As micro, pequenas e médias empresas (MPME) estão se capacitando em ferramentas digitais, com ênfase em marketing digital, para alçar voo rumo ao mercado externo. As lições da pandemia da Covid-19 ajudaram este segmento empresarial a aprender que as vitrines de seus produtos podem ser ampliadas se colocadas em regiões do mundo, impulsionadas pela transformação digital. Mas o caminho para o exterior não é fácil. Entre as diversas barreiras destacam-se o idioma, a falta de conhecimento sobre questões regulatórias e de recursos para financiar as exportações.
Esses dados fazem parte do relatório “Exportações digitais de MPMEs da Argentina, Brasil, Colômbia e México: oportunidades e desafios”, que entrevistou mais de 2 mil empresas desses países, sendo 579 delas no Brasil. Produzido pela Câmara de Comércio Internacional (ICC) de cada país, com apoio da ICC Global, o estudo, realizado de junho a agosto de 2023, chega ao Brasil através do Valor, em primeira mão.
Embora a ICC represente apenas grandes empresas — Nestlé, Microsoft, Amazon e Santander, entre eles —, o estudo é focado nas pequenas empresas porque a organização vê o ambiente de negócios como um todo. Se os segmentos menores ampliam as exportações, cresce o volume de negócios dentro de uma grande plataforma, diz ele ao Valor, Gabriella Dorlhiac, diretora executiva da ICC Brasil.
O Brasil foi o país do bloco que mais acelerou o uso de ferramentas digitais (88%) após a pandemia, seguido de perto pelo México (87%) e Argentina (85%), com a Colômbia mais distante (69%).
“Noventa por cento dos negócios na América Latina são feitos por micro e pequenas empresas, que respondem por 60% do emprego produtivo”, diz Dorlhiac. “Mas, quando falamos em exportação, essa participação cai significativamente. Hoje, apenas 13% das MPMEs realizam comércio exterior e, em volume de exportações, apenas 5%.” Dorlhiac acrescenta que na Europa a participação do segmento é de 40% nas vendas externas.
Hoje, apenas 13% das MPMEs [na América Latina] têm comércio exterior e, em volume de exportação, apenas 5%
-Gabriela Dorlhaic
Os dados coletados mostram que um dos diferenciais das empresas brasileiras é a busca por exportações globais, e não apenas para países vizinhos. Argentina, Colômbia e México, ao contrário, focam mais nas vendas regionais, diz Dorlhiac, provavelmente pela facilidade de falar espanhol.
A ICC representa uma rede global de mais de 45 milhões de empresas de diversos setores, da qual a ICC Brasil faz parte. Foi responsável pela fundação do Tribunal Internacional de Arbitragem em 1923 e é a única instituição do setor privado com assento de observador na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
“Para as grandes empresas não é simples, não é fácil, então acho um trabalho admirável que as pequenas e médias empresas que já exportam estão fazendo”, afirma o executivo.
Diante dos problemas apresentados pelas pequenas empresas, a ICC está considerando oferecer treinamento e orientação este ano. Para tanto, conta com a parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), entre outros. No caso dos idiomas, porém, esse tipo de formação não faz parte da área de atuação do ICC. “É um desafio interessante pensar como isso pode ser resolvido”, pondera Dorlhiac.
No processo de transformação digital, a ICC tem conversado com empresas de diversos setores, perguntando como elas estão trazendo inteligência artificial (IA) para suas operações. “Diferentes setores olham para a inteligência artificial de maneiras muito diferentes, mas todos a estão adotando. Acho que esse é um denominador comum importante.”
Se o uso da IA ainda levanta muitas dúvidas nas grandes empresas, não é diferente nas pequenas empresas. As pequenas empresas consideram, por exemplo, que se ainda estão aprendendo a usar a tecnologia, como irão interagir dentro de suas cadeias, com seus fornecedores? Para o diretor, o principal desafio é entender como a inteligência artificial “casa” com o negócio da empresa, com a operação.
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