A manhã do CPNU (Concurso Público Nacional Unificado) deixou de lado a percepção de uma prova “fácil”, alto índice de abstenção e criatividade para superar as altas temperaturas, decorrentes de uma onda de calor que levou os termômetros a mais de 35ºC na capital paulista.
A expectativa para a prova era grande. “O CNU será uma virada para quem fizer o exame, mas como não sabemos nada sobre ele fica difícil prever o que virá. Espero que venha coisa boa”, disse a assistente social Camila da Costa, 37 anos. para relatar, minutos antes dos portões fecharem.
Entre 9h e 11h30 deste domingo (18), os competidores enfrentaram uma bateria de questões discursivas, específicas de cada um dos oito blocos, e uma prova objetiva de conhecimentos gerais, comum a todos.
Os candidatos do nível médio, do bloco 8, deveriam redigir uma redação cujo tema era: “Em que medida a educação e o progresso científico e tecnológico podem contribuir para a redução das desigualdades socioeconômicas e para a ampliação do desenvolvimento da sociedade brasileira?” e responder perguntas objetivas, também gerais.
A folha de respostas da prova está prevista para ser divulgada na terça-feira (20), e as folhas de respostas serão divulgadas às 20h deste domingo.
A percepção entre os candidatos foi de que a prova foi mais fácil do que o normal em grandes concursos. “Isso poderia ser feito até para quem não estudava muito. Algumas questões poderiam ser abordadas em notícias, assuntos quentes, e outras eram mais específicas sobre legislação”, disse Maria Luisa Rodrigues, 25 anos, jornalista cadastrada no bloco 7, que traz juntos carreiras de gestão governo e administração pública.
Essa também foi a análise dos professores dos cursos preparatórios para concursos. “O Cesgranrio [banca organizadora do CNU] deixou as perguntas memorizadas. O nível da prova pela manhã não foi difícil, com questões de nível de dificuldade fácil a médio”, ressalta Bruno Bezerra, professor do Estilo Concursos.
Para Eduardo Cambuy, professor do Gran Concursos, o tempo pode ter sido um fator adicional de dificuldade. “Foi muito apertado, porque o número de linhas da redação aumentou, levando a previsão para 1h30 para a redação e o restante do tempo para as 20 questões, que tinham muito texto introdutório para ler”, avalia. Ele destaca ainda que a competição foi bem organizada, sem grandes problemas na aplicação ou entrega das provas.
No total, mais de 2,1 milhões de pessoas se inscreveram nas 6.640 vagas disponíveis no serviço público, em 21 órgãos vinculados ao governo federal. As provas estão acontecendo em 228 cidades, incluindo todas as capitais, totalizando 3.647 locais de aplicação e 72.041 salas. É a maior competição da história do país.
O elevado índice de abstenção, porém, pode ter comprometido parte dos números do evento. Candidatos do Rio de Janeiro e de São Paulo relataram ter feito a prova em salas vazias.
“Quase metade não estava na minha sala de aula”, disse Gabriela Xavier, 29 anos, que busca se tornar técnica de política social. Ela comenta que havia salas com apenas quatro pessoas em seu local de aplicação, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na região central de São Paulo.
Em comunicado esta manhã, a ministra Esther Dweck (Gestão e Inovação nos Serviços Públicos) reconheceu que o número de faltas foi elevado, mas dentro da média dos concursos públicos. Mais detalhes sobre a CNU serão conhecidos ainda esta noite, disse ela, sem especificar uma percentagem de abstenção.
Entre 14h30 e 18h, os candidatos respondem a perguntas específicas de cada bloco. “São dez perguntas para cada bloco, lembrando que o candidato tem que focar no que tem mais peso”, disse Dweck, em entrevista coletiva há algumas semanas. Para os candidatos do bloco 8, o prazo é um pouco menor: a prova termina às 17h30.
A complexidade das questões soma-se ao calor intenso como fatores que dificultam a realização da prova. Os termômetros marcavam 29°C na região da Universidade São Judas Tadeu, na zona leste da capital, e 35ºC na Unip da Água Branca, na zona oeste.
Antes do início da prova, à tarde, os competidores aproveitaram para comprar água e picolés. “Vendi quase tudo”, diz a vendedora ambulante Jennifer dos Santos, 22 anos, que esteve na Unip. Lá, a disputa não era apenas por vagas no serviço público, mas também por uma vaga nas sombras.
Embora o espaço externo estivesse preenchido com a habitual multidão de fumantes, os candidatos menos propensos a fumar entraram nas áreas de teste assim que os portões se abriram para escapar do calor. Outros ainda passaram alguns minutos sob barracas vendendo doces e caldo de cana, abanando-se com o cardápio de vendas.
“Alguém tem que dizer ao ministro que vai morrer gente com este sol”, brincou um dos candidatos nas sombras.
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