Superavitária desde 1997, a balança comercial do agronegócio deverá repetir o feito este ano, com produtos como algodão, açúcar e carne movimentando-se em grandes quantidades, especialmente para a Ásia. No ano passado, o valor das exportações de produtos agrícolas atingiu o pico de US$ 166 bilhões, o que representou uma participação recorde de 49% da agricultura na balança comercial brasileira. O superávit crescente a cada safra ajuda a equilibrar o déficit estrutural da conta de serviços, que impacta as transações correntes entre o Brasil e o exterior, e favorece o mercado de câmbio com a entrada de dólares.
Para o pesquisador Felippe Serigati, da FGV Agro, o balanço de 2024 ainda é uma questão em aberto, mas os volumes devem surpreender mais uma vez. “Temos que olhar também para a agroindústria, que tem registrado números muito interessantes. No acumulado do ano, com exceção dos insumos agrícolas, o crescimento das exportações foi generalizado em vários segmentos, como alimentos e bebidas”, observa. “O bom desempenho fora da porta acontece porque a agroindústria conseguiu se inserir nas cadeias globais de valor”, acrescenta. Relativamente à queda dos preços agrícolas globais, Serigati acredita que representa um regresso aos valores habituais pré-pandemia.
Líder da pauta, o complexo soja é exemplo de produto que sofre queda de preço, com repercussão nos valores de exportação e na disposição dos produtores em plantar. O consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, afirma que a produção da oleaginosa foi afetada na atual safra e números mais fracos só aparecerão no segundo semestre. “O El Niño destruiu a colheita em vários estados, o preço em dólar caiu e, então, o produto sofreu um duplo golpe: no volume e no valor por tonelada”, comenta. A consultoria estima queda de 26 milhões de toneladas na soja e no milho para este ano. O cereal, cuja área plantada era menor, está em queda após um boom: no ano passado, o volume recorde colhido levou o país ao primeiro lugar entre os exportadores. Assim como no caso da soja, a China liderou as compras na época.
A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que reúne 53 filiadas entre grandes tradings, supervisores e fumigadores, confirma a previsão de redução nos volumes embarcados de soja e milho. Segundo contas da entidade, o setor deverá fechar o ano com produção de 138 milhões de toneladas desses grãos. “Não creio que repetiremos tão cedo o bom resultado do passado. Sem nova queda na Argentina, há mais soja disponível no mercado, pressionando os preços”, explica Jean Carlo Budziak, responsável pela área de estatística da entidade. Para ele, as exportações de milho também serão reduzidas no segundo semestre. “As exportações serão menores devido ao maior consumo interno, sem contar que a maior parte do cereal tende a permanecer no mercado interno. Além disso, com a entrada em operação de três usinas de etanol de milho em Mato Grosso e Goiás, o produto é cobiçado”, pondera. Segundo dados da Anec, até 2027 deverão ser inauguradas dez novas usinas de combustíveis.
Embora as perspectivas para a soja e o milho desanimem os analistas, outras commodities se beneficiam da situação favorável. Com um aumento de 218% nas exportações de algodão, em termos de valor vendido, no primeiro trimestre, o país acaba de ultrapassar os Estados Unidos como maior exportador mundial de algodão. A migração para a cultura dos sojicultores do Centro-Leste, que vinham sofrendo perdas recorrentes, está por trás desse feito. O aumento da procura global, com a reposição de stocks pela China, também ajudou, entre outros factores. “O momento impressionante do algodão deve compensar essas quedas da soja e do milho. O desempenho da pluma foi estratosférico. Podemos manter essa força em 2025”, entusiasma-se Cogo, que acredita que o café verde também contribuirá para a balança comercial positiva deste ano, que é positiva há dois anos. O cafeicultor tem se beneficiado dos altos preços devido à quebra de safra no Vietnã.
Terceiro produto mais exportado no primeiro trimestre, o açúcar bruto cresceu 117% em valor no período, apesar dos preços ligeiramente mais baixos, inclusive pela queda nos preços do petróleo bruto. Ainda no primeiro trimestre, o volume embarcado cresceu 78% em relação ao resultado do mesmo período de 2023. Na última safra, as usinas comemoraram a maior moagem da história do Centro-Sul, com produção recorde. A maior parte do volume foi para a China. O segmento sucroalcooleiro está otimista com a demanda global futura e acredita que o Brasil continuará na liderança mundial em produção, conquistada em 1996. A África e o Sudeste Asiático são o foco das exportações.
