Quem vai às lojas e mercados em busca de algo para adoçar o dia tem se assustado com os preços de um dos produtos mais queridos do mundo.
No Brasil, as barras de chocolate e os doces aumentaram 35% entre janeiro de 2020 e maio deste ano, segundo o IBGE. Este é o resultado da maior crise dos últimos 40 anos enfrentada pelos produtores de cacau, matéria-prima dos doces.
Para se ter uma ideia, o carregamento de cacau a granel ultrapassou os US$ 12 mil na Bolsa de Nova York em abril, o maior preço já cobrado na média histórica. No Brasil, uma arroba da fruta, que antes custava até R$ 250, hoje é vendida por R$ 700.
Produção de chocolate — Foto: Divulgação Lugano
Numa fábrica de chocolates artesanais em Gramado, os preços dos produtos subiram cerca de 40%. O diretor Augusto Luz afirma que o aumento foi necessário porque a marca decidiu não alterar as receitas.
“O cacau é comprado de produtores que o precificam acima do valor de bolsa e também acrescentam um prêmio adicional. Normalmente você paga cerca de 20% ou 30% a mais. A manteiga de cacau, por exemplo, que era paga a R$ 30, até meados do ano passado, hoje está na faixa dos R$ 250. Então, muitas indústrias começaram a substituí-lo por gorduras vegetais alternativas. A grande maioria dos chocolates de supermercado reduziu o cacau ao mínimo possível”, explica Augusto.
Fábrica de chocolate — Foto: Divulgação Lugano
Esse cenário é explicado pelas mudanças climáticas, que afetam tanto a produção no Brasil quanto nos países da África Ocidental, onde se concentram grandes plantações de cacau. O economista da FGV Matheus Dias afirma que a perspectiva é que os preços continuem subindo:
“O chocolate que se consome no mundo tem uma grande marca de produção na África Ocidental. Ele vem de Gana e Costa do Marfim, que concentram cerca de 70% da produção mundial. O Brasil tem uma produção que acaba não compensando a demanda que temos aqui . Então, acabamos importando uma quantidade significativa de cacau. Mesmo que haja uma melhora para o produtor nacional, a perspectiva, tanto para o produtor quanto para o consumidor, é que os preços continuem acelerando.”
A falta de chuva e o calor extremo também afetaram a produção de Tuta Aquino — Foto: Acervo pessoal de Tuta Aquino
A falta de chuvas e o calor extremo também afetaram a produção de Tuta Aquino, vice-presidente da Associação Bean to Bar Brasil, que reúne fabricantes de chocolates feitos a partir de grãos de cacau. Sua plantação na Bahia atingiu apenas 25% da colheita esperada na primeira safra deste ano.
“Tanto o Pará, que possivelmente é o maior produtor de cacau do Brasil, quanto a Bahia, sofreram calor excessivo e um pouco de falta de chuvas nos meses de setembro, outubro e novembro do ano passado. normalmente além desses fatores, a partir do momento em que os preços começaram a subir, entraram players que não são necessariamente os compradores finais do cacau. São as grandes indústrias e os pequenos produtores de chocolate. Dessa forma, os investidores viram uma oportunidade para especular nisso. mercado e isso piorou”, explica Tuta.
No Brasil, a presença de uma doença causada por um vírus que não tem cura também impactou as plantações. No ano passado, os agricultores tiveram de destruir algumas das áreas afectadas para evitar a propagação. Segundo o Ministério da Agricultura, o vírus já está controlado.
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