Conhecido por seus vídeos humorísticos, influenciador do Vasco quebra barreiras e não precisa mais se esconder dentro de um estádio de futebol: “Tenho uma história, uma luta, uma trajetória” Nando Gald quebra barreiras com vídeos humorísticos sobre os estádios de futebol do Vasco São lugares para os torcedores desabafar suas paixões e se sentir mais próximo de seus times favoritos. Onde há celebração (por vezes frustração), mas também onde a alegria ainda se mistura com estereótipos ultrapassados. Portanto, nem sempre é um local seguro para todos. Um torcedor vascaíno, porém, vem desafiando essas “normas”. A história de Fernando Galdino merece respeito. Arraste para o lado e veja um exemplo de conteúdo produzido por Nando Texto do plugin inicial Nascido e criado em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Nando Gald usa o humor para se enquadrar em um ambiente ainda muito machista. Há alguns anos, era difícil imaginar um torcedor gay, afeminado e drag queen sendo abraçado pela multidão em um estádio. Por isso, Nando muitas vezes escondia sua personalidade ao acompanhar o pai e os irmãos aos jogos do Vasco em São Januário. – Tive medo de ir, de ficar no meio da multidão, porque não me sentia acolhida. Meu pai me ligou e eu disse “não”. Tive medo de gritar, de me expressar, de torcer. Com a minha voz, toda menina, torcer para mim foi muito chocante. Eu fui, mas sentei no meu canto. Para mim tudo é muito novo – conta o vascaíno ao ge. Nando (à esquerda) com os irmãos e o pai em São Januário, em 2011 Arquivo pessoal Hoje, Nando não precisa mais se esconder. Pelo contrário. Ele se destaca na multidão. E ele deve, em parte, seu “boom” nas redes sociais à torcida vascaína. É provável que um vídeo do influenciador já tenha passado na tela do seu celular (veja no início da matéria). – Meu pai e meu padrasto são muito torcedores do Vasco. Eles são super amigos, vão aos jogos juntos. No aniversário do meu pai fiz um post com ele. Uma foto é séria e a outra é só de meninas, é brincadeira ele pergunta. Aí, no aniversário do meu padrasto, eu estava com a camisa do Vasco e dei um close na frente do bolo. Postei e fez sucesso, explodiu – conta Nando. – Fiquei com medo de postar e ser alvo, mas um amigo me incentivou: “O Vasco é isso, seja o que você é”. Viralizou e as pessoas começaram a pedir mais vídeos do Vasco – acrescenta. Nando Gald explica sua relação com o Vasco e como seus vídeos o tornaram um torcedor No início do mês passado, Nando foi convidado pelo Vasco para participar do evento de lançamento do novo patrocinador máster do clube. Desde então, fez parceria com a casa de apostas que patrocina o Vasco e é frequentemente convidado para os jogos do time. Neste dia 28 de junho é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, causa que vem sendo abraçada pelo Vasco. Nos últimos anos, o clube realizou campanhas e, em 2021, trouxe as cores do arco-íris para o seu uniforme, que se tornou a bandeira do movimento. Nando e seu padrasto em aniversário temático do Vasco Arquivo pessoal “Furei a bolha” Com os bordões “respeite minha história” e “este é o Vascão”, Nando Gald furou a bolha. Gol para toda a vida como torcedor, hoje ele não pode e não quer passar despercebido em São Januário. – Quebrei a bolha de levar meu conteúdo para outro público. As pessoas não me veem apenas como um gay fazendo palhaçadas na internet. Tenho uma história, uma luta, uma trajetória – destaca. – Depois que me tornei viral, meu pai e meu padrasto compraram ingressos e me obrigaram a ir ao jogo. Eu fui com medo. Quando cheguei comecei a tremer com tanta gente em cima de mim. Meu pai: “Você é uma sensação no público.” As pessoas tiraram fotos comigo, me abraçaram, me chamaram de Nando, eu falei: “Gente, o povo é próximo de mim”. Quando entrei no estádio, as pessoas começaram a gritar comigo – acrescenta o vascaíno, que trabalha como técnico de enfermagem. Nando rondando São Januário em dia de jogo do Vasco Arquivo pessoal Ele ainda não tem ideia do impacto positivo que sua coragem causa nas pessoas. Ser gay e gostar de futebol é um tabu para muitas pessoas. Enquanto os torcedores do Vasco abrem as portas de São Januário para Nando, Nando abre as portas da liberdade para milhares de homossexuais