O reconhecimento facial, da íris ou dos movimentos oculares, a forma ou geometria das mãos, o reconhecimento da voz ou da fala, ou a forma de andar, escrever ou digitar são alguns dados biométricos recolhidos por instituições públicas e privadas.
Para 37% dos usuários de internet no Brasil, fornecer dados biométricos às instituições financeiras os deixa “muito preocupados”. Outros 46% estão “apenas” preocupadosde acordo com a 2ª edição da pesquisa “Privacidade e proteção de dados pessoais: perspectivas de indivíduos, empresas e organizações públicas no Brasil”,de Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
“Esses resultados indicam a percepção, pelos internautas, de um alto potencial de danos relacionados a dados de transações financeiras, roubo de identidade e fraudes. […] Os usuários desenvolvem sua percepção com base em potenciais danos ou perdas, muito mais do que em características relacionadas ao armazenamento, compartilhamento ou potencial uso de informações. Isso explicaria por que a preocupação é maior com o setor bancário e órgãos governamentais em comparação com farmácias, academias, condomínios e outros estabelecimentos privados“, diz o estudo.
Acessar páginas e aplicativos de bancos é a segunda atividade online que mais preocupa as pessoas (25% muito preocupados e 24% preocupados), segundo pesquisa CGI.br.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) lembra que os aplicativos são usados apenas com a senha pessoal do cliente. E as transações são protegidas por token, biometria facial e qualquer outro fator de segurança aleatório que o banco do cliente oferecer. Portanto, a entidade recomenda que use o bloqueio da tela inicial do celular e ative a biometria facial/digital para acessar o celular e aplicativos. Sete em cada dez bancos brasileiros (75%) atualmente utilizam biometria facial para identificar seus clientes como barreira de segurançade acordo com o Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2024 realizado com bancos que representam 80% do setor.
É claro que os receios relativamente aos dados biométricos não se restringem apenas ao sector financeiro.. Os organismos governamentais (35% e 38%) e os transportes públicos (34% e 37%) também têm percentagens consideráveis de utilizadores “muito preocupados” e “preocupados”. Olhando para a imagem como um todo, o estudo mostra que os usuários estão mais frequentemente preocupados em fornecer impressões digitais e reconhecimento facial, cuja soma de usuários preocupados e muito preocupados é de 86% e 82%respectivamente. Essa apreensão é maior do que com outros tipos de dados pessoais sensíveis, como orientação sexual e cor ou raça.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) argumenta quee nenhum consumidor deve ser obrigado a tirar uma foto do próprio rosto para acessar qualquer serviçoconsiderando que não existe relação direta entre a biometria e o serviço em si. Ou seja, esta opção pode até existir, mas não deve ser a única. No entendimento da entidade, o consumidor tem o direito de recusar o registo biométrico.
Ao avaliar Alexandre Barbosagerente de Cetic.br/NIC.brcom o aumento da utilização de sistemas baseados em reconhecimento facial e impressões digitais, é compreensível que as pessoas estejam mais preocupadas em fornecer os seus dados biométricos.” Neste contexto, considera essencial que as empresas e o governo procurem melhorar as suas estratégias de proteção de dados. dados pessoais e segurança da informação.
O que o usuário deve observar ao fornecer dados biométricos?
Pesquisa do CGI.br mostra que Comprar online através de páginas e aplicações que utilizam biometria facial é a primeira atividade online que mais preocupa os utilizadores devido ao fornecimento de dados (29% muito preocupados e 27% preocupados).
A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs)que representa o setor de pagamentos, comenta que o uso da biometria pelos varejistas simplificou a mecânica das transações. “A leitura biométrica é validada no processo de registo (por exemplo, na aplicação do emitente), para ser utilizada na concretização do pagamento, tornando o processo mais fluido e seguro.”
Abecs afirma que pagamentos biométricos – onde as pessoas usam o rosto para concluir uma compra no caixa da loja – têm as mesmas camadas de proteção e segurança dos cartões. Além disso, o uso de biometria, como reconhecimento facial e leitura de impressões digitais, permite ao usuário identificar comportamentos fora do padrão e emitir alertas de risco e proteger a transação.
Lincoln Ando, CEO e cofundador da idwall, empresa de tecnologia que fornece a plataforma de verificação de identidade, comenta que a biometria facial é um sistema de verificação muito seguro utilizado pelas empresas. Ainda assim, considera importante que as empresas adotem medidas de segurança adicionais e que os consumidores questionem as empresas sobre os procedimentos de segurança.
Para os usuários que desejam adotar medidas adicionais de cuidado, o executivo da idwall sugere algumas ações.
“É muito importante tenha cuidado ao compartilhar selfies e fotos de documentos em aplicativos de mensagens, além de restringir o acesso a perfis de mídia social apenas para pessoas que você conheceEle ressalta ainda que é preciso ter atenção na hora de realizar pagamentos presencialmente por meio da biometria.
“Recentemente vimos o”golpe de flores“, em que os criminosos fingem ser entregadores levando um buquê, refeição ou outro item surpresa para uma pessoa, e pedem para tirar uma selfie para confirmar o recebimento do suposto presente. Porém, a foto é usada para abrir contas bancárias ou até mesmo solicitar financiamento em nome da vítima. Neste caso, exploram tanto indivíduos como instituições que têm processos mais fracos, com lacunas nas verificações de identidade”, aponta. “O compartilhamento de informações deve ser sempre feito com cautela“.
Para o advogado e pesquisador de Programa Idec Telecomunicações e Direitos Digitais, Lucas Marconas empresas até podem utilizar esse mecanismo, mas não pode ser obrigatório. “Nenhum consumidor deve ser obrigado a tirar foto do próprio rosto para acessar qualquer serviço, considerando que não existe relação direta entre a biometria e o serviço em si. Esta opção pode até existir, mas não deve ser a única. O uso da biometria traz riscos desnecessários ao consumidor e existem outras formas mais seguras de identificar e prevenir fraudes.”, ele confirma.
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