Não é novidade para ninguém que os brasileiros adoram apostar. Dados oficiais de uma pesquisa realizada pela Anbima (Associação Brasileira de Entidades de Mercado), mostram que 14% da população (cerca de 22 milhões de pessoas) fez pelo menos uma aposta online em 2023, enquanto apenas 2% investiu diretamente em ações do B3. Esses dados por si só fornecem informações relevantes sobre o comportamento do indivíduo médio. Mas deixemos de lado, por enquanto, os temas do investimento em ações e das apostas online, pelo menos nas apostas. Vamos falar sobre outro tipo de aposta: moedas digitais.
De acordo com o mesmo estudo, 4% da população ‘investiu’ em 2023. As aspas são propositais porque não se pode chamar de investimento o fato de enviar um pix para uma corretora e comprar moedas digitais porque neste caso, diferentemente de uma moeda comum, as impressões digitais ainda não atendem aos três requisitos básicos necessários: O) servir como meio de troca (apesar dos esforços das entidades privadas e dos bancos centrais, com as suas CBDCs (Moedas Digitais do Banco Central), ainda é muito custoso e penoso realizar transações em moedas digitais); B) unidade de conta (bom, ainda não encontramos preços em bitcoins na prateleira do supermercado) e c) reserva de valor.
Este último item pode suscitar discussões acaloradas, pois podemos encontrar argumentos que dizem que sim, o Bitcoin por exemplo, é uma reserva de valor e também não é. Bem, eu Estou mais do lado de quem diz que não éentão, Para ser considerada uma reserva de valor, uma moeda deve ter, no mínimo, relativa estabilidade em seu valor, ou seja, não deve sofrer grandes flutuações inflacionárias ou deflacionárias que corroam o seu poder de compra. Além de ser amplamente aceito e reconhecido como uma forma de preservar a riqueza e deve oferecer uma forma de proteção contra a inflação, o que não é o caso, uma vez que ainda não existem pagamentos de juros para empréstimos em bitcoin.
Independentemente de uma opinião ou de outra, e de qual será o futuro das moedas digitais não centralizadas, Apoio a adoção de CBDCs (Moedas Digitais do Banco Central) e irrefutavelmente, eu entendo que a tecnologia blockchain pode de fato ser útil para o mercado de investimentos por meio da tokenização
Esta utilidade de blockchain claramente tem potencial para eliminação (ou uma diminuição parcial, pelo menos), de intermediários e portanto do custo transacional, mas esse cenário, se comprovado na vida real, ainda levará algum tempo. O outro lado da moeda seria permitir o acesso massivo e disperso dos investidores a diferentes tipos de ativos conhecido e ainda a ser desenvolvido. E não faltam exemplos interessantes: ordens judiciais, direitos creditórios e dívidas corporativas são apenas três deles.
Já em prática no mercado em diversas corretoras e empresas do setor, esses tipos de investimentos têm sido classificados como ‘renda fixa digital‘ (citações também intencionais). E é aí que reside o perigo, tal como o perigo de COE que, no final das contas, não tem problema em sua essência como produto, mas sim na forma como é vendido e adquirido, sem o devido conhecimento dos aspectos e da complexidade que estão por trás do produto, tanto por quem é pago para vender quanto por quem investe.
Nenhum deles pode ser considerado uma renda fixa líquida e certa. Aspectos como risco de crédito, de mercado e especialmente de liquidez eles são inerentes a produtos comuns e conhecidos e isso não é diferente no caso de ativos tokenizados com o acréscimo do que chamo de complexidade de bastidores.
É claro que existem vantagens e não só do ponto de vista do investidor, como maior potencial de retorno, possibilidade de adquirir ativos em pequenas quantidades e talvez até em esquemas de negociação ininterruptos, mas também por parte do vendedor ou emissor (dependendo do caso). Podemos pensar tanto em menores custos de transação, como já mencionado, mas também em menores volumes de emissão e em um mercado secundário mais líquido e flexível. Mas tudo isso ainda levará algum tempo.
Portanto, ao pensar em investir em moedas digitaisou mesmo ativos tokenizados Em geral, como diria o árbitro, a regra é clara: estar ciente dos riscos e da complexidade desses produtos. Usando os exemplos citados neste artigo, entender como funcionam os mercados de precatórios, recebíveis de cartões e títulos de dívida corporativa, como debêntures, CRIs e CRAs, é um bom começo.
Hugo Daniel Azevêdo é consultor de investimentos e sócio da MFS Capital
e-mail: hd@mfscapital.com.br
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