Numa cidade de 14 mil habitantes, onde a internet no celular não funciona, que vive basicamente do manguezal e está entre os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), um grupo heterogêneo se reúne duas ou três vezes por ano com alguns altos executivos, empresários e herdeiros. Ao grupo juntam-se pessoas ligadas a órgãos governamentais e movimentos sociais, bem como cidadãos curiosos e dispostos a envolver-se em projetos que mudem vidas.
Sediado em Santa Luzia do Itanhy, na divisa entre Sergipe e Bahia, o Projeto Humano (THP) vem criando projetos em série que muitas vezes nascem da complementaridade e necessidade de um deles. Há cerca de dois anos ele decidiu ignorar a falta de estrutura da cidade e o alto poder aquisitivo de muitos visitantes para criar uma imersão. Neste evento, que acontece na pacata Santa Luzia, os próprios moradores locais, que se tornaram coordenadores dos projetos, tomam a palavra para contar como as chamadas tecnologias sociais estão mudando a realidade do local.
“Já estive duas vezes em Santa Luzia, sempre com experiências maravilhosas. Em abril deste ano com 20 pessoas da nossa Fundação, entre orientadores, médicos, pesquisadores e colaboradores”, afirma o médico José Luiz Egydio Setúbal, presidente da fundação que leva seu nome, FJLES. A intenção foi mostrar in loco os projetos apoiados pela fundação. “Foi transformador para todos”, resume.
Um dos primeiros projetos do THP apoiado pela FJLES foi o Romanceirinhos, em que crianças da comunidade participaram de uma oficina literária e ao final cada uma escreveu um livro. Os 20 mil exemplares foram impressos e distribuídos aos pacientes do Hospital Sabará, que faz parte da fundação.
O encontro mais recente, em maio, atraiu CEOs, empresários, produtores rurais e executivos de empresas que investem nos projetos. Para uma dessas empresárias o encontro coincidiu com uma importante reunião da holding familiar
mas para não perder a experiência conseguiu conciliar as duas atividades. “Me apaixonei pelo projeto, vim aqui e vi e ouvi tudo que precisava”, disse ela ao final do primeiro dia de imersão.
Um dos fundadores do THP, Saulo Barreto decidiu criar a imersão devido à demanda de alguns investidores em conhecer mais sobre as tecnologias sociais aplicadas. O encontro está dividido em dois dias. Na primeira, os convidados ficam reunidos em um espaço improvisado para eventos com cadeiras de plástico, uma tenda para proteger do sol e um telão para projetar informações sobre cada ‘tecnologia social’. Os próprios membros da comunidade, transformados em coordenadores de projetos, são quem lideram 80% das vezes, para explicar como cada um funciona. No segundo dia, o grupo verá a produção e instalação dos projetos in loco. O objetivo não é mostrar a pobreza, pelo contrário, a ideia é revelar a riqueza de ideias e conquistas da população da cidade.
Frasalista e pragmático, Saulo não se preocupa ao instalar seus apoiadores em uma modesta pousada e reúne todo o grupo para um almoço simples de peixe, arroz, salada, pirão e suco feito e servido pela cozinheira Isabel no bar da beira-rio com uma vista. para o mangue. “A armadilha da pobreza afeta mais os ricos do que os pobres, é multifatorial e retroalimentada, então a solução tem que ser assim também”, afirma, que mantém um estilo direto ao falar dos projetos. Para Saulo, não adianta focar apenas em números de resultados ou empacotar discursos. “Se as pessoas da comunidade não se apropriarem dos projetos, eles não serão sustentáveis e não serão eficazes, às vezes é preciso errar e tentar várias vezes”, explica.
Com vasta experiência acadêmica e de vida, ele, que é formado em engenharia e morou na Europa e nos Estados Unidos, onde fez pós-doutorado na Columbia, enfrenta agora o desafio de formar a nova geração para tornar o THP menos dependente dele. Uma dessas apostas é Giulia Santana, sergipana de 21 anos que participa e cria empreendimentos de impacto social desde os 12 anos e atualmente mora em São Paulo, onde está se formando em Marketing. “Participei de várias coisas, criamos o projeto Onda do Bem, mas em determinado momento senti que estava ajudando, mas não mudando nada”, diz Giulia, que decidiu ingressar no THP onde hoje é coordenadora de relações institucionais e novos negócios . “Aqui nosso foco é a transformação, a ideia é que em algum momento nos tornemos dispensáveis em projetos”, completa.
