As despesas obrigatórias do governo federal aumentarão R$ 132,2 bilhões em 2025, impulsionadas pelos benefícios previdenciários e salários dos servidores públicos, consumindo quase todo o espaço aberto para novos gastos no próximo ano.
Os dados são do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) e foram detalhados pela equipe econômica nesta segunda-feira (2) em coletiva de imprensa.
O limite de gastos no próximo ano aumentará de R$ 2,105 trilhões este ano para R$ 2,249 trilhões, ou seja, o governo terá mais R$ 143,9 bilhões para gastar no próximo ano. Porém, desse valor, R$ 132,2 bilhões serão consumidos por despesas obrigatórias, o equivalente a 92% do total. Apenas o restante – R$ 11,7 bilhões, 8% do total – será destinado ao aumento das despesas discricionárias, que incluem investimentos e financiamentos ao setor público, e que totalizarão R$ 178,5 bilhões em 2025, no caso do Executivo.
O maior aumento nas rubricas obrigatórias vem da Previdência, com os gastos com benefícios crescendo R$ 71,1 bilhões em relação ao projetado para este ano no terceiro Relatório Bimestral de Avaliação de Rendas e Despesas Primárias. Essa despesa tem sido afetada pela política de aumento do salário mínimo e redução da fila de espera no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Depois da Previdência vêm as despesas com pessoal, que aumentarão R$ 36,5 bilhões em 2025 em relação a este ano. Esse aumento é resultado de reajustes salariais concedidos pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os acordos de reajuste assinados com servidores sindicais neste ano impactarão o Orçamento de 2025 em R$ 16 bilhões, segundo o Ministério da Gestão e Inovação nos Serviços Públicos. Foram assinados 45 convênios, atingindo 98,2% dos servidores federais.
Além disso, o PLOA prevê R$ 2 bilhões para a realização de novos concursos no próximo ano, segundo o secretário do Orçamento Federal, Clayton Montes.
As outras despesas obrigatórias que pressionaram o Orçamento de 2025 são o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o abono salarial e o seguro-desemprego, todos aumentados em relação a 2024, além do próprio Bolsa Família, que, apesar de não ter crescimento para o próximo ano, ainda consome R$ 167,2 bilhões em recursos públicos.
O PLOA 2025 não prevê nenhuma ação estruturante para conter o crescimento das despesas obrigatórias, apenas medidas de revisão de gastos para corte de benefícios que estão sendo pagos indevidamente. O secretário executivo do Ministério do Plano e Orçamento, Gustavo Guimarães, reconheceu que ainda há mais a ser feito pelo governo na parte das despesas.
“A revisão mais ampla, com integração de políticas e modernização de ligações, visa a futura descompressão do obrigatório em detrimento do discricionário”, disse o secretário, acrescentando que o pente fino é a primeira etapa desta agenda de revisão de gastos. “Não podemos fugir muito à revisão obrigatória, e é possível fazer uma revisão mais ampla sem prejudicar as políticas sociais”, defendeu. A equipa económica, no entanto, evitou dar detalhes sobre quais as medidas que irá propor neste sentido.
Do lado da receita, o PLOA 2025 foi enviado ao Congresso Nacional exigindo R$ 168,2 bilhões de receitas extras, sendo R$ 121,5 bilhões dependentes de medidas administrativas e R$ 46,7 bilhões de projetos que dependem de aprovação do Congresso Nacional, incluindo o que aumenta a tributação sobre a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e sobre os Juros sobre Capital Próprio (JCP).
O facto de o Orçamento do próximo ano depender menos de receitas extra condicionadas foi comemorado pelo secretário executivo do Ministério das Finanças, Dario Durigan. Mas o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse neste sábado que é “quase impossível” que o projeto da CSLL e do JCP seja aprovado.
Questionado sobre a declaração de Lira, Durigan afirmou que a equipe econômica explicará ao presidente da Câmara a necessidade do projeto compensar a desoneração da folha de pagamento, mas se mostrou aberto a discutir alternativas. “Estamos à disposição para construir alternativas, aprimorar projetos e continuar contando com sua importante parceria”, disse o número 2 da Fazenda.
Durigan destacou ainda que o PLOA 2025 utiliza todos os instrumentos para atingir a meta fiscal de déficit zero em 2025, o que inclui medidas de controle de receitas e despesas. “Perseguiremos o objetivo de equilibrar o orçamento do país de agora até o final do mandato do presidente Lula”, afirmou.
Para o economista-chefe da Tullett Prebon, Fernando Montero, o PLOA mostra grande dependência de receitas extraordinárias e condicionado à aprovação do Congresso.
Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, destaca ainda que os R$ 168 bilhões de receita esperados vêm de “receitas incertas”, das quais “a meta fiscal anual não pode prescindir para ser cumprida” – mesmo considerando o pagamento de R$ 44 bilhões de ordens judiciais fora da meta de resultado primário.
Na terça-feira (3), a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, apresentará o PLOA 2025 ao presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de outros líderes parlamentares.
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