A influenciadora 60+ Rosângela Marcondes fala sobre velhice, finitude, aprendizado, importância de ter planos para o futuro e diz que não faz intervenções no rosto porque quer “tentar envelhecer” Rosângela Marcondes Arquivo pessoal Rosângela Marcondes, mineiro, com quase 69 anos, planeja se casar em 2027. A cerimônia será na Itália, em algum lugar da Toscana ou da Costa Amalfitana. O noivo será Hoton, com quem está casada há 47 anos. O plano reflete duas características do influenciador 60+, que comanda os perfis @it_avó no Instagram e Domingos Açucarados no Facebook: Rosângela adora viajar e sempre tem planos para o futuro. Para realizar seu sonho, ela insistiu que o marido frequentasse a academia. “Precisamos cuidar dos joelhos e passar muito protetor solar”, ela me conta em uma entrevista em vídeo. Rosângela cresceu em uma pequena propriedade rural produtora de café em São Sebastião do Paraíso, no sudoeste de Minas Gerais, divisa com São Paulo. “Lá eu tinha tudo, mas não me encaixava”, diz ela sobre a decisão de se mudar para São Paulo aos 19 anos para “trabalhar em uma multinacional”, na primeira vez em que se desafiou. Rosângela é uma mulher que está sempre olhando além, observando, aprendendo. Ao completar 60 anos, ela, que não concluiu o curso de Ciências Contábeis que iniciou em sua cidade natal, decidiu que aproveitaria o tempo livre lendo e aprendendo. Desde então, frequenta regularmente cursos na USP, São Judas, Unifesp, ESPM e outras faculdades. Ela faz minicursos e workshops de oratória, teatro e dança. Ela já perdeu a conta dos diplomas que conquistou – muitos dos quais ela nem se preocupa em conseguir. O que importa é o que ela aprendeu. Pergunto se alguma nova tecnologia a assusta e ela responde: “Não, estou curiosa. Quero entender o que está acontecendo. Procuro informações. Eu pergunto aos netos. Eu pago por isso. Prefiro tentar entender porque acho um privilégio vivenciar tudo isso.” Rosângela tem duas filhas e três netos – e com cada um deles, um plano de viajar para o exterior quando forem adultos. Os cursos atendem a outra característica que move Rosângela: criar conexões com outras pessoas. “Não, não é só para aprender, é para conviver, para andar de ônibus, para usar a roupa que gosto, para colocar o perfume que gosto. Você não vai a lugares para se formar, você vai viver, para estar vivo”, diz ela. Como não dirige, Rosângela se locomove de transporte público, que também é uma forma de exercitar o corpo (faz ioga duas vezes por semana). E o ônibus ou o metrô ainda são seu laboratório para estudar as pessoas, o que elas lêem e o que dizem. Rosângela lamenta que os idosos fiquem sozinhos em casa quando há tantas opções gratuitas que poderiam aproveitar em universidades, igrejas e bibliotecas. “Quero gritar do alto que eles não precisam ficar em casa ou pagar para ir aos lugares.” Rosângela é uma mulher que gosta de se comunicar. Ela nunca é monossilábica nem evita perguntas. “Sou espaçosa”, diz ela. Abaixo estão alguns trechos da nossa conversa de uma hora e meia: Quantos anos você tem? Vou fazer 69 agora. Estou muito animado e quero muito envelhecer, virar maracujá. Meu marido pergunta se eu aguento ser essa velha. Há cinco ou seis anos, fui a uma dermatologista e ela disse que eu parecia ter 75 anos, que minha pele não estava boa, que eu não me cuidava o suficiente e assim por diante, e perguntou: “O que são vamos fazer hoje?” Eu disse a ela para me deixar envelhecer, apenas me ajudar a parecer revigorado, algo assim. Quero ver como é (ser velho) porque por volta dos 45 anos comecei a viajar para o exterior e me encantei com os europeus com os pés sujos, aquela calça que virou short no meio do aeroporto, aquele chapéu grande, aquele cara feliz e velha. Há alguns anos, não estava tão na moda realizar tantas intervenções (cirúrgicas) como hoje. Ontem meu marido, que é mais vaidoso que eu, reclamou que eu tenho manchas toda (mostra o lado do rosto). Eu quero tentar. Até hoje consegui envelhecer. Eu me sinto confortável. O problema é que ainda não quero fugir de mim mesmo. Você nunca fez botox? Não, nunca. Eu não quero fazer isso. Eles já sugeriram que eu interrompesse a conversa. Ah, deixe-me ficar assim mais um pouco. Deixe-me tentar ser velho. Há algo