Equipes de cidades pacatas da mesma região do interior de SP têm projetos semelhantes e criam uma competição saudável no topo da tabela da Segunda Liga. Relembre o último confronto entre Mirassol e Novorizontino, na Série B 2024. Foi no dia 17 de agosto de 2024 que a liderança da Série B desembarcou na região Noroeste do estado de São Paulo. E ele nunca saiu. O Mirassol venceu o Ceará na 21ª rodada e assumiu a liderança da Premier League pela primeira vez em sua história. Nas três rodadas seguintes, a liderança mudou de mãos, mas não de região. Aproveitando o tropeço do rival, o Novorizontino tornou-se o novo líder da Série B desde o dia 20 de agosto. Um ponto atrás está o Leão, segundo colocado em uma dobradinha inédita entre os dois clubes da região de São José do Rio Preto. A dupla ficou a um ponto do acesso inédito ao Brasileirão no ano passado e, em 2024, aparece mais forte do que nunca. O país poderá surpreender-se ao ver o sucesso das equipas sediadas nos dois municípios mais pequenos entre os 40 clubes das duas primeiras divisões nacionais. São 38 mil moradores em Novo Horizonte e 63 mil em Mirassol. Juntos, são 101 mil habitantes que não encheriam um Morumbi e um Maracanã do século passado. As pacatas cidades fazem parte da região de São José do Rio Preto e estão distantes 100 quilômetros uma da outra. Jogadores de Novorizontino e Mirassol comemoram gols marcados na Série B Pedro Zacchi/João Pinheiro A simplicidade da vida no interior de São Paulo é completamente oposta à ambição, estrutura, organização e planejamento de Novorizontino e Mirassol. Mesmo com público pequeno, com média de 2 mil torcedores por jogo, a dupla “da 017” – em referência ao DDD da região – enfrenta, na mesma divisão, times campeões nacionais com grande torcida. Outra lacuna em relação à maioria dos adversários da Série B é a folha salarial. O técnico do Novorizontino, Eduardo Baptista, mencionou que o clube paga oito vezes menos em salários que o Santos. Além do elenco enxuto, as equipes também compartilham o bom trabalho nas categorias de base, a longevidade dos treinadores (Mozart e Eduardo Baptista estão no cargo há mais de um ano) e a assertividade no mercado da bola. Eduardo Baptista e Mozart, treinadores do Novorizontino e do Mirassol Divulgação A rivalidade entre o “Dérbi da Selva” e o “Clássico Tião” é acirrada entre os torcedores, mas é bastante saudável entre as duas administrações. ge ouviu um representante de cada equipe e abordou temas que ajudam a explicar o sucesso do Tigre e do Leão. Com a palavra, Júnior Antunes, vice-presidente do Mirassol, e Michel Alves, diretor executivo de futebol do Novorizontino. Veja também + Tudo sobre o Novorizontino + Tudo sobre o Mirassol + Simular todos os resultados da Série B + Tabela e classificação da Série B Projetos semelhantes O discurso dos clubes parece até ensaiado. Palavras como “gestão”, “seriedade” e “responsabilidade” são algumas das mais ouvidas lado a lado. Diretor executivo de futebol do Novorizontino, Michel Alves Gustavo Ribeiro/Novorizontino Nas duas equipes, esses são os pilares do trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos anos, como explicam os homens fortes do futebol nos dois clubes. Eles até admitem admiração mútua. – Acho que o trabalho feito tanto no Novorizontino quanto no Mirassol há muito tempo deve ser muito valorizado. Não tomo isso pelo lado da rivalidade, mas sim como uma referência de estrutura. Mirassol conta com todo o seu investimento, seu CT e isso para nós também é motivo de reconhecimento. Ter duas equipes do interior paulista se preparando, se projetando para um cenário de competições importantes é motivo de orgulho para os torcedores. E uma referência para o mundo do futebol – explica Michel Alves. – A gestão é parecida e séria. Todas as decisões são sempre a favor do clube e principalmente com a gestão de longo prazo, além do amor envolvido pelas instituições – acrescenta