que ainda não conseguem se ver dentro de um estádio. – O que você vê na internet é quem eu sou. É por isso que digo “respeite minha história”. E o melhor é que as pessoas chegam até mim e dizem que se sentem representadas. – Sempre chega alguém e me pede para continuar, alguns gays que discretamente dizem que eu os inspiro, dizendo que o que estou fazendo é importante. O que eu estou fazendo? Estou sendo eu dentro de um estádio de futebol. Nando, o Vascão, viajando pela Europa Arquivo pessoal É raro, mas ainda há hostilidade – Foi no jogo contra o Vitória. Estávamos saindo do estádio, um cara estava me insultando. Muitas pessoas estavam tirando fotos comigo e ele estava me xingando. Ele saiu de onde estava e veio até mim, me agarrou pela cintura e gritou: “Até quando você vai continuar fazendo essa bobagem? Vira homem!” Foi agressivo. Meu pai chegou na mesma hora, alguns fãs também gritaram. Sabemos que existe, mas quando está conosco… – Fiquei chocado, não tive reação. As pessoas ainda estão preocupadas com a maneira como as outras pessoas vivem suas vidas. Meu pai o atacou como um leão: “Eu sou o pai dele e não tenho problemas, então não permito que você diga nada a ele”. Foi uma situação muito chata, mas eu estava preparado. A pessoa pode não gostar, mas prezo pelo respeito. + Clique aqui para acompanhar o novo canal ge do Vasco no WhatsApp Nando diz que foi assediado por outro torcedor em jogo do Vasco A situação relatada por Nando é grave, mas rara se comparada ao carinho e apoio que tem recebido da maioria dos torcedores e também de o clube. E o fato de estar preparado para momentos como esse diz muito sobre a compreensão que recebeu em casa. Enquanto muitos amigos gays foram e são assediados pela própria família, o vascaíno sempre teve a família como base. – Falei abertamente com minha família quando tinha 16 anos. Eles sempre cuidaram de mim, me prenderam naquela bolha familiar para que eu não saísse pelo mundo, com medo de me machucar. Até hoje meus pais ficam desesperados quando saio de casa, muito preocupados com o que o mundo pode fazer – diz Nando. – Tenho uma rede de apoio muito grande, sou um privilegiado. Minha família é diversificada e todos se dão bem, respeitando o espaço de cada um. Se o mundo fosse assim, muitas coisas não seriam como são – acrescenta. O roubo que não aconteceu por causa de Vasco Nando diz que ele foi reconhecido como ladrão e fugiu: “Você não, Vascão” – Hoje posso rir da situação, mas fiquei com medo de ir trabalhar por mais de um semana. Eu estava indo para o trabalho, no ônibus, acordei com gente gritando. Dois garotos estavam roubando pessoas, indo a todos os bancos pedindo seus telefones. Fiquei desesperado. Foi triste ver as pessoas perdendo seus pertences, todo mundo brigava, me senti muito mal por todos. – Eu estava com o telefone na mão e minha bolsa aberta. Ele pegou meu perfume, olhou para meu rosto e disse: “Você não, Vascão”. Fui até reconhecido no mundo do crime (risos). Por que você está chorando, Monalisa? Nando diz que foi reconhecido pelos torcedores do Vasco na Europa – Meu irmão mora em Portugal, eu me organizei, economizei muito tempo para ir visitá-lo. E fomos mochilar pela Europa. Dentro do Museu do Louvre (Paris, França), acho que a Mona Lisa (pintura de Leonardo da Vinci, uma das obras de arte mais visitadas do mundo) enlouqueceu comigo, não me aguentou. As pessoas, em vez de tirar fotos com ela, tiravam fotos comigo. Vários trabalhos maravilhosos e pessoas tirando fotos minhas. Até aos pés da Torre Eiffel: “Meu Deus, o Vascão está na Europa”. Só temos dimensão quando saímos da nossa zona de conforto. Nando e seu marido Victor em viagem à Europa Arquivo pessoal O nascimento de uma drag queen Nando Gald deu vida à drag queen Katrinna em 2017. A arte é mais uma forma que os vascaínos encontraram para quebrar barreiras e afirmar sua personalidade. Ela nasceu com o apoio fundamental da madrinha Andréia, que faleceu há alguns anos e não viu o sobrinho ganhar o respeito e o carinho de milhares de seguidores. Nando conta como surgiu a drag queen Katrinna – Katrina sempre existiu em mim, ela só estava esperando o momento de poder sair. Eu tinha muito medo do que as pessoas diriam. Minha madrinha sempre foi minha