de sagrado nisso para mim, sabe? Viajo para o interior a cada 15 dias para cuidar da minha mãe, que tem 90 anos e teve um AVC há treze anos. E eu sempre pergunto para ela: Mãe, você quer chegar aos 100? Ela responde: Acho que sim. Aí eu falo: Mãe, preciso estar saudável para ir te visitar, porque são 350 quilômetros (a mãe ainda mora em São Sebastião do Paraíso e, todo fim de semana, um dos três filhos a visita; Rosângela vai de ônibus). Ela diz: Não, você vai conseguir, você vai conseguir. O derrame deixou algumas consequências. Ela não anda, ela não come mais. Já são 13 anos de seguimento, e estou ficando mais velho, ficando mais cansado. Como é essa viagem para você? Acho que minha mãe está vivendo para eu ter meus momentos de sossego, porque sou um pouco barulhento, e toda vez que pego o ônibus vejo o agronegócio desfilando pela janela no interior de São Paulo. Cada vez que vou, vejo a riqueza fluindo naquelas terras, e digo que não é à toa esse espetáculo que vejo a cada três semanas e depois a dor que sinto quando troco de mãe, quando dou banho nela, quando a alimento. É um exercício de aprendizagem profunda, porque sou apaixonado pelo envelhecimento. Por que temos tanto medo de falar sobre finitude? Gosto de falar sobre finitude e precisamos começar a falar sobre essas questões. Outro dia minha mãe perguntou sobre o vestido com que ela seria enterrada. Mostrei a ela e ela disse que era o mesmo. Um dia minha neta esteve aqui comigo e pedi a ela que desenhasse meu funeral. São experiências lindas. Meu marido ia colocar stents no coração e deu as senhas para a filha, deu informações sobre o carro e o apartamento. Ele achou que tudo estava organizado. Então, saindo para o hospital, eu disse: “Não temos túmulo em São Paulo. Se você vai fazer uma cirurgia de risco, preciso saber onde vou enterrá-lo.” Acho que é uma atitude amorosa falar sobre a morte, da mesma forma que falo com minha mãe. Minha pergunta é: quem vai empurrar minha cadeira de rodas? Porque eu empurro o da minha mãe. Precisamos lembrar dessas fragilidades, pois não gosto muito de romantizar. O que os planos significam para você? Eu faço projetos porque acho que quando você faz projetos você meio que cria uma relação com essa inteligência maior (que governa o universo) que estou gostando de viver. projetos, pois isso me incentiva a cuidar do meu corpo, cuidar dos meus joelhos, cuidar das minhas finanças. Temos uma vida simples e o plano nos ajuda a realizar nossos sonhos quando não somos ricos, não temos todo o dinheiro do mundo. Costumávamos fazer viagens a cada quatro anos, que era o tempo necessário para economizar, mas agora quero reduzir para três ou dois anos para conhecer mais lugares. Por que fazer tantos cursos? Tenho tempo livre e gosto disso. Tenho dezenas de cadernos, porque ainda sou o tipo de pessoa que anota tudo. Qual é a minha missão na vida? É um aprendizado, porque não sou de fazer unhas. Não pinto mais o cabelo para não precisar ir ao salão o tempo todo. Tenho muito tempo e quero passar meu tempo aprendendo, com informações sobre o mundo, sobre tudo que está acontecendo. E qual é a sua missão com as mídias sociais? Me considero um caçador de espaços, instituições, cidades e bairros amigáveis aos idosos. Minha intenção sempre foi falar sobre onde estou, uma mulher de 69 anos, que faz o que pode. Não vendo o look do dia, não vendo joias, não vendo a comida que como. A minha única intenção, ao criar o @it_avó, foi transmitir uma mensagem inspiradora. Como tem sido a experiência? Vi que vocês já fazem depoimentos para marcas famosas como Bayer e Avon… Já tivemos tempos melhores. Já tive tempos melhores, ganhei dinheiro com isso. Hoje, as marcas estão preferindo influenciadores globais, que começaram a surfar na nossa onda. E então comecei a ficar com muita raiva. Estudo o envelhecimento desde 2015 e plantei minha bandeira nesses idosos com mais de 60 anos. Mas então eles começaram a criar 50+, 45+. Em alguns dias serão mais de 40. As empresas globais começaram a entender que esse lugar era bom para ter relevância e ganhar dinheiro. E eles realmente tomaram o nosso lugar. *Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50” Mais Lidas
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