Júnior Antunes. Júnior Antunes, vice-presidente do Mirassol Divulgação Escolha criteriosa das peças Não é preciso ser fanático por futebol para ver rostos conhecidos ao assistir a uma partida entre Mirassol ou Novorizontino. Léo Gamalho marcou na estreia pelo Mirassol Felipe Modesto/Agência Mirassol FC Do lado do primeiro estão nomes como os goleiros Alex Muralha e Vanderlei, o lateral Zeca e o atacante Léo Gamalho. Alguns deles até jogaram pela Seleção Brasileira. Entre os vestindo amarelo e preto estão o atacante Lucca (ex-Corinthians e Fluminense), o zagueiro César Martins (ex-Flamengo), o goleiro Jordi (ex-Vasco) e, claro, o técnico Eduardo Baptista, que passou por Palmeiras, Flu e Atlético Paranaense. Lucca comemora gol pelo Novorizontino Pedro Zacchi/AGIF A formação dos elencos, nos dois clubes, segue critérios rígidos, mas curiosamente diferentes. No Mirassol, o “combo” de história e fisiologia é o que determina a escolha dos reforços. – O Mirassol é um clube que precisa ser muito seletivo na escolha dos atletas, pois trabalha com um elenco enxuto e, por isso, todos os jogadores são importantes. A escolha é sempre feita em conjunto com a comissão técnica, levando em consideração o histórico dos jogadores. Contamos com a ajuda da gestão de desempenho (fisioterapia + fisiologia + nutrição) e conseguimos preservar o físico dos atletas para ter um baixo índice de lesões. Um atleta que tem como princípio vencer e crescer no futebol encontrará no Mirassol a melhor estrutura física para melhorar seu desempenho – garante o vice-presidente do clube. No Novorizontino, Michel Alves e Eduardo Baptista dão preferência a jogadores que se encaixem no estilo de jogo do treinador. A dupla trabalha junta no clube desde o final de 2022 e parece estar em sintonia e certeira tanto na hora de montar o elenco quanto na busca por possíveis peças de reposição. – Procuramos atletas de acordo com o sistema de jogo da nossa comissão técnica e a forma como Eduardo Baptista entende o futebol. Trabalhamos com atletas com esse perfil. Abordamos isso de forma dinâmica, buscando sempre antecipar movimentos. Ainda assim, temos 70% a 80% de atletas com contratos mais longos para manter a base. Foi o que fizemos em 2023 e, neste ano, muitos jogadores permaneceram. E assim será em 2025, sempre pensando no futuro. Novorizontino x Mirassol, Série B 2024 Pedro Zacchi/AGIF E a rivalidade? Como poderia ser com duas equipes próximas em localização, projeto, momento e disputando as mesmas competições, a rivalidade existe. Tanto que é comum ver banners provocativos e constantes afirmações de “O Maior de 017”. Entre as administrações, porém, o clima é amigável e até de apoio mútuo. – A rivalidade entre as cidades e a torcida existe, mas entre as diretorias o clima é de respeito e amizade. Esperamos pelo sucesso do Novorizontino, pois seria fundamental para a região. Além da distância, há admiração pelas pessoas que ali trabalham pela seriedade com que tratam o futebol. E esperamos que no final do ano possamos comemorar juntos nossos objetivos – afirma Júnior Antunes. Fabrício Daniel, do Novorizontino, é observado por Negueba, do Mirassol Pedro Zacchi/AGIF O diretor de futebol do Novorizontino também acredita que, no atual nível alcançado, o sucesso de um time serve de incentivo para o outro, e prefere deixar o aspecto de rivalidade pelo campo. – São duas equipes que vêm tendo um bom desempenho no campeonato estadual, vêm se preparando de forma estrutural, com uma gestão profissional e responsável. Acho que um acaba sendo um estímulo para o outro. Não no sentido de rivalidade, pois cada um tem a sua forma de trabalhar e entender o futebol. Mas uma coisa é muito clara: são duas equipes muito organizadas, muito responsáveis em todas as suas ações financeiras, respeitando os profissionais e valorizando o que está sendo feito – finaliza Michel Alves.
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