A gerente de facilities e serviços administrativos, Astrid Karoline*, acabara de perder o emprego em uma multinacional. Com uma hipoteca em andamento e dois filhos, ela ficou preocupada com suas finanças. Além de cortar despesas, ela buscou auxílio profissional. Ele foi atrás do seu assessor de investimentos, de um escritório ligado a uma corretora muito, muito conhecida.
Apesar de pisar em ovos quando o assunto é mercado financeiro, ela sabia exatamente do que precisava: um colchão assim, muito confortável, fofinho, cheiopara usar enquanto tenta voltar ao mercado. “Eu não queria deixar o dinheiro parado, mas precisava que ele estivesse disponível para ser usado, se necessário, a qualquer momento”, diz ele.
No jargão da Faria Lima, algo mais rentável que a poupança e com alta liquidez.
Ao receber as opções de investimento e entrar na plataforma da corretora, quase se afogou na sopa de letrinhas. Siglas como CDB, NTN-B, LCI e FIRF CP não faziam sentido para ela. Com tantas dúvidas, ela procurou o conselho de uma amiga que tinha mais conhecimento no assunto.
“Ela ficou chocada porque meu dinheiro estava na poupança e na corretora, mas eu não tinha nada no Tesouro Direto. Ela indicou, falou bem, disse que era seguro. Mas quando fui fazer isso, vi que existem tantos tipos, cada um com um nome. Qual escolher?”
Astrid então retomou o contato com o assessor para investir no Tesouro. E o profissional começou a falar mal dos títulos públicos. Foi um investimento “terrível”, disse ele, um verdadeiro comedor de poeira em relação a outros ativos.
O assessor tirou da cartola folhas de fundos de crédito privado, todos voláteis e que poderiam gerar prejuízos se utilizados como reserva de emergência. E, pior ainda, sugeriu fortemente que eu comprasse um certificado de recebíveis do agronegócio (CRA), que é ilíquido e de longo prazo. Em suma, as alternativas propostas iam na direção oposta ao objetivo do cliente: um simples fundo de emergência.
Astrid estava desconfiada. Ela perguntou sobre liquidez e foi bastante conservadora. O consultor reagiu oferecendo outra opção de fundo. Desta vez, um fundo DI, como são chamados aqueles que prometem render 100% do CDI. Mas… O valor de entrada inicial foi quase metade do total disponível para aporte e a taxa de administração ficou acima da cobrada pelo Tesouro Direto.
Mais uma vez, algo desvantajoso para o cliente. Impediria o acesso a um cabaz de activos mais diversificado e teria custos ligeiramente mais elevados.
Em diversas ocasiões Astrid foi desestimulada a investir em CDBs e quando buscou essa oportunidade em seu principal banco as opções trouxeram retornos inferiores ao Tesouro Selic.
Além dos produtos estarem fora do perfil do investidor, o assessor ainda foi um tanto agressivo, por assim dizer. Ele queria uma decisão de Astrid até ontem. “Você perderá uma oportunidade única”, disse ele. E impôs prazos para fazer contribuições. Diante do assédio, ela quase cedeu. Se assim fosse, haveria um elevado risco de perdas no curto prazo.
A saga de Astrid foi cheia de frustrações, dificuldades e insegurança. Um tipo de experiência negativa que contribui para que os brasileiros ainda mantenham quase R$ 1 trilhão em investimentos não rentáveis, como poupança, em troca de melhores oportunidades no mercado financeiro.
Os produtos recomendados pelo consultor não eram necessariamente ruins. Mas não eram para Astrid. Eles estavam descompassados com seu perfil e seu objetivo. Talvez seja um caso esporádico de conselheiro mal intencionado ou incompetente? Poderia ser. Ou, o que acontece mais comumente do que deveria, o caso expõe o conflito de interesses do profissional.
Existem casos ainda mais graves que o de Astrid por aí. Episódios como o dela são recorrentes em processos judiciais e plataformas como o Reclame Aqui.
Há situações em que os consultores aconselharam os clientes a contrair empréstimos para investir em Certificados de Operações Estruturadas (COE), que são voláteis e não têm retorno garantido. O argumento era que o investimento traria retornos acima dos juros do empréstimo.
Em outras histórias, os investidores contam que o consultor pediu que mudassem o perfil de investimento para “agressivo” para fazer investimentos mais arriscados. Dezenas de reclamações indicam que eles não foram bem informados sobre os riscos das aplicações, foram pressionados a tomar decisões rapidamente e até registraram prejuízos após movimentações não autorizadas.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vem tentando tornar a relação entre consultor e investidor mais transparente. A Resolução 178 exige que os consultores de investimentos forneçam ao cliente uma declaração detalhando suas atividades, estrutura de remuneração e potenciais conflitos de interesse. Porém, muitos assinam o termo sem entendê-lo ou mesmo lê-lo na íntegra.
O conflito de interesses decorre da forma como são remunerados os consultores, que prestam assistência supostamente gratuita ao cliente, mas recebem bônus e comissões para captar investimentos em determinados produtos. Muitas vezes, esses produtos não são vantajosos nem adequados para o investidor, mas garantem um melhor retorno para o profissional e para a empresa por trás dele.
*nome fictício a pedido do entrevistado
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