Considerada o principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio, a Arábia Saudita vem ganhando importância nas exportações brasileiras. Em 2023, as vendas para o país árabe totalizaram US$ 3,2 bilhões, o melhor resultado em cinco anos. No total, a balança comercial entre os dois países fechou o ano passado em 6,7 mil milhões de dólares. Mesmo com o déficit registrado em torno de US$ 300 milhões para o Brasil no último balanço anual, os especialistas são unânimes em apontar as boas perspectivas comerciais entre os dois países para os próximos anos.
Até 2030, o comércio bilateral deverá atingir 10 mil milhões de dólares, de acordo com projeções do Centro de Investigação do Golfo – uma consultoria especializada na região do Golfo Pérsico. “Apesar de significativo, esse valor de US$ 10 bilhões ainda será muito pequeno dado o potencial comercial que pode ser explorado entre os dois países”, afirma o professor da FIA Business School, Paulo Feldmann.
Nos últimos cinco anos, as exportações brasileiras para a Arábia Saudita cresceram 57%. Por outro lado, o crescimento das vendas sauditas foi de 53%, segundo levantamento da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). Os produtos básicos ainda prevalecem e, do lado brasileiro, destacam-se as commodities, com destaque para proteína de frango, grãos e açúcar. Por outro lado, os sauditas nos enviam petróleo bruto, derivados petroquímicos e fertilizantes, importantes para o agronegócio nacional.
A tendência é de diversificação nas relações comerciais, incluindo bens manufaturados, tecnologia e até aeronaves. “Certamente há potencial para expansão. O Brasil tem reputação de ser um fornecedor confiável e que respeita os consumidores muçulmanos devido ao frango halal”, afirma Mohamad Mourad, vice-presidente de relações internacionais da CCAB. Alimentos Halal são alimentos cuja produção segue as regras e valores do Islã.
Segundo Mourad, há potencial de mercado para novos produtos brasileiros, como alimentos pré-prontos e porcionados, café torrado e frutas processadas, como o açaí. “A população saudita é predominantemente urbana, jovem, na faixa dos 30 anos, que tem um dia agitado fora de casa e que quer comodidade na alimentação.”
Para se ter uma ideia, só as exportações de chocolates e preparações à base de cacau saltaram de US$ 19 mil em 2022 para US$ 13,7 milhões em 2023, segundo levantamento feito pelo governo federal. “É certamente um mercado consumidor muito relevante e de maior renda, que abre novas oportunidades em diversas áreas de atuação”, atesta Herlon Brandão, diretor de estatística e estudos de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Os alimentos brasileiros também têm potencial para reexportação da Arábia Saudita. “Os países do Golfo aproveitaram durante séculos a sua posição estratégica entre o Oriente e o Ocidente para intermediar bens. No passado, essa intermediação era feita por caravanas de camelos que atravessavam o deserto. Hoje são zonas francas altamente especializadas e bem conectadas a portos e aeroportos”, afirma Mourad.
Novas oportunidades de negócios também poderão surgir com a possível entrada da Arábia Saudita nos Brics – um grupo de países de mercados emergentes – e com o robusto plano de modernização nacional árabe, Visão 2030, que inclui novos projectos económicos e de infra-estruturas. “Esse projeto cria oportunidades para o crescimento das relações comerciais que envolvem setores que ainda têm participação modesta na parceria entre os dois países”, explica a professora Fernanda Brandão Martins, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rio.
A ApexBrasil listou 309 oportunidades de negócios na Arábia Saudita, com destaque para os setores de máquinas, equipamentos de transporte, mineração e manufaturados, como calçados, produtos à base de celulose (papel e papelão) e outros. “As importações de manufaturados sauditas chegam a cerca de US$ 3,5 bilhões, mas o Brasil detém apenas 1,2% desse mercado”, diz Gustavo Ribeiro, coordenador de acesso a mercados da ApexBrasil.
Apesar das boas perspectivas, é preciso estar atento às complexidades que envolvem as relações com o Oriente Médio. Feldmann destaca que, além das questões políticas e geopolíticas internas que envolvem a Arábia Saudita, que exigem muita diplomacia no xadrez político e econômico devido aos conflitos na região, as empresas e o governo brasileiro devem estar atentos às especificidades locais. Entre eles, o incentivo dado às empresas estrangeiras para a criação de unidades locais, o que não é um processo simples. “Isto tem a ver com o seu desejo de diversificar a economia local, provavelmente em preparação para o futuro declínio do petróleo”, diz ele.
“Para que as empresas brasileiras consigam entrar no mercado árabe é fundamental que entendam a cultura e os costumes locais”, explica o empresário Ricardo Faria, fundador e presidente do conselho de administração do grupo Granja Faria, que desde 2013 exporta ovos para a Arábia Saudita, grande consumidor do produto. Em 2023, os árabes compraram US$ 2,7 milhões em ovos brasileiros, segundo dados do MDIC. “Essa compreensão vai além de uma simples adaptação linguística, abrangendo também práticas empresariais, tradições e valores sociais”, afirma.
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