Neste artigo tentarei responder a uma pergunta que muitos dos meus alunos de graduação têm sobre como relacionar a satisfação do investidor com o retorno e o risco do investimento.
Como o investidor é a peça central do processo de investimento, começo com uma analogia sobre ele.
Nas nossas decisões do dia a dia estamos sempre em busca do prazer, ou da satisfação, ao mesmo tempo que tentamos a todo custo evitar a dor e o sofrimento.
Por exemplo, uma decisão comum e simples. Todos os dias ocorre na hora do almoço quando temos que escolher entre pedir um prato suculento ou outro menos calórico e menos saboroso, mas mais adequado para manter a dieta.
Ainda sobre o almoço, muitas vezes já estamos meio satisfeitos, com aquela sensação de que poderíamos parar, mas é difícil controlar a vontade diante de um prazer tão grande, se houver força de vontade. O trade off, consequência da gula, é a balança, ou melhor, a possibilidade de ganhar peso e ficar acima do peso, o que é prejudicial à saúde ou à autoimagem.
Uma decisão de investimento também opõe prazer e sofrimento. Por um lado, o retorno que valoriza o capital e nos faz ver o nosso dinheiro crescer, e por outro, o risco, ou a possibilidade de perda, que impõe contenção face ao medo de ver os recursos desperdiçados.
No mundo dos investimentos, a ideia de prazer e dor é traduzida como uma frase em que a rentabilidade cria satisfação e o risco a destrói. Seria como uma equação em que a primeira entra com sinal positivo, somando satisfação, e a segunda é negativa e subtrai. Costuma-se dizer, então, que o investidor busca retorno e evita riscos na tentativa de maximizar a satisfação (ou utilidade, no Economist).
Mas a predisposição ao risco, assim como o apetite, é diferente para cada pessoa. Alguns têm maior tolerância e aceitam participar de investimentos que podem produzir retornos elevados, mas cuja possibilidade de perda é maior. Outros são tão avessos ao risco que preferem abrir mão de qualquer possibilidade de ganho extra que implique a menor chance de ver parte do seu capital diminuir. Em outras palavras, cada um tem seu próprio nível de aversão ao risco.
Abaixo descrevo alguns elementos importantes para entender a equação.
Cada investidor é único, tem objetivos de vida diferentes, está em pontos diferentes do ciclo de vida e possui certo nível de aversão ao risco.
Suitability, também conhecido como Adequação do Perfil do Investidor, é um processo aplicado por bancos e corretoras, por força de regulação e autorregulação, cujo objetivo é conhecer o investidor. Você precisa saber quem ele é para poder fazer a oferta mais adequada.
Por exemplo, se uma pessoa tem um elevado nível de aversão ao risco, só faz sentido oferecer investimentos em ações até um limite suficientemente baixo que não comprometa o capital investido. Às vezes nem é recomendado oferecer esse tipo de investimento mais arriscado, que muitas vezes é chamado de volátil.
Infelizmente na grande maioria dos casos investidores e profissionais veem o Suitability como uma burocracia, algo deve ser feito rapidamente, afinal estaria no meio do processo, às vezes impedindo o investidor de comprar o que deseja e atrasando os objetivos e comissões do vendedor.
Eu disse acima que os investimentos têm risco e que isso destrói a satisfação do investimento. Porém, existe um investimento que é considerado livre de risco. É o caso dos títulos públicos de curtíssimo prazo, emitidos pelo Governo Federal.
Evitando entrar em detalhes, no Brasil eles são muito bem representados pelo Tesouro Selic. Basicamente o prazo é de um dia, a taxa de juros varia de acordo com o estado de espírito da economia e é garantida pelo Governo. Resumindo, seu dinheiro crescerá passo a passo e sem risco de perda.
Lembrando do conceito acima: o retorno cria satisfação e o risco a destrói. Como o Tesouro Selic não tem risco, ele, por definição, apenas agrega valor.
Os investidores que desejam, portanto, retornos acima da Selic precisarão diversificar seus investimentos em busca de ativos de risco e se expor às possibilidades de verem seus recursos oscilarem entre perdas e ganhos. Neste contexto de diversificação, quem é mais avesso, com menor apetite ao risco, fica mais comedido enquanto quem é menos avesso vai às compras com maior apetite.
Esse rendimento acima do ativo livre de risco, acima do Tesouro Direto, é conhecido como prêmio de risco. Quanto maior o risco, maior deverá ser a recompensa.
A equação da satisfação
A seguir, farei algumas simplificações para maior clareza. Muitos detalhes tendem a dificultar a compreensão do que realmente importa.
A equação simplificada é a seguinte:
Satisfação = Desempenho da aplicação – (Coeficiente de aversão ao risco * nível de risco da aplicação)
Um exemplo para tornar tangível. Um investimento cujo retorno esperado é de 15% e nível de risco de 2%, gerará um sentimento de satisfação de 9% para um investidor com nível de aversão 3 (15-(3*2) e 5% para outro cuja aversão é 5 (15-(5*2).
Esses níveis de aversão são definidos de perto pela Adequação. O coeficiente de aversão ao risco é resultado do processo. Daí a importância de preencher cuidadosamente o formulário perguntando sobre o comportamento diante do risco.
Espero ter duas lições neste artigo.
A primeira é que o investidor deve sempre comparar os retornos esperados das diferentes alternativas de investimento com o ativo livre de risco, no nosso caso o Tesouro Selic. Hoje, por exemplo, com retornos em torno de 11%, é bom pensar bem quanto vale a pena correr risco.
A segunda é que o retorno e o risco não estão sob seu controle, o mundo os definirá acima de sua cabeça. A única coisa sobre a qual você tem controle é o seu nível de aversão ao risco, então invista mais tempo para se conhecer.
Os melhores investimentos não são os que rendem mais, são os que lhe dão mais satisfação.
Hudson Bessa Economista e sócio da Escola de Negócios HB
hudson@hbescoladenegocios.com
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