Considerado o melhor jogador do esporte no mundo, o Rio Grande do Sul chega à sua quinta Paraolimpíada realizando um sonho de menino: “Quando fiquei cego, pensei que nunca mais conseguiria jogar futebol” Em Paris, pela primeira vez , as partidas de futebol para cegos terão duração de 30 minutos, dez minutos a menos que os 40 minutos das edições anteriores. Eleito o melhor jogador do mundo na modalidade em 2006, 2014 e 2018, o brasileiro Ricardinho chega à sua quinta edição dos Jogos Paralímpicos com sonho e opiniões fortes sobre a mudança das regras. O sonho, claro, é conquistar seu quinto ouro paralímpico, o sexto do time, e continuar realizando suas fantasias de infância. As opiniões são a favor do esporte que ele tanto ama e que acredita estar sendo prejudicado. O extremo afirma ainda que a jornada do Brasil será mais dura do que nas Paraolimpíadas anteriores. Ricardinho Alves, destaque brasileiro no futebol para cegos, nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago, Chile Alessandra Cabral/CPB – As dificuldades aumentaram devido à evolução das equipes, temos que reconhecer essa evolução. E alguns pela mudança de regras, que foi um revés para o nosso esporte. Reduzir o tempo de jogo de 40 para 30 minutos baixa o nível, favorece o time que só quer marcar, que não se preocupa em jogar bola. E atrapalha as equipes técnicas, no caso do Brasil – critica. + Invicto nas Paraolimpíadas, Brasil busca o sexto lugar no futebol para cegos + Paraolimpíadas Paris 2024: veja os atletas brasileiros classificados + Acompanhe nosso canal no WhatsApp Para superar as novas dificuldades, a seleção brasileira de futebol para cegos passou o ano inteiro de 2024 em João Pessoa, em Paraíba, para onde os jogadores se mudaram para poder treinar juntos. A seleção de futebol para cegos teve uma preparação especial para Paris 2024 – O que fizemos para superar essas adversidades foi passar o ano juntos, para ganhar mais volume de jogo. Não tenho dúvidas de que preparar em João Pessoa foi a melhor escolha. Se isso resultará em medalha de ouro, veremos – diz o atleta, que elogia as estratégias do Comitê Paralímpico Brasileiro: – O trabalho que o CPB está fazendo, com centros de referência espalhados pelo Brasil, é descobrir joias que estão sendo polidos e hoje estão aqui. Tenho amigos do atletismo, do goalball, do judô, não há nenhum esporte em que o Brasil esteja mal, acho que vamos trazer ótimos resultados, vamos nos sair bem no quadro de medalhas. + Multicampeão, Nonato busca mais um ouro com a seleção brasileira de futebol para cegos Ricardinho perdeu a visão aos oito anos, devido a um descolamento de retina. Houve dois baques ao mesmo tempo. – Primeiro, pela perda de visão de uma criança. A segunda é que eu já sonhava em ser jogador de futebol e, quando fiquei cego, pensei que nunca mais conseguiria jogar futebol. Como não sabia da existência do futebol para cegos, ainda havia muito pouca publicidade. Então foi um processo muito difícil no início, mas tive muito apoio da minha família. Ricardinho, três vezes melhor do mundo no futebol de 5 Marcio Rodrigues/CPB/MPIX Descobriu que seu sonho ainda poderia ser realizado aos 10 anos, quando um professor de Porto Alegre, Dodô, falou sobre futebol para o cego. – Sempre digo que naquele momento comecei a sonhar pela segunda vez. Comecei a treinar com ele e as coisas foram indo, até que aos 15 anos cheguei ao meu primeiro clube, aos 16 na Seleção Brasileira. + Paraolimpíadas 2024: entenda as classes de cada esporte + CPB projeta mais de 80 medalhas e recorde de ouro em Paris O talento que os pais do menino já contavam ao menino que ele tinha aos cinco, seis anos, foi desenvolvido na adolescência. Já não via a bola, mas guiava-se pelo som dos sinos que estão dentro das bolas no futebol cego e sentia que podia ser bom com ou sem visão. – Modéstia à parte, quando ainda enxergava, aos cinco ou seis anos, já gostava muito de futebol. Era meu jogo preferido, já sonhava em ser atleta. E lembro que fiz algumas coisas que eram realmente incomuns para uma criança de seis anos e impressionei as pessoas. Ouvi várias pessoas falarem para o meu pai: “ah, leva esse menino para fazer teste no Grêmio, no Inter”, porque já viam algo diferente na forma como eu jogava. Lá eu já estava usando para alimentar meu sonho. Porque vi que as coisas que fiz com a bola estavam funcionando. Então, e é o que eu sempre falo, o atleta vai jogar bem vendo ou não, o importante é que ele tenha talento. Deus me deu esse dom, que eu tive que lapidar. Eu continuo aperfeiçoando até hoje, sabe, sempre temos coisas para melhorar. + Os maiores medalhistas paralímpicos do Brasil: veja a lista atualizada + O que é capacitismo? Entenda como não cair nessa armadilha O Brasil é pentacampeão paralímpico, já venceu todas as vezes desde que o futebol para cegos passou a fazer parte do evento, em Atenas 2004. Ricardinho chegou ao time aos 19 anos para a edição seguinte, em Pequim 2008. São quatro medalhas de ouro. E ele acredita no hexa, mas ressalta que esta será a edição mais difícil para o Brasil. – O Brasil tem cinco medalhas de ouro e sonha com a sexta. É muito difícil ganhar um, imagina ganhar cinco? E imagine ganhar seis – afirma, destacando Argentina, Marrocos, Colômbia e China como adversários muito fortes: – Não vejo time fraco, e não é um discurso ensaiado, é só uma briga. Quem estiver melhor no momento vencerá, é uma chance curta. Guilherme Costa atualiza notícias sobre as Paraolimpíadas Mas Ricardinho está confiante na preparação do Brasil. E assume a responsabilidade de ser líder da equipe e está de parabéns por ser considerado, por muitos, o maior jogador de todos os tempos no futebol para cegos. – Vimos que ao longo da história produzimos estrelas, o Pelé nem é citado, no futsal teve o Falcão, que já parou de jogar e não acho que vai nascer outro como ele. Então, é uma marca brasileira e para nós é um privilégio ter tanto talento em nosso país. Pessoas com talentos marcantes, nas mais diversas atividades. E no futebol vemos isso. + Arena da Torre Eiffel vira palco do futebol para cegos nas Paraolimpíadas; veja as mudanças O Brasil estreia no dia 1º de setembro contra a Turquia, às 9h30 (horário de Brasília), com transmissão no sportv2. Os jogos acontecerão na já icônica Arena da Torre Eiffel, considerada a mais bela dos Jogos e sede do vôlei de praia durante as Olimpíadas. Arena da Torre Eiffel será palco do futebol para cegos nas Paraolimpíadas – Vale a pena, né? Porque o foco, obviamente, está dentro das quatro linhas, mas tem todo esse charme. O público que vier assistir experimentará esse clima. Isso, se Deus quiser e ganharmos o ouro, será algo mais, poder dizer que fui campeão paralímpico em pé na Torre Eiffel. Dê um pouco mais de pimenta.
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