Desde o início de agosto, o Brasil teve pelo menos 10,1 milhões de pessoas diretamente afetadas pelos efeitos dos incêndios florestais que há semanas atingem grande parte do país. A estimativa é da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e se baseia em informações das prefeituras que declararam situação de emergência por incêndios florestais neste período.
O número é conservador porque leva em conta apenas os atingidos diretamente pelos incêndios, e não a população total dos municípios. Entre os afectados, há 987 pessoas que abandonaram as suas casas por causa dos incêndios e estão alojadas em abrigos ou conhecidos, segundo o Sistema Integrado de Informação de Calamidades do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
São 531 prefeituras em todo o país que declararam situação de emergência devido aos incêndios desde o início de agosto até a manhã desta sexta-feira (13). Além disso, não estão incluídas cidades com registros de focos de incêndio, mas que não declararam situação de emergência – é o caso, por exemplo, da capital paulista.
No mesmo período do ano passado, segundo a CNM, a população atingida pelos incêndios era de 3,8 mil pessoas, em apenas 23 municípios. Isso significa que esse contingente no país desde o início de agosto é mais de 2,5 mil vezes maior que no ano passado.
Cada região do país tem pelo menos um município que declarou situação de emergência devido aos incêndios. A região menos afetada é o Sul: até a última terça-feira (10), apenas a cidade de Garuva, no Nordeste catarinense, está nesta situação.
O Estado com maior número de municípios afetados é Mato Grosso, no Centro-Oeste. Havia 141 municípios mato-grossenses em situação de emergência até a última quarta-feira. Em seguida estão Tocantins (com 139 municípios em situação de emergência), na região Norte, e São Paulo (108 municípios), no Sudeste.
Em comparação com o mesmo período do ano passado, o número de municípios que declararam situação de emergência devido a incêndios florestais cresceu 2.200% em todo o país.
O prejuízo causado por esse tipo de ocorrência neste ano é de R$ 1,1 bilhão, segundo cálculos da entidade. Praticamente todos os prejuízos financeiros foram causados pelos incêndios iniciados em agosto. Entre as atividades mais afetadas financeiramente estão a agricultura, os cuidados médicos de emergência e a pecuária.
“Os incêndios florestais impactam diretamente o sistema municipal de saúde com sobrecarga de atendimento, além de prejuízos no abastecimento de água potável, suspensão de aulas e outros impactos”, informou a confederação, em nota. “Os impactos ambientais são incalculáveis e resultam na perda da biodiversidade do país”.
Questionado sobre a atuação do governo federal, o presidente da CNM, Paulo Ziulkosk, afirmou que a entidade não possui dados sobre como a União e os governos estaduais têm atuado no combate aos incêndios.
Defendeu mais medidas de prevenção, nomeadamente a estruturação de um consórcio nacional para discutir políticas de prevenção contra desastres climáticos e a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 31/2024, que cria o Conselho Nacional para as Alterações Climáticas, a Autoridade Nacional do Clima e o Conselho Nacional Fundo para Mudanças Climáticas.
“Enquanto a PEC do Clima estruturará a ação estratégica interfederativa, disponibilizando recursos da ordem de R$ 30 bilhões para prevenção de desastres, o consórcio trabalhará para adaptar as cidades às mudanças climáticas, fortalecendo as defesas civis municipais”, argumentou Ziulkosk. “Se o Brasil não enfrentar a situação com diálogo e atuação interfederativa apoiada em recursos como previsto na PEC do Clima, o dia a dia dos gestores municipais será sempre o de declarar emergência.”
Como mostrou a “Folha de S. Paulo”, a área atingida por incêndios florestais em todo o país dobrou no mês passado, segundo dados do Monitor de Incêndios da plataforma MapBiomas. A área queimada no país no mês passado foi de 56.516 km², maior que o território de cinco estados brasileiros (Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Norte).
Os dados da CNM também demonstram essa explosão de incêndios florestais. Desde janeiro, no período anterior a agosto, cerca de 900 mil pessoas foram afetadas pelos incêndios. Em um mês e meio, o incêndio atingiu mais de dez vezes o número.
Diretamente ligada aos incêndios florestais, a seca em diversas regiões do país também atinge mais de um milhão de pessoas, atinge centenas de municípios e causa prejuízos bilionários. Segundo a CNM, um total de 154 municípios declararam situação de emergência causada pela falta de chuvas e, com isso, pelo menos 1,4 milhão de pessoas são afetadas pelos efeitos da seca.
Neste caso, o último mês e meio faz parte de um cenário observado em meses anteriores. Foram 1.326 decretos de emergência por causa da seca desde o início deste ano. Desse total, 159 municípios entraram nesta situação no último mês e meio.
Considerando os decretos emergenciais, a seca de 2024 ainda atinge menos números do que no ano passado. No entanto, as perdas são consideráveis em ambos os casos.
A confederação estima as perdas financeiras causadas pela seca desde o início de agosto em R$ 1 bilhão. Em todo o ano de 2024 esse valor já chega a R$ 41,4 bilhões.
O bloqueio atmosférico que causou calor extremo e tempo seco nas últimas semanas aumentou a probabilidade de incêndios e piorou as condições de saúde em grande parte do país.
No interior de São Paulo, por exemplo, há cidades que não registram chuva há mais de 150 dias e avaliam a necessidade de adotar o racionamento de água nas próximas semanas. Além da queda na ingestão de água, a situação é agravada pelo calor, que aumentou o consumo.
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