Mercado repercute queda de ‘big techs’ enquanto monitora falas de Campos Neto e Lula | Bolsas e índices

As ações da Tesla caíram cerca de 8%, enquanto as da Alphabet, dona do Google, caíram ontem 2%, após a divulgação de seus balanços. É verdade que, no caso do fabricante de veículos eléctricos, o lucro ficou abaixo das expectativas. A receita, por sua vez, foi recorde. No caso de dona do Google, o balanço foi melhor que o esperado, com lucro e receita surpreendendo positivamente.

Segundo analistas, parte dessas quedas pode ser justificada por um cenário mais nublado nos Estados Unidos. Especialmente tendo em conta a eleição. Por enquanto, a vitória de Donald Trump, do Partido Republicano, continua a liderar as apostas. E a agenda deste eventual governo tende a ser mais protecionista. Isto porque o próprio Trump costuma pedir aumento nas tarifas de importação, redução de impostos e limites à entrada de imigrantes. Esse “pacote” ganhou até o nome de “Trump trade” (ou “fator Trump”) no mercado. E essa política, segundo analistas, deverá se refletir em inflação e juros mais elevados lá, pelo menos no curto prazo.

E, para quem não sabe, um cenário de juros mais elevados tende a punir mais as empresas de tecnologia. Isto acontece porque estas empresas enquadram-se no grupo das chamadas “empresas de crescimento”, que necessitam de reinvestir o seu capital para fazerem progredir os seus negócios. Como a maior parte do valor de mercado que lhes é atribuído pelos investidores depende dos fluxos de caixa dos próximos anos, quando as taxas de juros são mais altas, esses fluxos têm um valor presente menor. Ou seja, o fluxo de caixa dessas empresas está concentrado no futuro.

Porém, é importante ressaltar que nada é definitivo. Afinal, ainda não foi decidido se a vice-presidente, Kamala Harris, será o nome definitivo para substituir Joe Biden na corrida presidencial pelo lado democrata. Portanto, o assunto continua no radar.

O que também chama a atenção são os discursos de alguns “Fed boys” (nome dado aos diretores do Federal Reserve, o banco central dos EUA). A presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, discursará às 17h de Brasília, enquanto Michelle Bowman, membro do conselho do Fed, discursará em evento às 17h05. As declarações continuam no radar porque podem trazer pistas sobre o que deve acontecer com os juros neste ano, principalmente depois O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, tem dado sinais de que um corte está mais próximo do que o esperado.

Aqui, num dia de agenda vazia, os investidores ficam de olho na participação dos Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento sobre blockchain, no Rio de Janeiro, a partir das 10h. E não é só ele. Presidente Lula também tem agenda lotada na capital fluminense nesta quarta-feira. Às 9h, o presidente terá audiência com o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga. Às 10h terá audiência com a vice-presidente do Clube de Madrid, Michelle Bachelet e às 11h participará na sessão de abertura da Reunião Ministerial do Grupo de Trabalho para o Estabelecimento de uma Aliança Global contra a Fome e Pobreza, Galpão da Cidadania. Os investidores estão atentos a possíveis falas do presidente.

Recentemente, Lula tentou acalmar os ânimos do mercado ao afirmar que “haverá cortes de gastos no governo sempre que necessário”. No entanto, o mercado continua receoso quanto ao âmbito fiscal aqui. Isso porque o governo divulgou uma projeção de déficit de R$ 28,8 bilhões neste ano. O valor está dentro do limite de tolerância para atendimento ao enquadramento tributário. Mesmo com o anúncio da contenção de R$ 15 bilhões, os investidores consideram a situação difícil, o que levanta dúvidas sobre a capacidade de manutenção sustentável das contas públicas. O dia, portanto, pede atenção para possíveis discursos sobre o tema.