“Entre os concorrentes, o país se destaca como produtor com maior potencial para atender à crescente demanda global, a um custo competitivo”, afirma Luciano Rodrigues, diretor de inteligência setorial do Sindicato da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). A previsão da entidade, porém, é de uma safra 2023-2024 menor devido ao clima seco, principalmente no Estado de São Paulo, onde estão localizadas 180 das 300 fábricas do país. “Teremos remuneração e produção um pouco menores”, afirma. Mesmo com os recentes avanços no monitoramento dos canaviais por satélite e nas parcerias com o Corpo de Bombeiros, há preocupação com os incêndios.
No âmbito do complexo da carne, o país também vem batendo recordes de volume embarcado. As exportações de carne bovina in natura foram as maiores da série histórica do mês de maio, atingindo 211 mil toneladas, segundo informações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) – as carnes suína e de frango também bateram recordes em quantidade. Além da China, os Emirados Árabes Unidos, Chile e Estados Unidos foram os principais compradores. No entanto, com a queda da procura internacional, o preço da carne bovina caiu. Segundo Roberto Perosa, secretário de Comércio e Relações Internacionais do ministério, o efeito preço define o resultado em valor.
“É interessante observar o caso das exportações deste produto para a China, o maior importador. Durante a fase do surto de Peste Suína Africana, o preço médio de exportação da carne atingiu o valor mais elevado da série, de 6.400 dólares por tonelada. Assim, o valor exportado para o país asiático foi recorde. Em 2023, com praticamente o mesmo volume embarcado e um cenário de doenças mais equilibrado, o preço médio caiu para US$ 4,8 mil por tonelada”, lembra Perosa. Ele afirma que Japão e Coreia do Sul poderiam ser importadores relevantes da carne brasileira, mas não há acordo sanitário entre os países.
Do lado das importações da balança comercial, o trigo lidera, pois o país não planta o suficiente para abastecer os seus moinhos. No momento, a ampla oferta de grãos argentinos a preços atrativos está desvalorizando o preço da saca na principal região produtora, o Paraná. A indústria de pães, massas e biscoitos também se beneficia da oferta de trigo russo a um preço atrativo.
Em relação aos pescados, notadamente o salmão, item importante nas importações, a tendência é de aumento da demanda, superando a oferta. O setor acredita que a procura por pescado estrangeiro deverá continuar forte no país. Este ano, o Brasil já importou R$ 734 milhões em valor do produto – os números crescem desde 2020, segundo dados da plataforma Agrostat do Mapa.
“O peixe é a proteína que mais cresce no consumo em todo o mundo. Vejo um crescimento muito rico na nossa área”, prevê Júlio César Antônio, presidente da Mar & Rio Pescados, de São José do Rio Preto (SP). O importador compra de tudo, desde sardinha até bacalhau, da Noruega, com fornecedores em 17 países, e abastece praticamente todo o país com frota própria e através de distribuidores. No ano passado, importou 12,8 mil toneladas e faturou R$ 780 milhões. No planejamento para 2024, a previsão da Mar & Rio é crescer 15%.
Com segurança, o executivo defende que o Brasil tem capacidade para ser o celeiro mundial de pescados. “Poderíamos ser os produtores do futuro, exportando muita tilápia e tambaqui e, quem sabe, até carnes exóticas, como sapo e jacaré”, imagina.
Presidente da Associação Brasileira de Promoção do Pescado (Abraspes), César Antônio considera que melhorias na governança podem ajudar a posicionar o país como um produtor global relevante. Os associados, que vendem apenas o produto escorrido, livre de água congelada, estão trabalhando para que outras empresas do segmento, inclusive de menor porte, garantam o mesmo. Outro objetivo do grupo é buscar um compromisso geral com a correta identificação para que o pescado embalado corresponda às espécies indicadas na embalagem, evitando fraudes.
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