A tecnologia vem mudando a forma como os brasileiros pagam suas contas. Com o celular na mão ou o relógio no pulso, passaram a comprar produtos na China e passagens de metrô no Rio de Janeiro até pagar pedágio via Bluetooth nas rodovias do país. Os consumidores nunca tiveram tantas e ágeis opções de pagamento. O mesmo princípio se aplica a quem recebe pagamento por vendas ou serviços prestados; Não é mais necessário enviar dados bancários, basta gerar um QR code ou link e o valor entrará imediatamente na conta, via Pix, meio de pagamento mais utilizado no país, com cerca de 28 bilhões de transações no primeiro semestre de 2024 , equivalente a um recorde de R$ 11 trilhões, segundo o Banco Central.
Para usar o jargão da indústria, os brasileiros passaram da mudança ao toque em muito pouco tempo. “Hoje, cerca de 80% do consumo das famílias é feito por meios de pagamento eletrônico”, afirma Rogério Panca, diretor de cartões e pagamentos digitais do Santander Brasil. O papel-moeda está desaparecendo de cena, as transferências via DOC foram eliminadas e os cheques estão desaparecendo lentamente. Paralelamente, sete em cada dez transações bancárias no Brasil são realizadas pelo celular – de 2019 a 2023 o crescimento foi de 251%, segundo pesquisa recente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
A tecnologia NFC (Near Field Communication) veio para ficar nos cartões de crédito e débito. Os smartphones chegam com tecnologia NFC, permitindo pagamento sem contato via ApplePay, Samsung Pay e Google Pay. No primeiro semestre de 2024, essa modalidade totalizou R$ 644,2 bilhões, 53% superior ao mesmo período de 2023.
A digitalização duplicou de tamanho nos últimos três anos e meio”
– Antonio Daissuke
No Santander, 71% das transações de pagamento presenciais são sem contato. No segundo trimestre de 2024, houve um aumento de 16,2% no valor dos pagamentos com cartão de crédito. “Vemos cada vez mais clientes saindo de casa sem o cartão. Os dados estão no celular. Temos clientes que viajam para o exterior e esquecem de levar o cartão físico porque estão acostumados a usar carteira. [carteira digital]. Ele só fica sabendo quando entra na sala VIP, onde é exigido o cartão físico”, afirma Panca.
Em agosto, o Banco Central regulamentou a chamada jornada sem redirecionamento (JSR), permitindo o uso do Pix em carteiras digitais para pagamentos sem contato, o que deve agilizar o processo. “O Santander está em dez lugares diferentes ao redor do mundo operando com meios de pagamento eletrônico. Em nenhum outro país temos o meio ambiente do Brasil. Constantemente temos inovações aparecendo”, afirma o diretor do banco.
A evolução dos meios de pagamento no Brasil e no mundo aponta para um aumento de mais de 80% até 2025 nos volumes globais de pagamentos digitais, ultrapassando 1,9 trilhão de transações por ano. Até 2030, o total deve quase triplicar, segundo estudo da Strategy&, consultoria estratégica da PwC Brasil. “Há uma migração das cadeias de valor tradicionais para métodos de pagamento alternativos, que captam grande parte da receita do crescimento”, explica Willer Marcondes, sócio da Strategy& e um dos autores do estudo. Em relação aos pagamentos transfronteiriços, o executivo destaca a grande transformação do sector, estimulada também pelos pagamentos instantâneos e de baixo custo.
No mundo, espera-se que as carteiras digitais sejam o método de pagamento que mais cresce até 2027, quando representarão 49% (US$ 25 trilhões) do total transacionado no planeta. Hoje, eles já respondem por 50% dos gastos globais em comércio eletrônico (US$ 3,1 trilhões) e 30% das compras físicas em pontos de venda (US$ 10,8 trilhões), segundo estudo da Worldpay, líder mundial em tecnologia e pagamentos soluções.
Com as melhorias do Pix é possível penetrar em outros segmentos”
-Felipe Sória
A competição pelo aumento da quota de mercado em carteiras digitais atraiu fabricantes de smartphones, mercados de comércio eletrónico, redes bancárias e fintechs globais. O estudo revela que os gastos com cartão estão migrando para carteiras digitais. O Brasil se consolidou como o segundo país que mais utilizou pagamentos instantâneos em 2023 (a Índia ficou em primeiro lugar) e está na vanguarda em relação à maioria dos mercados globais. Hoje, é o quarto país que mais utiliza carteiras digitais, atrás da China, Índia e Alemanha.
No Mercado Pago, fintech com 52 milhões de usuários ativos mensais e faturamento de US$ 46 bilhões, o Pix representa 90% dos pagamentos feitos entre duas contas correntes. No e-commerce, a participação do Pix e dos cartões de crédito está praticamente dividida, enquanto os feitos via boleto ou débito são inferiores a 5%. O comportamento varia dependendo do segmento. Felipe Soria, head de estratégia de negócios regulados do Mercado Pago, avalia que os meios de pagamento digitais, como Pix e QR code, continuarão evoluindo e crescendo, porque estão incluindo muitas pessoas desbancarizadas.
“As pessoas agora têm acesso a um novo método de pagamento. Com as melhorias do Pix é possível penetrar em outros segmentos antes dominados por outros meios de pagamento, inclusive dentro das empresas”, afirma Soria. A fintech está entre as 10 primeiras em volumes de chaves Pix no país.
No Bradesco, nos últimos três anos, também cresceu a digitalização dos meios de pagamento, impulsionada pelo Pix, representando metade das transações realizadas no banco. As operações com saques e TED perderam espaço, esta última com redução em torno de 40%, embora continue importante em termos de volume financeiro transacionado. “A digitalização duplicou de tamanho nos últimos três anos e meio. Quase todos os meios de pagamento cresceram”, afirma Antônio Daissuke, diretor de produtos de cash management do Bradesco.
Essa expansão foi resultado da adesão de novos usuários ao sistema. “A pizza aumentou do ponto de vista da transação. Os métodos de pagamento cresceram. Dobramos nossa receita de cartão de crédito desde 2018 e o débito aumentou cerca de 80%. Isso vale para todas as camadas”, afirma André Marques, diretor de cartões do Bradesco.
O Pix, que serve de exemplo para outros países, cresceu mais rápido – e tirou cerca de 5% dos cartões de débito, diz Marques. Com o crédito é diferente. No primeiro semestre de 2024, os pagamentos com cartão de crédito no Brasil atingiram R$ 1,3 trilhão, 11% acima do mesmo período de 2023. “Mais de 50% do consumo das famílias é feito com cartões”, afirma o diretor de cartões do Bradesco.
A tendência é que, num futuro próximo, o cliente tenha mais flexibilidade para decidir o meio de pagamento mais conveniente. “Mudamos o paradigma. Temos trabalhado para unificar os métodos de pagamento; por exemplo, transferir o saldo do cartão para conta corrente. Mesmo sem dinheiro na conta, o cliente pode pagar com Pix, utilizando o limite do cartão. Isso será feito automaticamente”, afirma Marques.
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