A saída de Silvio Santos provocou uma onda de homenagens, mas também críticas, mostrando a propensão que temos em reduzir pessoas, de natureza tão complexa. Assistindo ao programa “Que história é essa, Porchat?”, já parei para pensar diversas vezes no que eu gostaria de ter escrito em minha lápide, quando ele faz essa pergunta aos seus convidados. E, na semana passada, após a morte de Silvio Santos, fiquei me perguntando o que diriam de mim se eu deixasse este mundo. Como você me definiria? Ou como você me resumiria? “Ela era uma mulher simpática, sentiremos falta dela”, “Que a família dela não me escute, mas já era tarde” ou ainda “Só porque ela morreu não significa que ela vai virar santa”? Talvez todas as alternativas estejam corretas, tudo dependeria de quem opinasse sobre mim. O que me chama a atenção é o hábito que temos de tentar reduzir uma pessoa a apenas uma coisa, algo impossível se pensarmos que somos todos um conjunto de complexidades, despertamos diferentes sentimentos individualmente e desempenhamos diferentes papéis coletiva e socialmente. Quer você goste ou não da figura midiática Silvio Santos, não há como negar a relevância que ele teve na história recente do Brasil. Um país em grande parte formado e influenciado pela TV, veículo em que ele reinou mais do que qualquer outro, como confirmam mesmo aqueles que com ele competiram na luta pelos índices de audiência. Ficou óbvio, portanto, que as emissoras prestaram a devida homenagem a este que foi o maior comunicador que já tivemos. A sua ausência representa o fim de uma época, com muitos erros, é verdade, mas que não anulam o seu pioneirismo e a originalidade das suas conquistas. Porque essa gigantesca comoção gerada também despertou os não admiradores do apresentador, que destacaram, principalmente, as posições políticas de Silvio Santos ao longo do tempo, desde a época em que nosso país vivia sob um regime ditatorial até um período mais recente, em que manifestou apoio a Jair Messias Bolsonaro. O comportamento muitas vezes machista, racista e fatfóbico do dono do SBT também foi lembrado. Justamente porque Silvio é um grande símbolo da TV nada disso pode ser negado, há imagens que confirmam tudo. Mas mesmo que eu não concorde com nenhuma das suas posições, posso reconhecer que, para o público em geral, a sua história ressoou muito mais positivamente do que negativamente. Então, como ignorar a identificação do povo com seu passado humilde, com sua trajetória de vendedor ambulante que fez sucesso na vida? E depois disso, como deslegitimar a escolha que a grande maioria da população fez de encarnar neste sujeito a ideia de leveza, riso e alegria num dia de descanso em família? Os intelectuais diriam que ele era um grande símbolo de alienação, espetacular para os colegas da plateia. Só isso, certo? Toda opinião sobre algo ou alguém é influenciada pelas nossas experiências, pelos conhecimentos adquiridos, pelo círculo cultural em que estamos inseridos. Acho que, às vezes, dependendo da bagagem que temos, temos dificuldade em entender a perspectiva do outro porque nos achamos mais sábios, mais experientes, inteligentes ou até melhores. Quando se trata de um personagem extremamente popular, há um preconceito flagrante, o que agrava o elitismo de parte da sociedade brasileira. Presunção que se manifesta na certeza de que o que é popular é necessariamente mau ou inferior. Há muitas coisas pop que são realmente terríveis, mas isso não deveria ser regra. A admiração por ninguém deveria ser absoluta, gente. Isso é ilusão. Mas quer você tenha alguma crítica ou consideração em relação a Silvio Santos e às ferramentas que ele utilizou em benefício próprio ao longo de sua vida pública, sua importância foi validada pelo povo durante décadas, não apenas por uma temporada, não. Como algumas pessoas notaram na internet e em reportagens que proliferaram pelo mundo, o anúncio de sua morte foi um dia para lembrar, entre outras coisas, da nossa avó feliz na sala, da nossa infância, da família reunida no sofá. E eu nem lembrava como era bom pensar na minha avó feliz… Como vão resumir isso quando você morrer, leitor? Gabriela Germano é editora assistente e atua na área de cultura e entretenimento desde 2002. É pós-graduada em Jornalismo Cultural pela Uerj e formada pela Unesp. Sugestões de temas e opiniões são bem-vindas. Instagram: @gabigermano E-mail: gabriela.germano@extra.inf.br
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