Do tamanho de botões, os biofilmes indicam o estado de conservação dos alimentos em tempo real e são feitos com matéria-prima abundante e de fácil acesso Getty Images Pensando em inovar na área com o desenvolvimento de um método inteligente para auxiliar na tarefa de identificar a deterioração de alimentos, pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, do Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Unesp, em Rio Claro, criaram novos biofilmes à base de amido que indica se determinado produto está impróprio para consumo, funcionando como verdadeiros “narizes artificiais”. Os resultados da pesquisa foram publicados este ano em artigo na revista científica internacional Microchimica Acta. Além de monitorizar em tempo real o estado de conservação dos alimentos e evitar assim o desperdício, a nova tecnologia contribui também para garantir a segurança alimentar e a confiança dos consumidores, garantindo que os produtos serão adquiridos enquanto ainda se encontram em bom estado. Do tamanho de um botão, os biofilmes foram desenvolvidos a partir de matérias-primas abundantes e de fácil acesso: fécula de mandioca (fécula de mandioca doce), água e glicerol – uma espécie de álcool. Quando o assunto é alimentação, o Brasil ocupa duas posições antagônicas. Se está no top 5 dos maiores produtores agrícolas, a sua população, por outro lado, é uma das que mais desperdiça alimentos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em estudo do ano passado, 27 milhões de toneladas de alimentos no país vão anualmente para o lixo. Na maioria dos casos, porém, o desperdício ocorre por falta de atenção ao estado dos alimentos. Os biofilmes produzidos são coloridos com substâncias (corantes) que mudam de cor ao entrar em contato com determinados gases liberados por alimentos estragados, como compostos de enxofre e nitrogênio. À medida que os alimentos começam a deteriorar-se, estes gases emitidos provocam reações químicas que alteram a cor inicial dos biofilmes, indicando que os alimentos podem estar estragados. Um conjunto de biofilmes pode ser aplicado como parte integrante da embalagem ou como sensor interno em contato indireto com o alimento. Desta forma, os consumidores ou operadores poderão verificar visualmente a cor do biofilme sem abrir a embalagem, permitindo uma análise rápida e não invasiva da frescura dos alimentos. Cada mudança de cor é pré-determinada para identificar determinados níveis de deterioração e diferentes tipos de gases, proporcionando um método fácil e eficaz para monitorar a qualidade do produto. Na pesquisa, os cientistas comprovaram a viabilidade dos biofilmes com testes para monitorar a deterioração de carne bovina, suína e de frango, confirmando a confiabilidade da nova tecnologia: “Nem todos os biofilmes mudam de cor da mesma forma, depende muito do composto que é presente. reagindo. Portanto, utilizar um conjunto de biofilmes lado a lado, como se fosse um rótulo, traz confiança nas mudanças de cor do material”, explica Danilo Manzani, professor do IQSC e um dos autores do trabalho. “Conseguimos avaliar o estágio de conservação do produto observando o rearranjo das cores após a exposição a alimentos em diferentes estágios de apodrecimento. Além disso, esses biofilmes são muito baratos, é um investimento de centavos”. Sustentabilidade O custo de produção de um biofilme é mínimo e é mais um fator que pode beneficiar consumidores e supermercadistas na tarefa de conservar os alimentos. Para se ter uma ideia, um saco de 500g de fécula de mandioca doce não custa mais que R$ 10,00 e, com 500mg do produto, é possível produzir cerca de 1.000 biofilmes. Numa comparação simplificada, os biofilmes funcionam de forma semelhante ao nosso nariz, que possui um conjunto de nervos para identificar diferentes tipos de cheiro. No caso dos biofilmes, ao invés do odor, eles detectam moléculas emitidas durante o processo de decomposição dos alimentos, mudando de cor. É como se cada biofilme se comportasse como um nervo olfativo humano. “É mais fácil assim porque acaba sendo um experimento visual. Você olha e é fácil de ver, não precisa de nenhum outro instrumento. E a mudança de cor tem a ver com os compostos que estão sendo emitidos pelos alimentos”, relata João Flávio Petruci, professor da UFU e um dos responsáveis pela pesquisa. O biofilme de amido já existe no mercado, mas ainda não há nada que o utilize em conjunto com esses narizes artificiais para monitorar o apodrecimento dos alimentos.” Utilizando o amido como principal matéria-prima, os cientistas propõem um material biodegradável e de fácil acesso como mais uma alternativa aos plásticos sintéticos derivados do petróleo, prejudiciais ao meio ambiente. Para Antonio Roveda, graduado pelo IQSC e pesquisador do Departamento de Física do IGCE da Unesp, a praticidade dos novos biofilmes deverá ajudar milhares de pessoas, sendo uma opção para conservar alimentos tanto em casa quanto nas gôndolas de supermercados, mercearias ou pequenos estabelecimentos . comerciais. “O legal de todo esse processo é a garantia da segurança alimentar do consumidor. Se houver uma bandeja de carnes na prateleira do mercado, por exemplo, a pessoa vai olhar e identificar se o alimento está pronto para ser consumido. Será uma espécie de indicador da validade daquele alimento, pois vemos muitos alimentos vencidos”, afirma o pesquisador, um dos autores do artigo. Assim, a pessoa poderá detectar se a carne foi disponibilizada há uma semana ou há um mês”, afirma o pesquisador. Ainda é cedo para fazer uma projeção de quando o novo biofilme estará disponível no mercado. No entanto, os líderes do projeto estão abertos a estabelecer parcerias com entidades das áreas de produção alimentar, académica e industrial para acelerar a chegada do produto às prateleiras. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudo contou ainda com a participação de Luan Passini, do IQSC, e de Bárbara Cristina Dias, estudante da UFU. *Matheus Martins Fontes e Henrique Fontes, do Gabinete de Comunicação do IQSC, adaptado por Júlio Bernardes **Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado Most Read
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