Thalisson era motoboy quando recebeu uma ligação para jogar na 6ª divisão croata. Mudou-se para a Eslovênia, foi contratado por um dos maiores clubes do país e torce pelo time da Euro Veja o gol de Thalisson na final da Copa da Eslovênia A Eslovênia já fez história nesta edição da Eurocopa ao conseguir uma classificação inédita para a oitavas de final. Nesta segunda-feira, às 16h (horário de Brasília), o confronto será com Portugal de Cristiano Ronaldo, pela vaga nas quartas de final. Um brasileiro será torcedor da seleção eslovena: Thalisson, de 25 anos, recentemente contratado como reforço do Olimpija Ljubljana, um dos principais clubes do país. + Veja mais notícias do futebol internacional Não será a primeira experiência de Thalisson na Eslovênia. Desde agosto de 2021, ele jogava pelo Rogaska e encerrou sua passagem pelo clube marcando o gol do time na final da Copa da Eslovênia de 2023. O jogo foi para a prorrogação e terminou em 1 a 1 com o Gorica, após 0 a 0 no tempo normal, e o título foi conquistado com vitória por 6 a 5 nos pênaltis. + Do jiu-jitsu ao futebol no Newcastle: conheça o filho de brasileiros no radar da seleção inglesa Thalisson relembra o ano em que quase desistiu do futebol Para chegar a esse ponto da carreira, Thalisson viveu uma série de experiências e desafios. Começou a carreira no futebol na escola do Cruzeiro-DF, em Brasília. De lá, foi para as categorias de base do Vila Nova-GO. No entanto, ele deixou o clube após uma série de atrasos salariais e considerou desistir do futebol. + Filho de Seedorf, Denzel escreve sua história na academia do Milan e espera jogar pelo Brasil no futuro – fiquei um ano sem jogar. Não aguentava ficar olhando a bola, não queria brincar com meus amigos. Fiquei quatro ou cinco meses em casa, pensando no que iria fazer, depois mais seis meses desempregado. Foi a pior fase da minha vida. Minha mãe não entendia, também era o sonho dela. Meu pai disse que a escolha foi minha. Quando consegui um emprego, o Jaime (Corso, presidente do Legião-DF) veio conversar comigo sobre a volta ao futebol. Falei que tinha que participar porque precisava ajudar minha família, e foi assim que aconteceu – disse Thalisson, em entrevista ao ge. + Filho do ex-astro do futsal e camisa 10 da Roma: conheça Pietro, promessa compartilhada entre Itália e Brasil Thalisson, brasileiro do Olimpija Ljubljana Infoesporte Neste duplo turno, Thalisson trabalhou como sushiman, lavando louça e como motoboy. A Legião não pagava salários. Pelo clube, teve a oportunidade de disputar a Copa São Paulo de 2019, quando disputou quatro partidas, chegando ao primeiro mata-mata, caindo diante do Athletico-PR. + Com 101 gols nos últimos 56 jogos, Giovanna Waksman, ex-Botafogo, tem um objetivo nos EUA: “Ser a melhor do mundo” – entreguei meu currículo, precisava da vaga. Em duas semanas já sabia fazer tudo (como sushiman). Mas Deus sempre colocou o futebol perto de mim. Eles me demitiram por nada. No Outback, depois de dois meses sendo um dos melhores, o técnico viu que eu chegava 10 ou 15 minutos atrasado por causa do futebol e me mandou embora, dizendo para eu focar no meu sonho. Fiquei em choque na hora e só depois entendi que eram planos de Deus colocar o futebol no meu caminho – disse ela. + Brasileiro é destaque na seleção feminina sub-12 que venceu o torneio masculino da Inglaterra Thalisson fala sobre suas experiências como sushiman e lavador de pratos E foi trabalhando nas ruas como motoboy que recebeu o telefonema mais importante de sua carreira vida até agora. + Veja a tabela da Eurocup – Eu estava em uma entrega de motoboy à noite, Jaime me ligou: “Koala (apelido do Thalisson), apareceu uma oportunidade de jogar na Croácia. Lá faz frio, tem algumas situações, e o único jogador é você que vai lá e vencer, porque você é um guerreiro.” Ele conhecia minha história. Agarrei, não consegui largar – disse Thalisson. Mas os problemas não acabaram. Contratado para jogar na sexta divisão da Croácia, pelo Sloboda Varazdin, Thalisson teve que se virar. O clube pagou o apartamento que o jogador dividia com Alessandro, outro companheiro de seleção brasileiro, e uma bolsa para compras de supermercado. Ele conseguiu um emprego em uma garagem e lavou carros para complementar sua renda. – O estádio lá é grande, pois é um time