O foco do THP em dar destaque às pessoas e torná-las capazes de reaplicar conhecimentos é um dos pontos que chama a atenção de instituições e investidores. Em Santa Luzia, a história começa em 2010 com o Synapse, um projeto ou ‘tecnologia social’, como o definem, que procura aumentar a qualidade, a eficácia e o alcance do ensino e da aprendizagem. Falando assim, de forma fria e objetiva, fica difícil dar as dimensões do projeto e por isso as imersões são relevantes, explica Saulo.
Estive duas vezes em Santa Luzia, foi maravilhoso, transformador para todos”
— José Luiz Setúbal
Ao chegar em Santa Luzia, investidores e potenciais parceiros poderão conhecer os materiais didáticos desenvolvidos por eles e ouvir dos próprios professores e até de ex-alunos o quão transformador o Synapse foi para as pessoas da comunidade. “Não é só uma questão de método de ensino, para ter crianças e adolescentes na escola e aprenderem de verdade, é preciso entender a realidade que eles enfrentam em casa”, disse Raiane Ribeiro, coordenadora da educação infantil do Sinapse.
Com o passar do tempo e o avanço dos primeiros projetos, o THP começou a desenvolver outra de suas marcas, que é criar uma tecnologia social baseada em necessidades ou potencialidades vistas em outras pessoas. A SIRI (escola de línguas ribeirinhas) é um exemplo. Foi criado para ampliar o alcance comercial dos empreendimentos criados pela ON (Oficina de Negócios) e outros como Cultura em Foco e Arte Naturalista (ver tabela ao lado). Outro objetivo é aproveitar o potencial turístico da região em outro projeto, o Jiro. Voluntários de outras partes do mundo participam realizando conversas por vídeo com estudantes locais.
Um projeto recente que vem chamando a atenção é o Zro, que busca fabricar objetos duráveis como carteiras escolares, cadeiras e mesas a partir da transformação e reciclagem de plásticos. Ana Paula Conceição, moradora da aldeia de Pedra Furada, juntou-se ao projeto que agora coordena há dois anos e meio. “Eu tinha o sonho de trabalhar com máquinas, quando surgiu essa oportunidade me joguei no projeto”, conta ela, que estudou na escola da aldeia onde hoje atua a Zro e antes vivia da pesca de aratus nos manguezais, como a maioria das mulheres da aldeia. região. Uma das motivações frequentemente repetidas pelo THP durante a imersão é permitir que as pessoas da cidade sonhem em fazer as coisas que desejam sem precisar sair da comunidade. Mostre que isso também é possível.
Este variado ecossistema de projetos que comunicam e baseiam-se na participação local é um dos aspectos que chamou a atenção de Eduardo Saron. Presidente da Fundação Itaú, esteve na imersão de maio. “A grande chave nas tecnologias sociais é produzir participação. Fui ver de perto essa produção de conhecimento, um território criativo e muito interessante que envolve vários tipos de novas economias: verdes, criativas, tecnológicas, de cuidado”, disse Saron. Ele levou a esposa, a médica Thais, e o filho Gabriel, de 13 anos, que encantou os presentes por ser um dos ouvintes mais atentos e pelo discurso eloquente e socialmente consciente proferido ao final das palestras.
A prática de levar a família para vivenciar de perto uma nova realidade não é incomum. Tanto é que Saulo já planeja um novo projeto, o Mochila da Vida, que vai aliar esse tipo de demanda à necessidade de ter uma infraestrutura maior para receber visitantes. A ideia é construir uma espécie de pousada que permita programas de imersão voltados para jovens.
Outro empresário que já participou das imersões é Ingo Plöger, fundador do Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Institucional (Ipdes) e membro da família que criou a empresa Melhoramentos. “Não conheci ninguém que esteve em Santa Luzia do Itanhy que não voltasse impactado pelos projetos e pelo brilho no olhar desses jovens. Eles ficam entusiasmados com suas ideias e as promovem, você pode ver o que mudou em suas vidas”, diz Plöger. Ele destaca que nas imersões os jovens da cidade se tornam protagonistas, mostrando aos visitantes suas criações e ideias, oferecendo algo novo, invertendo a lógica de quem chega do exterior e já quer dar aula. “Desta forma o sentimento de valorização se consolida e para nós o impacto é ainda maior porque percebemos que podemos ser ensinados pela vida deles”, resume.
O jornalista viajou a convite do THP
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