Se por um lado a conquista aumentou as receitas, por outro os custos do futebol dispararam e contribuíram para que a dívida aumentasse por mais um ano. Quando o São Paulo conquistou a Copa do Brasil, no ano passado, notícia obrigatória em toda a imprensa era sobre o prêmio conquistado —R$ 88 milhões, a maior parte garantida apenas com a vitória na final. Só depois de alguns meses você se pergunta: essa conta vai fechar? Do ponto de vista desportivo, obviamente sim. É para isso que existe um clube de futebol; vencer competições. Financeiramente, o cálculo é um tanto decepcionante. Entra mais dinheiro por um lado, mas sai mais por outro, na partilha do prémio com o elenco e em custos adicionais. Esse é o exercício que São Paulo permite fazer através de suas demonstrações financeiras. É verdade que a sua receita aumentou em 2023, com mérito. Também é verdade que o seu custo disparou, assim como a sua dívida. As dificuldades financeiras ainda são evidentes no Morumbis. Para facilitar o entendimento dos torcedores sobre a situação, o ge se baseia no estudo produzido pelo economista Cesar Grafietti, da consultoria Convocados. O especialista também gravou 13 episódios do podcast Dinheiro em Jogo, para analisar individualmente as contas dos clubes. + Ouça a análise das finanças de São Paulo As finanças de São Paulo Infoesporte Rating Os ratings foram atribuídos pela Grafietti, da consultoria Convocados, com base nas demonstrações financeiras dos últimos 12 anos. O conceito é utilizado no mercado de capitais para classificar empresas: a partir da combinação de uma série de métricas, é gerado um score. No caso do rating de futebol, o especialista considera elementos como receitas, custos, EBITDA, investimentos e valores a pagar a bancos, entidades, agentes, fornecedores, parcelamentos, etc. Rating São Paulo: C Receitas e custos Em 2023, a receita de São Paulo aumentou e atingiu R$ 669 milhões. Os prêmios estão contidos em direitos de transmissão. A final da Copa do Brasil também movimenta receita de bilheteria, torcedores parceiros e estádio. A queda na venda de atletas atrapalhou. As despesas com pessoal — que incluem salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem — dispararam entre 2022 e 2023, enquanto as despesas administrativas do clube também aumentaram. Na soma de ambos, o São Paulo teve um custo de R$ 576 milhões na temporada. Julio Casares, presidente de São Paulo Felipe Ruiz Dívidas e alavancagem Em 2023, a dívida de São Paulo aumentou para R$ 856 milhões. O valor é dividido entre dívidas bancárias (R$ 226 milhões), tributos e convênios (R$ 258 milhões) e dívidas operacionais (R$ 376 milhões), que estão vinculadas a compromissos presentes, do próprio ano tricolor. O cálculo da dívida de Grafietti inclui tudo o que deve ser desembolsado, exceto o que está disponível em dinheiro. As provisões para contingências (para ações judiciais em andamento) podem aumentar os valores devidos em casos de clubes contestados. Por outro lado, é possível que o clube tenha valores a receber pelos direitos dos jogadores que vendeu, ou de patrocinadores e parceiros comerciais, o que acaba por facilitar o pagamento da dívida no curto prazo. No gráfico abaixo, o Convocados mostra a “alavancagem” do clube, ou seja, a comparação entre receita e dívida. Quanto menor o número, menos alavancada está a entidade — o que indica que há condições favoráveis para novos investimentos em atletas, infraestrutura, bases, etc. Geração de caixa e investimentos EBITDA: R$ 93 milhões (positivo) Investimento base: R$ 34 milhões Investimento nas contratações: R$ 77 milhões Investimento em infraestrutura: R$ 11 milhões EBITDA é a diferença entre receitas e custos, antes de descontados juros, depreciação e amortização. Menos complicado do que a sigla faz parecer, indica a saúde financeira do negócio. E, no caso de São Paulo, o número positivo mostra que o ponto de partida é favorável. A situação só se torna incômoda porque a geração de caixa é insuficiente para cobrir tudo: investimentos e pagamentos de dívidas, além de juros, depreciação e amortização. Os juros, inclusive, consumiram R$ 77,5 milhões em 2023 —valor que poderia ter sido usado no futebol. @rodrigocapelo
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