A trajetória seguida pelo dólar nas últimas semanas diz muito sobre as dificuldades enfrentadas pelos investidores brasileiros em direcionar seus recursos para ativos de risco.
Em meio a um ambiente econômico incerto, entre tensões geopolíticas, inflação ainda elevada e taxas de juros elevadas, o dólar vem se valorizando em todo o planeta. A sensação de incerteza e a consequente dificuldade em desenhar cenários futuros é o combustível para que os investidores priorizem ativos de renda fixa e, preferencialmente, em moeda forte. Naturalmente, os EUA são destino de muitos capitais que orbitam o planeta e a moeda americana se valoriza, enquanto as demais perdem valor.
O fato não é novo e afeta diversos países, mas vem punindo e penalizando o Brasil mais do que seus pares emergentes e até mesmo entre alguns vizinhos.
A épica do dólar, porém, teve um novo capítulo nas últimas semanas, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu virar sua artilharia contra o presidente do Banco Central, acusando-o de manter deliberadamente a taxa de juros alta para prejudicar seu governo, e atacando o autonomia do Banco Central.
Em ritmo constante, o real desvalorizou-se e recuperou valor, à medida que os ataques se intensificaram e depois recuaram. A taxa de câmbio de R$ 5,70 por dólar parece ter acendido o sinal amarelo para o risco de pressão iminente sobre a inflação e danos em ano de eleições municipais. E assim, o dólar caiu para R$ 5,47, ainda um pouco acima da cotação de antes do início dos ataques à autonomia do BC e de seu presidente.
É difícil saber se o Presidente da República agiu apenas por cálculo político-eleitoral ou se foi movido por convicções ideológicas, provavelmente ambas. Mas o que é certo é que ele mirou naquilo que parecia ver como um problema e acertou em cheio o dólar e as expectativas.
Desde meados de 2022, quando foi encaminhada a PEC Kamikaze, proposta aprovada pelo Congresso em julho de 2022, que permitiu ao então governo aumentar seus gastos no período pré-eleitoral, confrontando tanto as instituições democráticas quanto o já enfraquecido equilíbrio fiscal, o clima azedou.
Entre a PEC de transição, fim da lei do teto de gastos, marco fiscal, flexibilização do mesmo marco, suspensão e liberação de dividendos extraordinários de Petrobrásdemissão do seu presidente, redução dos preços dos combustíveis, etc. É um verdadeiro corolário do que não fazer.
Voltando aos recentes ataques lançados pelo Presidente Lula, é difícil compreender os seus objectivos. Considerando que a sua base parlamentar não é suficiente para reverter a autonomia do Banco Central, qual seria o propósito de revisitar este tema? Em relação ao nível da taxa Selic, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que contou com quatro recomendações por ele feitas, foi decidido por unanimidade mantê-la em 10,50%. Não há nada a dizer sobre preconceito político.
O tom belicoso contra os juros também criou dois problemas para seu possível indicado à presidência do BC, o atual diretor de política monetária Gabriel Galípolo. A primeira é reduzir a margem para redução dos juros no próximo ano, já que a desvalorização do dólar pressiona a inflação que se afasta da meta. O segundo, confirmando Galípolo, atuará na margem de manobra do futuro presidente para reduzir as taxas de juro, pois poderá sempre ser acusado de ser subserviente ao Governo. Em outras palavras, ele pode precisar ser mais rígido do que o necessário para provar sua independência. Abordei esse assunto neste artigo aqui.
Nos últimos 24 meses observamos grandes saídas de recursos dos fundos multimercados. Nesse período, as principais referências do mercado de risco perderam vergonhosamente o CDI, nossa taxa de juros de curto prazo e quase imune ao risco.
O IMA-B 5+ e o Ibovespa, índices que medem o desempenho das taxas de juros de longo prazo e das ações, respectivamente, acumulam perdas de cerca de 14 pontos percentuais em relação ao CDI e raramente conseguiram superá-lo em janelas mais curtas. O IHFA, que mede o desempenho dos fundos multimercados mais agressivos, também ficou cerca de 13 pontos percentuais abaixo do CDI.
Os investidores são guiados por dois vetores principais: buscam alternativas com maior retorno e evitam aquelas em que veem maior risco. É simples, ganho é prazer e perda representa dor.
Nos últimos 12 meses, a taxa Selic foi reduzida em 3,25 pontos percentuais, passando de 13,75% para 10,50%, queda substancial que não foi acompanhada pelo desempenho dos fundos multimercados, nem pelas captações, que acumulam perdas superiores a R$ 200 bilhões no período. Por que os mercados de risco não reagem?
A resposta provavelmente está no aumento da percepção de risco, o que faz com que os investidores prefiram permanecer, ou mesmo direcionar mais recursos para ativos de renda fixa mais curtos, mesmo com rendimentos mais baixos. Um retorno menor é melhor do que a possibilidade de perda, que parece iminente.
O crescimento económico que o governo tanto almeja passa pelo financiamento de projetos de crescimento empresarial, que depende de investidores dispostos a comprar ações e debêntures, entre outros títulos. Mas é possível esperar esse apetite dos investidores quando o próprio governo age para piorar a percepção de risco do mercado? Difícil.
Parodiando o título do livro do historiador José Murilo de Carvalho, “Os Bestializados”, sobre a reação dos cariocas ao presenciar as comemorações da Proclamação da República, os investidores assistem tudo isso bestializado e preferem evitar o risco.
Hudson Bessa Economista e sócio da Escola de Negócios HB
hudson@hbescoladenegocios.com
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