O conceito de ESG (Ambiental, Social e Governança) tornou-se um pilar fundamental nas estratégias empresariais nos últimos anos, impulsionado pelas demandas de uma sociedade cada vez mais consciente e responsável. Porém, é fundamental que as empresas reflitam: estão realmente cuidando do bem-estar dos seus colaboradores, que formam o coração da organização?
Desde a Revolução Industrial, o ambiente de trabalho passou por transformações significativas. Inicialmente marcado por longas jornadas, condições insalubres e falta de direitos, o cenário trabalhista evoluiu consideravelmente. Este progresso acelerou após a Segunda Guerra Mundial, quando o bem-estar dos trabalhadores passou a ser visto não apenas como uma questão moral, mas também como uma componente crucial da produtividade e do sucesso empresarial. Com isso vieram regulamentações mais rígidas e maior conscientização sobre saúde e segurança no trabalho.
No século XXI, esta evolução ganhou ainda mais impulso com a crescente consciência do impacto das operações empresariais no bem-estar social. A preocupação com o ambiente interno da empresa tornou-se tão importante quanto as operações externas. Como bem lembrou o almirante William McRaven: “Se você quer mudar o mundo, comece arrumando a cama”. Este conselho destaca a importância de iniciar mudanças significativas através de ações internas, estabelecendo uma base sólida dentro da empresa antes de tentar impactar o mundo externamente.
O compromisso com o bem-estar dos colaboradores vai além da boa vontade; converte-se em vantagens concretas, como aumento de produtividade e inovação. As organizações que adotam práticas focadas no bem-estar não só atraem, mas também retêm os melhores talentos, graças a estratégias como a flexibilização do trabalho e a promoção de uma cultura inclusiva.
De acordo com a pesquisa “Talent Trends 2024”, realizada pelo Page Group, o bem-estar O treinamento individual é extraordinariamente valorizado pelos profissionais no Brasil. O estudo revela que mais de metade dos entrevistados preferiria recusar uma promoção a comprometer o seu bem-estar geral, sendo esta inclinação mais pronunciada entre as mulheres e os jovens profissionais.
Além disso, quase oito em cada dez brasileiros colocam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional no topo de suas prioridades profissionais, superando até mesmo o desejo por um bom salário e bem-estar mental. Esses dados destacam uma tendência clara: o capital humano é visto como o ativo mais valioso de qualquer organização, exigindo investimento contínuo e adaptado às crescentes e diversificadas expectativas dos trabalhadores.
Este panorama realça uma verdade inescapável: investir no bem-estar dos colaboradores é uma estratégia essencial para qualquer empresa que aspire não só a prosperar, mas também a liderar com integridade no panorama empresarial moderno.
E como incorporar o bem-estar dos colaboradores na estratégia ESG? Aqui estão algumas dicas que podem orientar o gerenciamento:
- Auditorias de bem-estar: é fundamental realizar auditorias regulares para avaliar as políticas de bem-estar e coletar feedback anônimo dos funcionários. Esses dados podem ser usados para ajustar e melhorar as práticas existentes.
- Desenvolver horários de trabalho flexíveis: A implementação de acordos de trabalho flexíveis, como horários ajustáveis e trabalho remoto, pode ajudar os funcionários a manter um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.
- Formação de liderança para ESG: é importante oferecer formação contínua aos líderes sobre a integração de práticas ESG, com foco em aplicações práticas que melhorem o ambiente de trabalho.
- Programas de promoção e apoio à saúde mental: O estabelecimento de programas de saúde mental que oferecem terapias e workshops sobre gestão do estresse pode melhorar a saúde mental e a produtividade dos funcionários.
- Medição e relato transparentes de resultados ESG: É essencial desenvolver um sistema para medir e relatar de forma transparente os efeitos das iniciativas ESG, especialmente no bem-estar dos funcionários. Os resultados devem ser compartilhados interna e externamente.
Portanto, antes de lançar iniciativas ESG voltadas para o exterior, é fundamental que as empresas garantam primeiro o bem-estar e a satisfação dos seus colaboradores. Este compromisso interno é a base sobre a qual as práticas ESG externas devem ser construídas.
Ao garantir que as políticas internas refletem verdadeiramente os valores ESG, as empresas ganham credibilidade e reforçam a sua integridade corporativa. Desta forma, as suas ações externas tornam-se um reflexo autêntico dos seus compromissos internos.
Agora é a hora de transformar princípios em práticas e ideais em ações. Como líder e agente de mudança, você pode moldar um futuro em que o sucesso empresarial e o bem-estar humano coexistam. Liderar pelo exemplo e criar um ambiente de trabalho que não apenas prospere, mas também inspire as pessoas ao seu redor, é fundamental. Em vez de esperar para ver a mudança, seja a mudança. Juntos, é possível construir um legado de integridade e responsabilidade que transcenderá as fronteiras da organização.
Ricardo Basaglia É vice-presidente da Diretoria Executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP), além de CEO da Michael Page no Brasil, maior empresa de recrutamento de executivos da América Latina.
Ricardo Basaglia é vice-presidente da Diretoria Executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) — Foto: Arquivo Pessoal
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