melhor amiga, eu disse a ela que queria me montar, que precisava colocar minha feminilidade para fora. Ela me perguntou o que eu precisava e me comprou uma peruca loira e outros acessórios. Katrina faz parte de quem eu sou – afirma a fã. + Leia mais notícias do Vasco Nando Gald deu vida à drag queen Katrinna em 2017 Arquivo pessoal Nando e sua madrinha Andréia Arquivo pessoal Nando é casado, mas seu marido Victor não é fã de futebol. É com o pai, primos e amigos que costuma ir para São Januário. Com o leque personalizado nas mãos e vestido com a camisa arco-íris, o torcedor fica “armado” para continuar conquistando corações e sendo referência. Afinal, “Vasco é diversidade”, como define Nando e conclui: – O futebol é para todos. Ele pode unir as pessoas. Não precisa haver divisão, é um lugar diversificado. O respeito deve estar sempre em primeiro lugar. Torcidas LGBTQ+ do Vasco Beatriz e Vanessa, da torcida LGBT do Vasco, destacam a importância do diálogo com os torcedores. A recepção de Nando é uma das portas abertas pela torcida LGBTQ+ do Vasco, criada há quatro anos e que vem ajudando a educar e quebrar as barreiras do preconceito em São Januário. – Antes de 2021 era inimaginável ter alguém com o estereótipo do Nando em São Januário, se sentindo bem e sendo bem tratado pela torcida. É muito bom ver que abrimos portas. Vê-lo se sentindo acolhido e seguro – diz Beatriz Abreu, uma das líderes do coletivo. Vanessa e Beatriz, da torcida LGBT do Vasco, com Nando Gald Emanuelle Ribeiro/ge O grupo conta com cerca de 100 integrantes ativos no WhatsApp, que se reúnem para assistir juntos aos jogos de São Januário. Além de ser um espaço de acolhimento e proteção, o coletivo também participa de ações promovidas pelo Vasco, ainda que essa aproximação com o clube seja limitada ao mês de junho. – Sabemos que o futebol é muito machista e machista, e é difícil para as pessoas LGBT estarem no estádio sem serem assediadas. Alguns não passam por isso porque muitas pessoas não percebem que aquela pessoa é LGBT. As pessoas pensam em violência física, mas às vezes a violência psicológica e verbal é pior. Andamos o tempo todo com o alvo nas costas, então a intenção é ficar mais perto do Vasco e nos manter seguros – comenta Beatriz. – Ficamos muito mais fortes como grupo, estamos sempre juntos cuidando uns dos outros. Isto é único. Desfrutar da liberdade é diferente. Houve uma mudança muito significativa com a criação dos leques, podendo curtir com os amigos. A única barreira que conhecemos é a do Vasco. A história do clube ajuda, não toleramos o racismo no passado. Quando o clube traz hoje essa mensagem, nos lembra das nossas origens – acrescenta Vanessa Terra, integrante da torcida. “Foi a maior festa da diversidade que já vi dentro de um estádio”: diz Beatriz, no meio da multidão. O coletivo Vasco LGBTQ+ participou, por exemplo, dos lançamentos de uniformes em apoio à causa nos últimos anos. As camisas com as cores do arco-íris foram bem recebidas pelos torcedores e ainda fazem sucesso nas arquibancadas. – A mudança de pensamento e comportamento da torcida depende do apoio do Vasco, que comprou a luta. Queremos diálogo, educação, para as pessoas aprenderem e internalizarem. Esta é a melhor maneira. O manifesto assinado pela torcida em 2022, para acabar com os gritos homofóbicos, foi ideia do Vasco. Não queremos responder à violência com mais violência, queremos responder com educação – afirma Beatriz Abreu. – Quando os jogos voltaram após a pandemia, com a camisa LGBT já lançada, ficamos com medo de como seria o retorno ao estádio. Rafael (um dos criadores da torcida) chegou assustado ao primeiro jogo e, ao entrar, olhou para o lado e havia um mar de camisas coloridas. Quando vemos uma instituição centenária, com torcidas tradicionais organizadas, deixando de lado o conservadorismo em respeito à existência das pessoas, isso torna a luta menos dolorosa – finaliza o torcedor. Ouça o podcast do GE Vasco Assista tudo sobre o Vasco no GE, Globo e SporTV:
empréstimo pessoal itau simulador
taxa juros emprestimo consignado
emprestimo bradesco cai na hora
como antecipar décimo terceiro pelo app bradesco
código 71 bolsa família o que significa
empréstimo quanto de juros
simular empréstimo fgts itau
0