Nas últimas semanas, diversos jornais e sites de finanças e investimentos publicaram extensos artigos e entrevistas com gestores sobre o desempenho dos fundos neste primeiro semestre.
Após mais um semestre, o quinto consecutivo, de saída líquida de recursos e retornos decepcionantes, com cerca de 2/3 dos fundos operando abaixo do CDI, os gestores fazem um modesto mea culpa sobre os resultados de suas apostas em relação à evolução dos preços. de ativos, culpam o cenário global mais incerto e o atraso do FED em iniciar a flexibilização monetária (redução da taxa básica de juros) nos EUA. Localmente, apontam as pressões decorrentes do desequilíbrio fiscal e, em relação às taxas de juros, na mesma linha, o ritmo mais lento da redução da Selic.
Na mesma linha, conversei com muitos investidores que têm sofrido perdas com ações na Bolsa de Valores brasileira, que também criticam as ações do governo brasileiro, do Banco Central, do FED e até de Israel, ou do Hamas, dependendo do preconceito político.
Ouço tudo isso e penso comigo mesmo: será que essas pessoas simplesmente foram otimistas demais?
Um otimista é alguém que geralmente espera boas notícias do futuro. Aquele que trabalha, e se esforça (às vezes nem tanto) na esperança de que sua dedicação seja recompensada.
Num livro clássico de 1979, Lionel Tiger (Optimismo: A Biologia da Esperança) argumenta que o otimismo desempenhou um papel fundamental na evolução da espécie humana. Em seu processo de transição de coletores, quando viviam para coletar alimentos, para caçadores, quando precisavam se organizar para enfrentar e caçar animais muito maiores, como os mamutes, foi fundamental acreditar que conseguiriam ter sucesso em tal tarefa. empreendimento complexo e desconhecido.
Mas como tudo na vida, nada é 100% bom ou ruim. O otimismo está frequentemente associado a um viés cognitivo conhecido como “viés de autoatribuição” ou “viés de autoatribuição”, o viés de autoatribuição, que nos faz atribuir sucessos à nossa capacidade diferenciada de ler o futuro e tomar decisões, e de colocar fracassos na conta do mundo “tão complicado e adverso”.
Num estudo publicado em setembro do ano passado, Meg Wang encontrou fortes evidências de preconceito de autoatribuição entre gestores de fundos de investimento. Os resultados da pesquisa indicaram que, em média, eles têm 41% mais probabilidade de atribuir o sucesso a fatores intrínsecos às suas decisões em comparação aos fracassos. Em outras palavras, o sucesso é meu e o fracasso pertence ao mundo.
O preconceito e a autoatribuição às vezes se confundem ou se sobrepõem ao preconceito do interesse próprio, quando alguém em nome do interesse próprio e, movido pelo otimismo, tende a ver o cenário mais otimista do que a prudência ditaria. Infelizmente, às vezes o que seria apenas mais um viés comportamental se transforma em conflito de interesses e se transforma em recomendações e opiniões cuja intenção é apenas o ganho próprio em detrimento do cliente.
Recentemente tenho visto algumas previsões de cerca de 150 mil pontos para o Ibovespa no final de 2024, o que me faz pensar o quanto há otimismo e o quanto é apenas do interesse dos investidores que compram ações. Como diz Warren Buffett, não pergunte a um barbeiro se precisa cortar o cabelo.
Espero que essas previsões se concretizem, mas o Ibovespa está em 127 mil, faltam cinco meses e o ano não está fácil. Na verdade, enquanto escrevo esta segunda-feira, os mercados estão a derreter.
Como já vimos, o otimismo é inato e a tendência é atribuir os fracassos aos outros, ou ao mundo, e os gestores de carteiras não estão imunes a isso. Neste sentido, após três anos de maus resultados, o melhor exercício poderá ser olhar-se pelo retrovisor, questionar os fundamentos das decisões tomadas e refletir sobre o que correu mal.
Um princípio básico que ajuda neste exercício é aceitar que o futuro é incerto e não se orienta pela lógica económica. Podemos questionar ou criticar uma decisão do Governo e podemos até ter razão, mas os políticos e os eleitores não se guiam por manuais económicos. Além disso, desde a COVID-19, a inflação, o emprego, as taxas de juro e muitas outras variáveis económicas têm-se comportado de forma diferente do que estávamos habituados a ver. Um pouco de humildade ajuda.
Neste contexto, para alguns gestores, talvez tenha sido altura de reduzir o orçamento de risco e tentar preservar os recursos dos clientes. Nestes momentos, é melhor enfrentar o desafio de uma conversa franca com os clientes e concordar que a estratégia mais sensata pode ser permanecer orbitando em torno do CDI. Não que seja bom, mas é melhor do que criar a expectativa de que existe um caminho lucrativo e razoavelmente seguro pela frente. Principalmente em função dos juros reais embutidos no CDI.
Um dos factos, por exemplo, que evidencia o otimismo excessivo que dominou o início deste ano, foi o compromisso generalizado de redução da taxa de juro americana no primeiro trimestre. Tanto quanto possível, não houve sinais tão fortes que permitissem colocar tanto risco nesta previsão.
O mundo continua conturbado. O aumento das tensões no Oriente Médio, o ritmo da economia americana, os desenvolvimentos nas eleições venezuelanas, etc. No Brasil, há sinais de que o cabo de guerra, no centro do próprio Governo, entre uma boa economia e a política eleitoral continuará a ser intensa, juntamente com a pressão vinda de todos os lados para mais gastos. Podemos ter esperança, mas não há sinais muito encorajadores.
Por todas estas razões, é melhor ter cuidado com o otimismo. É bom, mas em altas doses pode doer.
Hudson Bessa Economista e sócio da Escola de Negócios HB
hudson@hbescoladenegocios.com
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