da segunda divisão que acabou na sexta por má gestão. Cheguei sem saber inglês, sem saber nada, foi muito legal, fiz amigos croatas que traduziram tudo pelo telefone. Treinavam apenas duas ou três vezes por semana, mas o estádio estava aberto e eu treinava todos os dias. Entrei na oficina às oito da manhã e saí às três da tarde, de segunda a sexta. Quando eu tinha treino, comecei aos seis, fui empurrado, ficava o dia todo em pé lavando o carro, mas era isso que eu queria para minha vida. Eu o abracei e estava mentalmente forte, explicou ele. Thalisson explica dificuldade na sexta divisão da Croácia A proximidade dos países da ex-Iugoslávia fez com que Thalisson fosse notado por Rogaska. Ele chegou quando o clube ainda estava na segunda divisão da Eslovênia. Em 2021/22, ficaram na quarta colocação. Na temporada seguinte, conquistou o título da segunda divisão e subiu à elite nacional. Em 2024, não só evitou a queda, como também terminou campeão da Copa da Eslovênia, da qual participam todos os clubes do país. – Marquei gols nas oitavas de final, nas quartas de final e na final. Foi maravilhoso, sinto uma felicidade dentro de mim”, disse. – Mas a grande festa foi o título da segunda divisão. Ninguém esperava por isso. Estávamos vindo de terceiro, numa temporada fomos quarto, depois campeão e vamos para primeiro. Tem vídeo da gente chegando com os bombeiros, cinco mil pessoas esperando, a cidade toda no estádio. Fizemos história. Por onde passo na cidade tem criança querendo uma foto, como se fosse um ídolo, alguma coisa do futebol que só o trabalho duro retribui. É muito gratificante. Thalisson com o troféu de vencedor da Taça da Eslovénia Luka Sket/Rogaska Esta relação com a Eslovénia tornou-se ainda mais intensa quando Thalisson conheceu a sua namorada Nika, que é eslovena, fala espanhol e está a aprender português. No final do ano, ele espera viajar de férias ao Brasil para apresentar sua família (os pais Charles e Juliane, e as irmãs Jhully, Thyelen e Maria Clara) que moram em Brasília. – Meu pai é capataz, minha mãe é dona de casa. Não sobrava muito dinheiro para o futebol, mas meu pai fez o que pôde para me ajudar. Eu entendo. As coisas no Brasil são muito mais difíceis. Meu grande sonho no futebol é dar uma casa para minha mãe e, no próximo mês, poderei fazer isso. Tudo o que vem até mim é lucro. O que me deu forças para passar por tudo que passei foi ajudar minha família – disse o jogador, que é de Montes Claros, mas viu o pai se mudar para Brasília em busca de melhores condições de trabalho ainda criança. Antes de levar a namorada para visitar o Brasil, Thalisson apoiará a Eslovênia. Ele entende que a boa campanha do time no Europeu pode beneficiar o futebol do país. – Estou feliz pela minha namorada, pela família dela. Eles são todos fãs fanáticos. É bom para o futebol esloveno. Isso mostra que também tem um pouco de qualidade. Já faz um tempo que não chega lá e agora conseguiu a classificação. Isso é muito bom. Como jogador, isto é bom para mim e para os meus amigos eslovenos, disse ele. Thalisson detalha passagem pela Croácia e transferência para a Eslovênia Camisa 10 da Eslovênia, Elsnik também é jogador do Olimpija e será companheiro de equipe de Thalisson nesta temporada, a menos que seja negociado na janela de transferências após a Eurocopa. O brasileiro já teve a chance de enfrentá-lo no Campeonato Esloveno. – Nunca tive contato com ele, apenas quando joguei contra ele. Quando cheguei, ele já estava com a equipe. Ele está no grupo, ontem teve mensagem do diretor para ele, é muito legal. Eles me fizeram sentar ao lado dele no vestiário. Aí está a foto dele, que é uma inspiração a mais, de poder fazer história, de poder jogar bem para continuar, de fazer uma boa transferência – disse Thalisson. Olimpija vai competir na Conference League na próxima temporada. A equipe entra em campo pela segunda fase de mata-mata no dia 25 de julho, contra o Polissya Zhytomyr, da Ucrânia. Por enquanto, Thalisson atuou no segundo tempo da vitória por 2 a 0 sobre o Gloria Buzau, da Romênia, na última quarta-feira, e volta a campo para mais um amistoso contra o Sarajevo, da Bósnia e Herzegovina, na quarta-feira. Thalisson no início de sua trajetória no Cruzeiro-DF Arquivo pessoal
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