A metodologia que analisa águas residuais é conhecida como “Epidemiologia Baseada em Esgoto”. Fortaleza é uma das capitais com especialistas trabalhando na análise de redes de esgoto. Monitoramento de redes de esgoto pode ajudar nas questões de saúde de Fortaleza. Thiago Gadelha/SVM O tratamento adequado das redes de esgoto pode auxiliar a saúde pública em questões que vão além do saneamento básico. As amostras colhidas em águas residuais têm o potencial de ajudar os especialistas em saúde a conceber diversas estratégias, como o combate a vírus (como o Covid-19) e bactérias multirresistentes aos antibióticos. A capital Fortaleza está dentro dessas áreas de monitoramento (veja abaixo). Clique aqui para acompanhar o canal g1 Ceará no WhatsApp A técnica de vigilância sanitária que utiliza amostras de esgoto é conhecida como Epidemiologia Baseada em Esgoto (entenda mais sobre o conceito abaixo). Durante a pandemia da Covid-19, Fortaleza foi uma das capitais participantes da Rede de Monitoramento de Esgoto Covid junto com outras cinco capitais brasileiras. Mas o que o esgoto tem a ver com o coronavírus? O professor universitário André Bezerra dos Santos, que coordenou a rede no Ceará, explica. “Esse monitoramento ocorreu semanalmente e geramos gráficos, mapas, demonstrando exatamente a evolução dessas cargas virais nas estações de tratamento. E também fizemos essa avaliação do perfil de concentração em todo o espaço em mapas, de Fortaleza, mostrando assim a abrangência do aumento ou diminuição das concentrações virais”, comentou o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal de Ceará (UFC). Conheça a Epidemiologia Baseada em Esgoto, uma metodologia universal de saúde. O professor André Bezerra explicou que as amostras poderiam ser coletadas em diversos locais, como: Estações elevatórias de esgoto; Estações de tratamento de esgoto; Canais fluviais, para chegar à população não servida por rede coletora; E, em alguns casos, em tubulações — mas isso era menos comum. O professor contou que, no Ceará, também foram desenvolvidos projetos de monitoramento de arboviroses e varíola dos macacos. Como as amostras de esgoto ajudaram no monitoramento? A análise de águas residuais ajuda a prever possíveis aumentos de patógenos monitorados. Thiago Gadelha/SVM O Monitoramento ajudou, entre outros fatores, a identificar antecipadamente a concentração de fragmentos do vírus para promover intervenções locais de saúde, como melhoria de testes clínicos, rastreamento de indivíduos sintomáticos e assintomáticos e com sintomas leves. O professor explicou que, quando determinado local apresentava comportamento atípico, ou seja, quando a velocidade de propagação era superior à das demais (demais capitais monitoradas), eram emitidas notas de alerta, para serem utilizadas pelas autoridades de saúde no sentido de plano unidades de saúde. As informações do Ceará foram enviadas ao Núcleo de Inteligência em Saúde, vinculado à Faculdade de Saúde Pública, e à Secretaria de Saúde. O g1 perguntou à secretaria se havia projetos com a EBE atuantes no estado, mas o órgão disse que não havia. A Epidemiologia Baseada em Esgotos ajuda no monitoramento de vários patógenos. Thiago Gadelha/SVM A Rede de Monitoramento de Esgoto Covid foi coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Diana Cavalcanti, coordenadora Situacional e de Gestão da ANA, explicou que o projeto piloto começou com o monitoramento em Belo Horizonte. Os resultados positivos motivaram a criação da rede em outras capitais brasileiras. “Os resultados surgidos nesse período demonstraram que o mapeamento do coronavírus no esgoto pode ser uma importante ferramenta de vigilância epidemiológica, podendo também fornecer feedback importante ou auxiliar as autoridades de saúde, inclusive na definição de ações de combate à disseminação do coronavírus. , em medidas de isolamento, abrindo ou fechando comércios, restringindo circulação”, comentou Diana. Ela também reforçou o potencial do monitoramento funcionar como um alerta precoce do início de um aumento repentino na circulação do vírus em alguns locais de maior concentração de pessoas. “O que se observou foi que a onda, crescente em alguns períodos do ano, coincidiu