabalham em vão. A Secretaria Municipal de Cultura informou que “está tomando as medidas necessárias para recuperação dos equipamentos”. Estudantes visitam o Museu da República, que funciona no Palácio do Catete, sede da Presidência da República de 1897 a 1960: hoje ponto de encontro dos cariocas Custódio Coimbra Responsável pela coordenação da pesquisa da exposição, a historiadora Beatriz Kushnir vê Vargas em seu primeira visita ao poder, momento de reafirmação da cidade do Rio como centro irradiador do poder no país. — O Rio consolidou-se como uma capital política efervescente durante esses 15 anos (de 1930 a 1945) do governo Vargas. É lógico que existe todo um contexto anterior, dos trabalhadores, mas é nesse momento que tudo isso se consolida — diz Beatriz, que preside a seção carioca da Associação Histórica Nacional e foi a primeira diretora do Memorial Vargas. Entre tantas mudanças — estruturais, urbanas, sociais e culturais — vividas pelo Rio (e pelo país) durante a chamada Era Vargas, Beatriz aponta a necessidade de uma análise crítica daquele momento da História: — Não dá para olhar nesse momento de forma plácida, é preciso observar todas as suas contradições. Possibilitará a industrialização porque é uma forma de desenvolvimento autoritário do Estado, com pouca participação popular. Capturado: Operação das Polícias Civil e Militar prende chefe de milícia da Zona Oeste do Rio Prestes a completar 80 anos em setembro, o presidente Vargas é incontornável quando se trata do legado de Getúlio no Rio, tanto pela dimensão simbólica quanto física —são quase quatro quilômetros de extensão , da Candelária até a Praça da Bandeira, com quatro faixas que juntas chegam a 80 metros de largura. Sua inauguração exigiu a demolição de 525 imóveis. O antigo e histórico Rocio Pequeno, rebatizado no Império como Praça Onze de Julho, em referência à data da vitória brasileira na Batalha do Riachuelo, durante a Guerra do Paraguai, também desapareceu. O museólogo André Angulo arruma o pijama que Getúlio Vargas usava quando se matou. O revólver usado no suicídio e a máscara mortuária também estão expostos no Museu da República Custódio Coimbra — a Praça Onze era múltipla, quando falamos dela, falamos da pequena África, da Judiaria, tinha um grupo carnavalesco lá que desfilaram cantando a marcha do rancho em iídiche. Foi também um reduto cigano muito importante. Esta é uma memória que, em grande parte, é apagada com a abertura da avenida. Ao mesmo tempo, é uma via urbana da maior importância que permite uma ligação muito rápida entre a Zona Norte e o centro da cidade — afirma o professor e historiador Luiz Antonio Simas. Ao longo da avenida, encontram-se outros edifícios emblemáticos do período do Estado Novo, como o edifício Central do Brasil (1937) e o Palácio Duque de Caxias (1941), atual sede do Comando Militar do Leste. Outro ponto que marca profundamente a trajetória de Getúlio no Rio é o obelisco da Avenida Rio Branco, onde os gaúchos revolucionários de 1930 amarraram seus cavalos. Perto dali, na Cinelândia, um busto de Getúlio Vargas — bem menor que o instalado na Glória — foi colocado anonimamente na manhã do suicídio. Assinada pelo escultor Luiz Ferrer de Moraes, a peça em bronze ainda hoje existe, mas sem identificação. A Secretaria de Conservação municipal informou que a placa, avaliada em R$ 80 mil, onde estava inscrita em bronze a famosa carta-testamento do presidente, foi roubada e que “estão sendo realizados estudos” para substituí-la por “material que impeça novos furtos”. — A única pista que temos sobre a origem desta peça é um texto do (jornal) Diário da Noite que diz ter sido um busto que estava no Instituto da Segurança Social e Assistência aos Servidores do Estado, mas ninguém sabe quem o colocou na praça — diz o cientista social Paulo Celso Corrêa, técnico do Arquivo Histórico do Museu da República, autor de artigo sobre o assunto. Embora Vargas tenha vivido no Palácio Guanabara durante seu período como ditador — no salão nobre ainda há dois retratos a óleo do ex-presidente —, nenhum lugar lembra mais os anos do então presidente no Rio do que o Palácio do Catete, onde morou. sua última gestão como presidente, de 1951 a 1954. Área de lazer O local que foi centro do poder no Brasil há muito se transformou em um dos mais importantes espaços de convivência e lazer da cidade. No jardim do palácio é comum ver crianças brincando, praticantes de ioga, grupos fazendo grandes piqueniques e idosos reunidos em torno de um animado sarau. Aberto diariamente das 8h às 18h, recebe cerca de 2.500 visitantes durante a semana e mais de 3.800 nos finais de semana. Em dias de eventos, como feiras literárias e gastronômicas, o público ultrapassa os cinco mil. O Museu da República ocupa um prédio de estilo eclético construído entre 1858 e 1867. Parte importante da História do Brasil, o prédio atrai visitantes de todas as idades. Em meio a salões ricamente decorados, o local mais frequentado é a sala onde Vargas deu um tiro no peito, em 24 de agosto de 1954. A sala, de decoração simples, estava fechada há algum tempo e foi reaberta ontem para a exposição “A Sala que entrou para a História: a memória de Getúlio Vargas no Museu da República”. Fora da vista do público desde 2020, o famoso pijama que o presidente usou naquela manhã, ainda com a marca de tiro na altura do peito, ao lado do monograma GV, está novamente em exposição, junto com o revólver calibre 32 que utilizou. A exposição também traz a máscara mortuária de Getúlio. — Lembro-me muito bem do dia em que chegou a notícia da morte dele. Foi uma tristeza enorme, um silêncio, uma comoção que nunca mais vi igual — diz Zilca Fortes, 86 anos, viúva do barítono Paulo Fortes, morador do Cosme Velho e frequentador assíduo do jardim do palácio. Nos corredores do Museu da República é comum ver grupos de alunos orientados por professores. — Sempre que falo de Vargas nas aulas, independente da classe social da turma, surge alguém dizendo que o avô ou a avó amava Getúlio, é muito comum — diz o professor de história Flávio Morgado, 35 anos, que liderou um grupo pelo corredores do catete na tarde da última quarta-feira.
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