com uma antecipação dos registros de resultados na rede de esgoto. Então foi interessante porque pudemos realmente verificar que essa vigilância no esgoto poderia identificar tendências de ocorrência do vírus ao longo da curva epidêmica”, destacou Diana. Relevância científica da EBE Os resultados obtidos no monitoramento do coronavírus ajudaram pesquisadores brasileiros a demonstrar a relevância do uso da metodologia para detectar antecipadamente surtos de Covid-19, segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A pesquisa foi apresentada no artigo “Epidemiologia baseada em águas residuais: uma experiência brasileira de vigilância do Sars-CoV-2”, publicado no Journal of Environmental Chemical Engineering, revista científica da Elsevier. O fator de impacto das publicações científicas é de 7.968, número considerado alto para a área de ciências biológicas. A pesquisa foi financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e outras instituições. O monitoramento contra bactérias EBE tem potencial para analisar diversos patógenos, além de vírus. Entre elas estão as bactérias multirresistentes, ou seja, são resistentes aos efeitos dos medicamentos e afetam a capacidade de tratar as infecções por elas causadas. Microrganismos multirresistentes, inclusive, foram listados como uma das principais ameaças à saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019. Por isso, a Rede de Pesquisa foi criada para monitorar bactérias resistentes a antibióticos e genes de resistência a antibióticos no esgoto de cidades brasileiras (ReViRAE). A Fiocruz do Ceará faz parte da rede. O projeto visa criar uma rede de pesquisa para vigilância de bactérias e genes de resistência a antimicrobianos (antibióticos) provenientes de esgotos em dez capitais brasileiras distribuídas pelas cinco regiões do país. Fortaleza foi a cidade escolhida no Nordeste. “Essas bactérias multirresistentes são um grande problema no mundo, porque ultimamente estamos perdendo a batalha para os patógenos, porque não existem mais medicamentos, novos grupos ou novas classes de antimicrobianos para lidar com os diferentes tipos de infecções que ocorrem principalmente em hospitais”, destacou Fábio Miyajima, membro do Projeto ReviRAE e coordenador geral da Rede Fiocruz de Vigilância Genômica no Ceará. Os microrganismos multirresistentes são considerados uma das principais ameaças à saúde pela OMS. Thiago Gadelha/SVM Por isso, Miyajima alertou que também é importante entender essas bactérias do ponto de vista genômico, do nível de circulação, da sua presença ou ausência; seu perfil de resistência. “Nem sempre é possível acompanhar diretamente os pacientes, o que seria um grupo muito grande para fazer uma investigação individual de cada pessoa”, comentou. “Uma forma de fazer esse monitoramento é analisar o efluente, porque é um sistema que não mente, independente de a pessoa estar tentando se testar ou não, você consegue detectar, através do material coletivo, de diversas subestações de tratamento, para poder acompanhar”, reforçou o especialista. Fábio alertou que a metodologia não funcionará para todos os patógenos, mas que é importante avaliar quais terão melhor valor para serem aplicados na saúde pública, na emergência sanitária. “Essa questão de avaliar bactérias é muito importante porque hoje existem muitas bactérias semelhantes às que circulam e causam infecções nos hospitais, que são difíceis de tratar, mas são semelhantes, da mesma família, mas não causam a doença . ou não causa a mesma gravidade”, disse ele. Fábio explicou que, com as técnicas utilizadas, é possível identificar com mais precisão a quais antibióticos as bactérias são resistentes. “É um bom indicador. Se você encontrar um grande número de cópias de uma determinada bactéria e um conjunto de plasmídeos ilhas de resistência, que estão associados a um perfil de resistência a um tipo de medicamento, então você pode dar um indicador ao gestor de saúde para racionalizar a prescrição. , ou mesmo suspender a prescrição de determinado tipo de antibiótico que está causando mais problemas do que ajudando”, acrescentou. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará
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